Malcolm McLaren transformou o New York Dolls em comunistas (e foi um fracasso)

11/04/2015

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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11/04/2015

Nessa semana, completaram-se 5 anos desde que Malcolm McLaren morreu, vítima de um câncer, no dia 8 de abril de 2010. Em homenagem ao artista, se é que se pode defini-lo como “artista”, lembramos de uma história que aconteceu em Nova Iorque, pouco antes de ele criar o Sex Pistols.

Malcolm McLaren e Vivienne Westwood

Malcolm McLaren e
Vivienne Westwood

Tudo começa em 1972, quando McLaren e sua namorada, a estilista Vivienne Westwood, abriram uma loja de roupas em Londres chamada Let It Rock. No ano seguinte, o casal visitou Nova Iorque e, lá, passou a andar com o pessoal da cena do New York Dolls, que estava lançando seu disco de estreia, New York Dolls (1973).

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Desde o início, McLaren ficou apaixonado pela banda e não demorou até que ele passasse a fornecer suas roupas para o grupo se apresentar. Naquele mesmo ano, sua loja em Londres mudou de nome e passou a se chamar Too Fast To Live Too Young To Die, nome que durou alguns meses até que foi alterado para SEX, em 1974. Segundo um depoimento de McLaren publicado no livro clássico, Mate-me Por Favor (1996), o New York Dolls já havia ido a Londres e ficado abismado com a sua loja, que “tinha uma ideologia definida”: “O lance não era vender coisa nenhuma, era criar uma atitude”, disse.

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Acontece que, depois do lançamento do segundo disco do Dolls, Too Much Too Soon (1973), a banda foi ladeira abaixo em uma escalada narcótica que era uma bomba relógio. Foi nesse contexto que Malcolm McLaren se envolveu mais com o grupo, na mesma época em que passou a vender seus trajes extravagantes para os membros da cena roqueira pré-punk que estava explodindo em Nova Iorque. Não se sabe exatamente como, mas o fato é que, papo vai, papo vem, trago vai, trago, vem, o estilista acabou se tornando o empresário do New York Dolls:

– Comecei a empresariar o Dolls mais ou menos uns dois anos depois de eles terem vindo pra Inglaterra. Os New York Dolls foram uma aventura que eu quis ter e através dela ver o mundo. Foi um jeito de viajar. Mas de saída peguei doença venérea, o que foi muito revoltante, e pensei: “Ooh, Nova Iorque é um bocado suja” – declarou McLaren no Mate-me Por Favor.

No mesmo livro, o baterista da banda, Jerry Nolan, afirma: “Malcolm nos pegou num momento muito vulnerável”. Quando começou a trabalhar com o Dolls, a banda estava definhando em meio a montanhas de heroína. E a ideia brilhante que Malcolm teve para levantar o grupo foi mudar completamente seu visual transformando-o em uma espécie de caricatura comunista.

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– Tentei pôr política na roda. Havia toda uma noção geral de “política do tédio” e toda aquela ideia de vestir os Dolls de vinil vermelho e dar o Livro Vermelho de Mao [Tse-TUng] pra eles – eu adorava foder com aquele tipo de cultura pop-trash de [Andy] Warhol, que era tão católica, tão chata e tão pretensiosamente americana, onde tudo tem que ser um produto, tudo tem que estar à venda. Pensei: “Foda-se. Vou tentar fazer dos Dolls o oposto total. Não vou deixá-los à venda. – disse Malcolm em Mate-me Por Favor.

A partir daí, o empresário decidiu que a banda só se apresentaria vestida completamente de vermelho e ostentando uma bandeira vermelha com uma foice e um martelo cruzados no fundo do palco. Só havia um problema: os músicos, seus amigos e seus fãs nunca tiveram nenhum envolvimento real com política – só com as drogas. McLaren resolveu ignorar isso e organizar uma série de shows em Nova Iorque junto com o Television, em março de 1975. Um deles, no bar Little Hippodrome, foi gravado, apesar do baixista Arthur Kane não estar em condições de tocar (quem tocou no seu lugar foi o roadie Peter Jordan). Anos depois esse show foi lançado como um bootleg chamado Red Patent Leather (1982). Ouça abaixo:

Contracapa de "Red Patent Leather" (1982)

Contracapa de “Red Patent Leather” (1982)

Depois do relativo sucesso desses shows, Malcolm se empolgou e decidiu marcar uma turnê do Dolls na Flórida. Arthur Kane até foi internado por um tempo para se recompor e fazer a tour, mas foi em vão. Após poucos shows, o vocalista David Johansen discutiu com o grupo e disse: “Qualquer um nessa banda pode ser substituído”.

– Aí deu. Levantei e disse: “Estou fora”. Daí Johnny [Thunders, guitarrista da banda] levantou e disse: “Se Jerry está saindo, também estou”. – relata Jerry Nolan no Mate-me Por Favor.

Moral da história: foi assim que o New York Dolls praticamente acabou. Na mesma hora, Jerry e Johnny fizeram as malas e voltaram pra sua cidade natal. O resto da banda foi dar uma volta com Malcolm até Nova Orleans, na Louisiana, em uma camionete alugada.

– Viajar pela Louisiana foi divertido – embora eu tenha pego mais doença venérea, o que me deixou puto de novo. Achei que a porra do país inteiro era transmissor de doenças venéreas; assim, lá estava eu – perdido – com uns poucos trocados que sobraram dos New York Dolls e outra doença venérea, tentando voltar pra Nova Iorque. – disse Malcolm.

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Quando voltou, se encontrou com Richard Hell, um dos fundadores do Television, e amou o seu visual. Amou tanto que resolveu levar aquela estética na mala quando voltou à Inglaterra, entre abril e maio de 1975. Poucos meses depois, Malcolm McLaren criou o Sex Pistols.

Johnny Rotten e Malcolm McLaren em Londres

Johnny Rotten e Malcolm McLaren bolando o nascimento do Sex Pistols em Londres

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11/04/2015

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