Mac Julia, Budah e Ajuliacosta movimentam o Favela Sounds de carnaval

19/02/2025

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Por: Gabi Rassy

Fotos: Divulgação/Thais Mallon

19/02/2025

Há quase dez anos levando a periferia para o centro — não só do debate, mas do palco, do backstage e da troca de conhecimento — o festival Favela Sounds vai muito além da música. É um ponto de encontro de grandes agentes periféricos das mais diversas áreas do conhecimento. É um momento de aprendizados e trocas, de garantir que as vozes sejam ouvidas.

É assim que o Favela Sounds sustenta o título de maior festival de cultura periférica do Brasil. Realizado por Guilherme Tavares e Amanda Bittar, o evento garante a diversidade tanto dentro da equipe quanto do público que o frequenta. Que outro evento disponibiliza uma frota de 20 ônibus para a quebrada sair e voltar segura para casa?

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Antes do line-up — sempre explosivo — o Favela se espalha pelas periferias do Distrito Federal com atividades socioeducativas, Afrobeat LAB e a conferência Favela Talks. As mentorias trazem representantes dos mais importantes festivais do Brasil, além de representantes de gravadoras e distribuidoras para papos com os artistas locais. 

Rolam oficinas, como a “Fortalecendo e posicionando sua marca nacionalmente”, com Artur Santoro, um dos representantes da plataforma Batekoo. Além de debates com especialistas do mercado criativo, ativistas da negritude, do meio ambiente e, claro, da juventude periférica. Ao final de todos os dias, showcases com artistas do DF e shows de encerramento nada modestos: passaram pelos palcos Chico César, MC Luanna e Ebony.

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As duas brabas do rap atual abriram alas para o que viria adiante. Confira alguns shows que você precisa ver neste ano e que rolaram no festival:

Budah

Budah levou 7 anos para lançar seu primeiro álbum completo. Mas não sem antes cativar o público com singles que misturam rap, trap e R&B. Para quem tem dúvida, ela responde: “pagode é R&B brasileira”. E daí vem muito de sua inspiração na hora de compor. “Eu escutei muito isso durante a minha adolescência, durante a minha infância. E eu acho que é muito o que eu trago nas minhas letras mesmo”, conta. 

Nesta nova fase, pós lançamento de “Púrpura” e já com uma indicação ao BET Hip Hop Awards 2024 na categoria “Best International Flow”, a artista mostra que de fato entende do assunto. Chegou com dança, com afinação e com presença de palco. Vale ouvir o trabalho e ficar de olho que ela deve lançar novidades ainda neste ano.

Mac Julia

O carisma mineiro na essência. A Dona Onça chegou nos jardins do CCBB com DJ e grupo de bailarinos afiados mandando seus hits daquele jeitão que a tropinha (como ela mesma chama o público) conhece e adora. Além do maravilhoso hit “Sofá, breja e Netflix”, a canetada cheia de safadezas deliciosas deixou todo mundo quente para seguir a programação. “Sabe que é o terror, é treinada, é faixa rosa” e entrega um show que cabe em qualquer festival.

Ajuliacosta

Vamos falar de evolução. Conheci a Queen Chavosa no palco do Sesc Pompeia num show que foi bom. No palco do Favela Sounds, Julia entregou excelência. Como se não bastasse a canetada braba e autêntica, a rapper de 27 anos, da quebrada de São Paulo, traz uma presença de palco impossível de não ser notada. Como convém às mulheres do rap, esse meio onde poucas mulheres conseguem se destacar em meio à macharada. 

E ela não anda só. Acompanhada da ótima DJ Anazú nos beats e de um balé invejável, a artista entregou um show poderoso que mostra seu trabalho duro. Sem defeitos, a gata entrega voz, letra e atuação. Um nome que ainda vai brilhar muito.

O Kannalha

Já falamos em safadeza, mas aqui temos um canalha com coração. Quem vê Danrlei entrando no palco aos pulos e gritos, com aquele molho que só a Bahia proporciona, não imagina o quão sensível é o homem por trás do artista. Hoje um grande sucesso do pagodão baiano e com seu próprio show de verão aquecendo o Pelourinho, O Kannalha já tentou a vida como percussionista – profissão que exerceu desde bastante jovem até desabrochar como cantor – justamente em Brasília. 

“Vim para cá ainda de menor com um grupo de músicos, mas caímos nas garras de um produtor sacana e até fome passei”, contou o artista. Logo depois voltou para Salvador, onde tem uma grande rede de apoio familiar e os amigos de toda a vida. Nos churrascos e festas em casa, lá pelas tantas e depois de “picar o dente” na cachaça, os amigos chamavam: agora é a parte do canalha. “Era a hora da bagaceira, de liberar geral”. 

No palco, ele contou, em meio a um show 100% enérgico, sobre as dificuldades que passou em Brasília. Ali, convocou o público a cantar uma faixa do Natiruts que marcou essa passagem e caiu no choro. O Kannalha deu espaço para Danrlei sentir o que precisava sentir. “Não desista dos seus sonhos. É muito importante voltar pela primeira vez de volta aqui, agora nessa posição”. Respirou fundo, voltou e ainda se jogou no meio da roda punk do público. É o punk do pagodão, com boas doses de sensibilidade. 

Baita fechamento para uma edição histórica.

19/02/2025

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Gabi Rassy