Listão | Nossos discos favoritos de 2019

19/12/2019

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: NOIZE

19/12/2019

Considerando que acontece em doze meses, fazer uma retrospectiva do ano que passou sempre é um desafio enorme. No entanto, aconteça o que acontecer, também é reconfortante lembrar que a música não para e que novos discos nascem o tempo todo prontos para se tornar a trilha sonora de nossas vidas.

Musicalmente falando, 2019 foi um ano incrível. Vimos nomes novos surgirem e se tornarem gigantes, vimos artistas lendários ressignificarem suas carreiras e, acima de tudo, vimos o cenário se tornar mais diverso e plural.

*

Incompleta por essência e atravessada pelo duelo insolúvel entre os argumentos e os sentimentos, a razão e a emoção, a listagem abaixo não se propõe a ser definitiva, mas sim um mapeamento do que de mais importante saiu no ano. Confira nossa lista com os discos nacionais e internacionais que mais nos marcaram em 2019.

TOP 30 DISCOS NACIONAIS

30. Francisco, el Hombre
RASGACABEZA

29. Alessandra Leão
Macumbas e Catimbós

28. Zudizilla
Zulu Vol.1: De Onde Eu Possa Alcançar o Céu Sem Deixar o Chão

27. Boogarins
Sombrou Dúvida

26. Drik Barbosa
Drik Barbosa

25. Terno Rei
Violeta

24. Jaloo
ft. (pt. 1)

23. YMA
Par de Olhos

22. Lia de Itamaracá
Ciranda Sem Fim

21. Luisa e os Alquimistas
Jaguatirica Print

20. Tássia Reis
Próspera

19. Iconilli
Quintais

18. Nomade Orquestra
Vox Populi, Vol. 1

17. Djonga
Ladrão

16. Elza Soares
Planeta Fome

15. Jorge Mautner
Não há abismo em que o Brasil caiba

14. Liniker e os Caramelows
Goela Abaixo

13. Karina Buhr
Desmanche

12. Livia Nery
Estranha Melodia

11. Jards Macalé
Besta Fera

10. Emicida
AmerElo

9. O Terno
<atrás/além>

8. Saskia
Pq

7. Siba
Coruja Muda

6. Céu
APKÁ!

5. Rincon Sapiência
Mundo Manicongo: Dramas, Danças e Afroreps

No segundo disco de estúdio do rapper e poeta paulistano, a centralidade está na dança. Rincon faz resistência a partir da celebração: o corpo que ginga, que rebola e que mexe é o conector de uma linha ancestral que vem desde os rituais seculares das tradições do continente africano, passando pelo break, um dos pilares do Hip Hop, e os passinhos que tomam conta das periferias do Brasil. À frente da produção, na companhia dos beatmakers MazBeats e ESIL BEATS, ele constrói uma trama multicultural que bebe de tudo que você possa imaginar. Com temas eletrônicos, a sonoridade é quase que poligâmica, evocando pagodão baiano,  funk br, afrohouse, afrobeat, grime inglês e dundunbe. Os versos e linhas de Rincon continuam impecáveis, surpreendentes e carregados do gingado que as batidas pedem. Com participações de Mano Brown, Lellê, Rael, ATTOOXXA, Duquesa, Audácia e Gaab, o álbum é um convite a uma descolonização dos corpos que não começa pelo intelecto e é uma homenagem aos sons e movimentos periféricos que fazem da escassez linguagem e driblam as táticas da necropolítca dia após dia. 
Brenda Vidal

4. MC Tha
Rito de Passá

Dos terreiros aos bailes funks, MC Tha é subversão e potência. Nome que já conquistava views do Youtube com a instigante estética audiovisual e sonora dos singles “Bonde da Pantera” e “Pra Você”, Tha já demonstrava que não devia ser nivelada por baixo. Seu álbum de estreia, Rito de Passá, teve a força para projetá-la como um dos nomes mais interessantes do ano. Carregado de versatilidade e precisão, o disco se comporta como um globo espelhado que em cada pedaço reflete uma nova faceta. Guiado pelas experiências intimistas da compositora e cantora – desde a vulnerabilidade no mundo dos afetos, passando pela fé e alcançando pedidos despudorados carregados de tesão -, a estreia é uma leitura destemida e vanguardista do que também é a música brasileira. Com o toque de Pedrowl e Jaloo na produção, experimentam-se sonoridades do funk e de ritmos regionais. Afetividade, espiritualidade, prazer, doces melancolias e reconciliações. MC Tha pede licença para começar os trabalhos, cobra tudo o que devem a ela e ocupa seu lugar de protagonismo entre mantras de banimento e chamados para rebolar a raba.  
Brenda Vidal

3. Ana Frango Elétrico
Little Electric Chicken Heart

Depois do frescor surpreendente de Mormaço Queima (2018), Ana Frango Elétrico volta para amenizar tempos sombrios com Little Electric Chicken Heart, um aprofundamento na ótica criativa, assustadoramente livre e totalmente desapegada de critérios banais ou senso comum. Desde o início atmosférico de “Saudade”, a voz de Ana logo causa uma confortável estranheza, criando melodias inspiradas com a mesma facilidade com que varia da inocência e doçura para a acidez e o sarcasmo. Sua banda navega em perfeita sintonia com ela, criando linhas viscerais e técnicas que conseguem representar musicalmente a mesma variação de intenções da sua ousada e imprevisível líder. Com 29 minutos que mais parecem 5, destaque para as obras-primas “Promessas e Previsões”, “Se No Cinema”, “Tem Certeza?” e “Torturadores”, que trazem um combo de pérolas do seu caleidoscópio lírico, como o conceito de um cinema com cheiro de cor de sexo, ou frases do tipo “vai ficar com amigdalite de tanto chorar nos ônibus com ar-condicionado”. Ana vai da Tropicália e do samba ao alt rock e à psicodelia moderna sem pudor e com muita personalidade, rendendo o terceiro melhor disco nacional (e o melhor internacional, rs) do ano. 
Rodrigo Laux

2. BaianaSystem
O Futuro Não Demora

Se Duas Cidades (2016) apresentou a banda para o público nacional, O Futuro Não Demora veio para firmar o ponto e consolidar o BaianaSystem como um dos acontecimentos mais importantes da história recente da música brasileira. A síntese estética proposta desde o início do grupo segue ali: a guitarra baiana continua sendo ressignificada por Beto Barreto ao mesmo tempo em que Russo Passapusso cria pontes entre as poéticas da Jamaica e do sertão nordestino. O resto da banda segue misturando reggae, pagodão baiano, rap, rock, música eletrônica e o que mais pintar. Porém, algo mudou. Enquanto o disco anterior era muito enérgico, O Futuro Não Demora abre mais brechas e respiros e apresenta uma noção de tempo menos acelerada (sem perder a veia de contestação que está no DNA da banda). Aqui, tem hora pra pipocar no fervo, mas também tem hora pra contemplar um mantra; hora de fritar com os beats de um ijexá sintético e hora de mergulhar no compasso de um berimbau até o fundo do fundo do mar. Contando com as participações de Manu Chao, Antonio Carlos e Jocafi, Curumin, BNegão, Edgar, Orquestra Afrosinfônica, Samba de Lata de Tijuaçu, Lourimbau e Vandal, é um álbum que requer uma escuta presente para ser absorvido, mas que serve de passaporte para uma viagem ao centro da Terra.
Ariel Fagundes

1. Black Alien
Abaixo de Zero: Hello Hell

Como um Ícaro do rap nacional, Black Alien voou perto demais do Sol e se queimou. Após anos de excessos – no melhor e no pior sentido do termo – ao lado do ex-parceiro Speed, do Planet Hemp, como convidado de muitos nomes da música brasileira e também em carreira solo, Alien sempre foi tido como um dos maiores (se não o maior) do rap brasileiro, mas quanto mais alto se está, maior a queda. Depois do clássico Babylon By Gus – Vol. I: O Ano do Macaco (2004), houve uns anos de afastamento e seu segundo disco solo, Babylon By Gus – Vol. II: No Princípio Era o Verbo (2015), marcou o início da volta por cima, mas foi só em Abaixo de Zero: Hello Hell que Alien chegou lá. Com a parceria do produtor Papatinho, o rapper fez um disco confessional e denso, expondo sem meias palavras seu processo de luta contra o vício e o reaprendizado de compor, ainda assim, o álbum soa leve, dançante e contemporâneo. O resultado foi um disco capaz de honrar o legado de sua “lírica Bereta” e ainda cativar uma nova geração de ouvintes. Distante das fórmulas prontas do rap, Alien e Papato criaram um som original que se mostrou a base perfeita para as rimas afiadas do Mr. Niterói. Viciante, Abaixo de Zero: Hello Hell foi a melhor surpresa de 2019, um disco irretocável do início ao fim que já nasceu com aura de lenda.
Ariel Fagundes

TOP 30 DISCOS INTERNACIONAIS

30. James Blake
Assume Form

29. Danny Brown
U Know What I’m Sayin?

28. Blood Orange
Angel’s Pulse

27. SASAMI
SASAMI

26. FAZER
NADI

25. Steve Lacy
Apollo XXI

24. Raphael Saadiq
Jimmy Lee

23. Lizzo
Cuz I Love You

22. Chance the Rapper
The Big Day

21. Flying Lotus
Flamagra

20. Kanye West
Jesus Is King

19. Tyler, the Creator
Igor

18. Helado Negro
This Is How You Smile

17. Sharon Van Etten
Remind Me Tomorrow

16.Cate Le Bon
Reward

15. Earl Sweatshirt
Feet of Clay

14. Maria Usbeck
Envejeciendo

13. Denzel Curry
ZUU

12. SiR
Chasing Summer

11. Anderson Paak
Ventura

10. Angel Olsen
All Mirrors

9. Maxo Kream 
Brandon Banks

8. Nilüfer Yanya
Miss Universe

7. Brittany Howard 
Jaime

6. Kim Gordon  
No Home Record

5. Kaytranada
Bubba

Anunciado no dia 9/12 e lançado apenas quatro dias depois, o álbum sucessor do aclamado 99,9% (2016) chegou atropelando posições e alcançando um lugar no topo da lista de melhores do ano. Ao longo dos seus 50 minutos de duração, o segundo disco do produtor canadense mostra que foi pensado para ocupar uma pista, entregando ao ouvinte um set de DJ pronto, redondinho do início ao fim. A proposta aqui é buscar intersecções originais entre o house, o soul, o neo-soul, o R&B, o rap e a música pop, e Kaytranada não está sozinho nessa. Ao seu lado estão artistas como o gigante Pharrell Williams, a diva colombiana Kali Uchis, os rappers SiR, GoldLink e Mick Jenkins, o músico e produtor Masego, a dupla nigeriana VanJess, a canadense Charlotte Day Wilson, e ainda Teedra Moses, Estelle, Iman Omari, Eight9fly, Ari PenSmith e Durand Bernarr. Com uma narrativa dinâmica que não deixa o ouvinte desviar a atenção, Bubba é daqueles discos que engatam uma track na outra e não permitem que você dê um pause. Talvez possa ser considerado um álbum mais “fácil” que 99,9% (que pode ser lido como mais experimental), mas no fim das contas isso não é demérito algum, pelo contrário: Bubba é fácil porque é difícil não gostar dele. Expressando um refinado faro para os timbres e aquele traquejo para soltar faixas que só tem quem já viveu muito a experiência de comandar festas, Kaytranada deu ao mundo um presente de fim de ano e garantiu a trilha das suas próximas noites.
Ariel Fagundes

4. Jamila Woods
LEGACY! LEGACY!

No mês de maio, os nossos ouvidos foram presenteados pela mensagem política e poética de Jamila Woods em LEGACY! LEGACY!. Com as 13 faixas do álbum, a cantora presta homenagens e faz referências a alguns de seus maiores heróis, mencionando-os no título de cada música sem fazer distinção de etnia, gênero ou recorte temporal-geográfico. Só para citar alguns: são personalidades como Betty Davis, Zora Neale Hurston, Frida Kahlo, Muddy Waters, Basquiat e James Baldwin – que, com suas ideologias e lutas, inspiraram Jamila na criação de um trabalho redondinho. É um disco que dá a continuidade perfeita para a obra da artista que foi iniciada lá em 2016, com o debut HEAVN, e que facilmente pode ser considerado uma aula de humanidade ou de história em que se aprende ouvindo R&B. As músicas, no entanto, não são como biografias flutuantes sobre cada uma dessas pessoas… elas criam atmosferas completas, parecidas com retratos cheios de alma. A força dos versos você pode imaginar a partir dessa linha que ela canta em “Zora”, a segunda faixa da tracklist: “None of us are free, but some of us are brave”. E “bravura” é algo que Jamila tem como poucos.
Tássia Costa

3. Billie Eilish
When We All Fall Asleep, Where Do We Go?

Depois de nomes como Lorde, Lana Del Rey e Melanie Martinez, Billie é a mais recente cantora pop adolescente que chama a atenção do mundo inteiro com músicas mais sombrias do que as que são esperadas do clichê da cantora pop adolescente. Talvez seja cedo para afirmar com certeza, mas, a julgar por seu disco de estreia, Billie Eilish de fato não opera nos clichês. Produzido por seu irmão mais velho e parceiro musical, Finneas O’ConnellWhen We All Fall Asleep, Where Do We Go? cativa justamente pelo que traz de diferente, seja nas letras, seja nos beats ou mesmo na imagem de Billie. A começar pela capa, preta e com uma foto da cantora como se estivesse possuída, o disco traz uma aura constantemente obscura, mesmo quando é dançante (“My Strange Addiction”) ou fofo (“8”). De alguma forma, é como se Billie se valesse das ferramentas de timbres e ritmos da música pop, tão familiares aos ouvidos treinados pelo mainstream, para fazer um álbum de música experimental. A construção dos arranjos é assustadoramente sólida e, a cada faixa, você se depara com uma surpresa – músicas como “Xanny” e “Bad Guy” merecem ser ouvidas com fones, prestando atenção na riqueza de camadas sonoras e dinâmica do som. Em meio a um discurso ora desaforado (I’m that bad type / Make your mama sad type / Make your girlfriend mad type / Might seduce your dad type) ora confessional (My Lucifer is lonely / There’s nothing left to save now), Billie estreia dando uma aula de como borrar de vez as fronteiras que ainda existem entre o pop e o experimental na música contemporânea.
Ariel Fagundes

2. Solange
When I Get Home

Por mais que flerte com a efemeridade, o quarto álbum de estúdio de Solange não passa nada batido entre os lançamentos do ano. Pelo contrário, ele consolida a compositora e cantora como um dos grandes nomes da música contemporânea e como dona de dois dos discos mais inesquecíveis da década. When I Get Home se comunica com o belo A Seat at the Table (2016): como ela mesma explica, enquanto o anterior era sobre “o que ela precisava dizer”, o registro presente é sobre “o que ela precisava sentir”. Composto por 19 faixas, o trabalho dá conta da missão de transmitir a Houston, cidade natal dela, que vive no seu imaginário. When I Get Home é corpo, território e identidade. Com seu protagonismo nas letras e na produção musical, mas acompanhada por um time absurdo formado por Tyler, the Creator, Sampha, Pharrell, Steve Lacy e outros, as canções são atmosféricas, exploratórias e dão um tom cósmico para o R&B, o jazz e o Hip Hop. Afrofuturista, o disco paira no tempo e espaço. Utilizando-se do recurso da repetição, inconscientes, memórias, subjetivações transbordam e prestam uma homenagem a músicos como Stevie Wonder, Alice Coltrane e Sun Ra
Brenda Vidal

1. FKA Twigs
MAGDALENE

O coração é um órgão vital para a nossa sobrevivência e compõe o sistema cardiovascular, responsável pelo transporte do sangue para todo o organismo. Uma vez que um coração é partido, quais são seus efeitos no corpo de alguém? Das fraturas de um relacionamento amoroso, de problemas de saúde e de períodos deprimida é que surgem as frestas que revelam novas paisagens: a cantora e compositora FKA Twigs é colisão, dor e resiliência em seu segundo álbum da carreira. Dividindo a produção ao lado de nomes como Nicolas Jaar, Arca e Benny Blanco, o registro é cheio de vulnerabilidade. Inspirada pela esperança que encontrou na figura da Maria Madalena, FKA imprime passionalidade e estética teatral e cinematográfica em cada verso e beat. Uma frase chave do disco talvez esteja na faixa “Home With You”: “Inspire, expire, dor”. Sombrio e futurista, ele possui uma sonoridade rica que parece ser feita de camadas de celofane que bebem do Art Pop, R&B alternativo e eletrônico, e faz da voz plataforma de experimentação. Emblemático, MAGDALENE parece dobrar a esquina da década e adiantar as roupagens que podem guiar as produções artísticas dos próximos 10 anos.
Brenda Vidal

19/12/2019

Revista NOIZE

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