Um passo em falso e a censura mostra os dentes – Lino Bocchini: AGORA/ÁGORA

25/07/2011

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

25/07/2011

 

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Foto capa: Eliza Capai/Divulgação-Revista Trip

Economia criativa e direito autoral. É este o recheio do talkshop que movimenta a semana do Agora/Ágora – aquele projeto legal que vem dando um mexe no mundo artístico da capital gaúcha. Como de costume, os debatedores são do mais alto escalão. Entre eles, está Lino Ito Bocchini, redator-chefe da revista Trip, criador do site fAlha de S.Paulo – pelo qual foi processado por uso indevido de marca – e o primeiro jornalista brasileiro a entrevistar Julian Assange, criador do famoso WikiLeaks.

Censura, advogados, WikiLeaks, bom humor. Foi aí que a gente soube que o papo com Lino ia render um bom caldo. E rendeu.

Quer conversar com ele também? Basta pintar no Santander Cultural de Porto Alegre nesta terça, dia 26. A partir das 10h, o talkshop já está pegando fogo. E o melhor? O papo é como uma boa conversação deve ser: de graça.

Lino, “Falha de S. Paulo”? O que foi a causa de tanta polêmica?

Era um blog de crítica bem-humorada ao jornal Folha de S.Paulo, que fazia uma paródia ao seu nome, conteúdo e direção. Abusávamos de fotomontagens e da crítica ácida, sempre com textos curtos e pisando no calo da direção do jornal.

Qual foi o estopim para sua criação? Como surgiu a ideia?

A ideia surgiu em setembro do ano passado, na época da campanha, como uma reação divertida ao partidarismo exagerado da Folha, que sempre batia no peito para dizer ser imparcial – mas claramente defendia uma candidatura. Como já existiam muitos sites que faziam críticas à grande imprensa de forma sisuda e com textos longos, resolvemos ir por outro caminho, pela chacota bem feita, criticando e indo direto no fígado. Pelo jeito funcionou, já que eles entraram na Justiça para nos censurar com menos de um mês no ar…

Sergio Dávila, Editor Executivo da Folha, falou que eles não estavam censurando o “Falha”. Qual foi a tua reação ao ver isso?

Primeiro, é mentira, a Folha está nos censurando sim. Conseguiram uma liminar que tirou nosso site do ar, e isso é censura. Não adianta querer esconder. Mas acho bastante normal a posição dele de querer esconder isso. Uma pessoa só chega ao maior cargo de uma corporação tão grande e antiquada como a Folha acreditando em valores ultrapassados, como direitos autoriais e copyright, defesa de marca, direito industrial e outros conceitos que, na verdade, encobrem o que ele próprio e os irmãos Frias (Otavinho e Luís) no fundo acreditam: Liberdade de expressão é bom só da boca pra fora, desde que não incomode o negócio deles.

Mas chamar de “problema de marca” é o correto? Nesse caso, não é só um jeito “carinhoso” de chamar “censura”?

Eles usam o termo “uso indevido de marca”, mas sempre falamos que isso é apenas uma forma de mascarar a censura. Esse expediente da Folha ficou evidente quando a MTV usou o mesmíssimo logotipo da Falha por três vezes em um episódio do programa Comédia MTV. O problema é o seguinte: no processo do jornal contra nós eles falam que não há problema algum com o conteúdo do antigo site, mas sim com o uso do logo e do projeto gráfico parecidos. Pois bem, a MTV usou o logo da Falha, com o mesmo objetivo (paródia). Reprisou o programa 3 vezes e agora mantém ele em seu site oficial. Pior: tudo com fins lucrativos (sendo que nós nem banner de propaganda tínhamos). E veja só que curioso: apesar de cometer exatamente o mesmo “crime”, a Abril (dona da MTV Brasil) não foi processada pela Folha…

Tu achas que a imprensa brasileira constitui uma espécie um monopólio?

Não é monopólio porque isso significaria dizer que ela é dominada por uma única empresa. Mas ela ainda é dominada por um grupo pequeno de grandes grupos e famílias, sem dúvida. E não há o menor sinal, de nenhum governante (nem oposição), de querer mudar nem um centímetro dessa realidade. Para nossa sorte, a internet e algumas outras iniciativas como as rádios comunitárias estão se encarregando de ir comendo pelas bordas dessa realidade sem pedir licença.

Acha que isso tudo teria acontecido se vocês tivessem tirado sarro de uma empresa menor?

Dificilmente teríamos sofrido uma reação tão violenta e conservadora se tivéssemos criticado uma empresa menor. Mas nossa intenção declarada era criticar o maior jornal do Brasil, e é importante que seja assim. E é importante que mais gente faça isso.

Como anda o processo movido pela Folha de São Paulo contra vocês?

Está tramitando em primeira instância. Tentamos derrubar a liminar que mantém nosso site fora do ar e não conseguimos. Na quarta-feira, dia 27 de julho, completamos 300 dias sob censura. Caso eu e meu irmão sejamos derrotados na Justiça, seremos obrigados a pagar uma indenização em dinheiro para a Folha por “danos morais”.

A manipulação de informação está em voga como nunca com os novos escândalos do Rupert Murdoch. Como você vê essa manipulação feita em prol de anunciantes e alianças políticas? E outra: quem é jornalista sabe bem que isso existe por aí, mas você acha que o público tem senso crítico diante de todas as informações que ele absorve da imprensa? E se tem, faz alguma coisa?

Acho que a maioria do público não sabe da relação condenável entre editorial e comercial nas redações e muito menos da relação ainda mais condenável entre donos de meios de comunicações e políticos. Claro que não existe jornalismo imparcial e apartidário, mas a imprensa poderia pelo menos parar de querer enganar as pessoas dizendo que existe. E, quanto mais assumida for sua posição política, melhor e mais honesto com o leitor. Aí faço um elogio, por exemplo, para a postura do Estadão, que tem claramente as mesmas preferências políticas que a Folha, mas ao contrário do jornal dos Frias foi mais corajoso e honesto com seu leitor e assumiu em editorial que apoiava a candidatura de José Serra.

Tu chegou a entrevistar o Julian Assange, criador do WikiLeaks. Situando o “Falha” como um “Mini WikiLeaks”, vem a questão: qual é o sentido, a importância de veículos que apontem esse tipo de manipulação da informação? E até que ponto esses sites podem levar a uma mudança?

Quem me dera o Falha ter 1% da importância do Wikileaks… a importância de um site como o criado por Julian Assange é vital, principalmente em um momento como o atual, em que governos e empresas estão cada vez mais querendo disfarçar suas práticas e posar de bons moços, transformando extorsão de funcionários em “flexibilização de direitos trabalhistas” e discursos picaretas de marketing em “desenvolvimento sustentável”, entre outras mentiras corporativas que estão levando o mundo para o buraco. Nesse cenário, nada melhor que um site como o WikiLeaks para expor as entranhas do sistema.

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25/07/2011

Revista NOIZE

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