Monkey Jhayam chega forte em novo clipe de “Afrochoque”

11/09/2020

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Premier King/Divulgação

11/09/2020

Lançamento de peso pra chacoalhar seu dia! O cantor, compositor e MC/toaster Monkey Jhayam acaba de soltar seu novo single, “Afrochoque”. Produzida por Dudu Marote e DJ B8, a faixa chega acompanhada de um clipe à altura dirigido por Premier King (assista abaixo).

Com 12 anos de estrada, o paulistano Monkey Jhayam é uma personalidade célebre da cultura do sound system no Brasil. Há vários lançamentos dele assumindo o papel de toaster, cantando sobre as bases de grandes produtores como Prince Fatty e Victor Rice (procure ouvir!). Mas, desde 2014, ele também experimenta com desenvoltura a linguagem musical propiciada pelo formato de banda e “Afrochoque” é uma amostra disso.

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O novo single é o resultado da ampla pesquisa sonora que Jhayam desenvolve e não se restringe de forma alguma às referências jamaicanas. Pelo contrário, a faixa extrapola fronteiras conectando, através dos laços diaspóricos da música africana, elementos do kuduro angolano, do afrobeat nigeriano, do funk carioca, do denbow da República Dominicana e do dancehall da Jamaica. “‘Afrochoque’ une todos esses estilos como uma pangeia musical. É a diáspora africana se reunindo, se reencontrando, se levantando e expressando a sua voz”, explica o artista.

Já o clipe, protagonizado pelo artista, performer e dançarino Robertrix (Roberto Marcondes), dialoga diretamente com o som da faixa. No vídeo, o protagonista entra em contato com um jogo de tabuleiro mágico, cuja movimentação das peças invoca a presença de antigos reis e rainhas da África. Livremente inspirado no filme hollywoodiano Jumanji, o clipe apresenta uma metáfora para um movimento de conscientização: “O afrochoque é o impacto da transformação de uma pessoa padrão, que vive nos moldes da sociedade, para quem ela realmente é. É a volta às raízes, o empoderamento do povo preto, a força para assumir sua identidade sem medo”, diz Monkey Jhayam.

Conversamos com o artista sobre as inspirações por trás desse lançamento e sobre a fase atual de sua carreira. Em meio à pandemia, Jhayam segue ativo e reiventando formas de atuação artística, como ele conta na conversa abaixo.

Comente, por favor, a inspiração para “Afrochoque” e como a composição conecta-se com o contexto atual, em que os debates sobre o racismo foram acirrados por diversos episódios nos últimos meses.  

Uma grande inspiração para “Afrochoque” foi poder trabalhar com a diva Gaby Amarantos, fazendo um projeto de pesquisa para o “Jurunas Som Sistema”. Quando ela me convidou para participar do projeto, a ideia era juntar músicas de periferias do mundo todo, com letras e temas a fim de levantar a autoestima da mulher e todo o povo preto. Eu entrei com toda minha vivência e conhecimento no reggae e dancehall jamaicano, dessa fusão registramos o single “Pulelê”, que foi lançado em vinil 7 polegadas pelo selo Vinyl Land.

Uma outra inspiração é o Buraka Som Sistema, fruto de uma conexão entre Lisboa e Angola, eles não tocam mais hoje em dia, mas fico sempre atento aos lançamentos da Enchufada Records. Aqui no Brasil a maior referência musical é o Braunation, que foi formado por Mahal Pita e Rafael Dias, que futuramente integraram também grupos musicais como Atoxxxa e Baiana System. 

A composição em si representa esse choque cultural na sociedade elitista, causado pelo LEVANTE da diáspora dentro e fora do continente africano. Nossa história e cultura durante muitos anos foi escondida, apropriada, roubada e diminuída. O conhecimento e a emancipação nos trazem a consciência da importância das relações entre os indivíduos de maneira humanizada, para um entendimento compartilhado de modo de ser e estar no mundo. Voltar para essa essência vai nos conectar novamente com nossas forças, para poder nos unirmos e assumirmos nossa identidade, nos organizarmos e tomarmos o que é nosso por direito. Nossa posição de reis e rainhas, nossa autoestima, nossas riquezas e toda nossa ancestralidade. 

Tanto o som quanto o vídeo trazem referências fortes à cultura africana diaspórica, mas inseridas dentro de estéticas pop, como você enxerga esse diálogo entre a cultura pop e a cultura ancestral?  

Já foi-se o tempo de pedir permissão para entrar e sair de qualquer lugar, deixar nosso destino na mão de pessoas maldosas e mal intencionadas que decidem por nós o nosso passado, presente e futuro. A meta na verdade é que a cultura ancestral se torne sempre contada por nós mesmos. Que ela seja Popular no sentido de mais pessoas respeitarem e terem acesso a essas informações, na intenção de desconstruir essa educação colonial na qual são vítimas – desde o cordão umbilical. Eu achei magnífico e bem significativo uma lenda viva como a Angelique Kidjo, tomar totalmente o Grammy 2020, em Los Angeles, de assalto. Ganhar prêmios, fazer sua performance ao vivo e anunciar com autoridade no microfone pra todo mundo que o prêmio é dedicado a todos os artistas e músicos que representam o continente africano, citando até o gigante representante da nova geração Burna Boy como referência. “Estamos em ascensão e nossa música vibra, tem alma, alegria. Vamos nos unir e nos tornarmos um só pela música, sem discurso de ódio e nem violência”. As palavras da Angelique vêm brindar esse fenômeno da música feita por africanos dentro do continente ou na diáspora, tomando esses espaços e alcançando lugares, até então injustiçadamente nunca antes alcançados.

Durante muito tempo a música eletrônica usou cadências rítmicas e tambores africanos como samplers, loops na construção de variadas vertentes. Hoje existe toda uma cena de produtores africanos com propriedade em apresentar sua cultura local pro mundo com linguagem universal, utilizando alguns timbres e texturas da música eletrônica. Assim também acontece no Brasil. O interessante em mergulhar nessa pesquisa musical/antropológica, é perceber que muitas das rítmicas e escalas musicais tradicionais da Costa do Marfim, Líbano, Tanzânia ou Angola se comunicam e combinam muito com a música baiana, nascida nos blocos afros na década de 70, ou o Funk carioca da década de 80 por exemplo. Uma verdadeira pangeia musical.

Você se divide entre os formatos de sound system X banda, quais são os planos do Monkey Jhayam para 2020 e 2021? 

Em Dezembro de 2018 completei 10 anos de carreira, surgiu então a ideia de montar uma banda para me acompanhar em um show especial, reunindo os meus principais singles lançados entre 2008 e 2018 para celebrar o carinho e fidelidade dos ouvintes da minha música. Estou gostando muito de poder voltar a fazer música com banda, gosto muito desse processo criativo coletivo e contar com a minha banda – DJB8, Danilo Tael, Eramir Neto e Rafael Franja – no suporte é uma honra enorme. Essa é a  minha primeira oportunidade de unir em uma apresentação ao vivo  instrumentos orgânicos e programações digitais. 

Nossa ideia era entrar 2020 com as músicas inéditas, mas surgiu uma pandemia pela frente e tivemos que repensar os planos, mas continuamos lançando as novas versões das músicas antigas que já vinham rolando no show. Essas saíram como remix e estão disponíveis em todas plataformas digitais e YouTube, com vários vídeos inéditos produzidos durante o período de isolamento social. Agora, depois do lançamento de “Afrochoque”, já temos uma sequência de singles prontos esperando o momento certo de chegarem ao público. Nosso plano é de todo mês lançar uma novidade e, ao final, em 2021, lançar um álbum inédito.

Quanto ao reggae, essa é uma universidade incrível dentro da minha trajetória,  minha escola de inglês e de vida. Poder ouvi-lo de forma fiel, amplificado por um poderoso Sound system é algo inexplicável. Sempre que posso frequento as sessões pela cidade e quando rola aquela vibração especial, brindo, participando como MC, em uma versão instrumental ou um lado B com o seletor ou o Dj –  depois de pedir a bênção e a licença é claro. Tive a oportunidade de viajar todo o Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Inglaterra como Deejay/Toaster, cantando e me comunicando em diferentes rádios ambulantes a.k.a. aparelhagem, sound system ou radiola – dependendo do lugar de origem, mas agora a prioridade é a construção dessa nova fase com a banda. Temos muitos pedidos de shows em Salvador, Belo Horizonte, Recife, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul e interior de São Paulo. Esperamos visitar cada um desses lugares e todos mais que pudermos chegar. 

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11/09/2020

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

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