Marcelo Callado apresenta novo disco de Pedro Fonte em carta: Confira

18/05/2020

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Luisa Pollo e Daniel Rocha

18/05/2020

O novo álbum de Pedro Fonte é a prova de que, às vezes, a retaguarda precisa avançar. No front, o baterista de 28 anos, figura presente na cena independente carioca – com passagens pelas bandas Novocaines, Exército de Bebês, Os Dentes e assinatura na batera do disco Casas (2018) de Rubel – , coloca-se diante dos holofotes em carreira solo. A estreia é Filme do tempo, lançado no último dia 14 pelo selo Carolina Records e distribuição de Altafonte.

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Mesmo tomando a produção do disco para si, Pedro não chega só: o disco conta com parcerias de Mãeana, Ana Frango Elétrico e Raquel Dimantas. Outro nome especial é do também baterista Marcelo Callado, que guia você pelo mergulho em Filme do tempo em uma carta/roteiro de baterista sobre baterista. Solte o play no disco abaixo e leia o texto de Callado na sequência:

Fonte de luz.
Corta.
Escrevo esse texto à pedido do meu amigo músico, compositor e colega de
instrumento, Pedro Fonte.
Escrevo em meio a uma pandemia, a maior crise mundial de saúde que assola nosso planeta em tempos.
Infelizmente, também escrevo perante a uma bagunça política em nosso país, (des)governado por um presidente genocida, psicopata e perverso, que frente às mortes de milhares de indivíduos, tem a coragem de responder com um “E daí?”
Um cenário um tanto quanto cinzento e nublado para escrever sobre música.
Corta.
Conheci Fonte, há cerca de uns cinco anos atrás, por intermédio de um amigo comum, o também músico Caio Paiva. Eu e Caio capitaneamos um projeto de
fabricação de uma coletânea em vinil de cinco bandas do Rio de Janeiro. O álbum ganhou o nome de “Xepa/Nata” e Pedro Fonte defendia habilmente a bateria de duas bandas: Os Dentes e Exército de bebês. A partir dali não só comecei a acompanha-lo de perto, e admira-lo como excepcional músico que de fato é, mas também tivemos o prazer de dividir o palco várias vezes, tocando juntos.
Corta.
Como baterista que também compõe, e que também se arrisca a tocar outros instrumentos, tenho a sensação de que posso relatar bem o que Fonte deve ter sentido, ao realizar esse trabalho, e da importância que isso tem. Nós que sempre ficamos sentados lá atrás, dando o ritmo e segurando o pulso da música, as vezes parecemos carecer de uma pouco mais de liberdade, como se existisse por dentro uma “comichão” que nos impulsionasse a querer saltar aquele “cercadinho” de ferragens. Não pelo instrumento em si, mas pela vontade de que em algum momento muitas das idéias sempre contidas ali na retaguarda, venham ganhar a frente do palco, o foco de luz. Que isso não pareça algo simplesmente egóico, mas sim algo necessário para a caminhada de cada um como ser, ou seja um movimento simplesmente de mudança de perspectiva.
Corta.
Filme do tempo, como todo bom filme, não pode ser feito sozinho, necessita-se de uma equipe. Além de um bom roteiro, é máster que se possua uma boa direção, um bom elenco, uma boa direção de arte, um bom fotógrafo, bons câmeras, figurino impecável e etc, etc, para que o resultado fique lindão no cinemascope. Essa equipe toda se faz presente todo tempo nesse filme/disco. Cada um ajudando e colocando seu brilho pessoal, com maestria e doação ao trabalho do amigo. Ana Frango, Ana Cláudia, Raquel, Lírio, Lodo, Antonio, Rudah, Angelo, Gus, Kayan, João, Thomas, Iuri, Johanna e Karina; são um frescor de alegria e musicalidade nesses tempos. Um colírio para nossos ouvidos, um alívium para nossas almas.
Corta.
Há uns dois anos tive o prazer de dividir o palco com Pedro, e tocamos uma música de sua autoria no show da banda Papai-mamãe no Circo Voador.
Lembro-me que adorei a música por que de cara me levava a um ambiente de clima solar, livre, solto, feliz, quase como que se estivesse correndo nos campos do filme O Barato de Iacanga (2019). A música se chamava “Birds and Flowers” e para minha surpresa não está no álbum, pois já fazia parte do último álbum d ́Os Dentes. Tudo bem, não carecia mesmo.
A sensação que esse disco me traz com todas as oito canções compostas por
Pedro Fonte ali contidas, é a mesma: há luz no fim do túnel.
Foi o que senti hoje ao escutar e sentar para escrever esse texto. Minha noite clareou.
Para (quase) citar algumas das letras contidas no álbum, nesse momento em que a solidão parece mais normal que nunca, tempo de escassos encontros, em que cada vez mais parecemos nos afastar da luz, o tempo, só o tempo e o Filme do tempo podem nos conduzir a ela, e realmente o fez, e o fará. Obrigado!
Corta.
Fim.

18/05/2020

Brenda Vidal

Brenda Vidal