Entrevista | O instrumental pancadão do Muntchako

29/07/2016

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Por: Fabiano Post

Fotos: Ferreira Maia

29/07/2016

A parada é a seguinte: Em 2014, o musico campinense, Macaxeira Acioli (percussão e samplers) estava morando na Irlanda, por lá, fez tour com a big band gringa Hypnotic Brass Ensemble (EUA). Ainda no mesmo ano, retornou para Brasília e pôs uma pilha no DJ, brasiliense, Rodrigo Barata (bateria e samplers) para levarem um som.

Passados alguns meses Barata dá um “hello” para o Macaxeira e adenda a manufatura do som, aquele, sugerido pelo Acioli, o multi-instrumentista e seu conterrâneo Samuel Mota aka Samuca (guitarras, banjo, programações, synths, etceteras).

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Em tempo, segundo o Macaxeira, existe ainda um quarto elemento no grupo, importantíssimo, diga-se de passagem, a Sra. Tecnologia. Desse encontro de talentos humanos tão diversos e a versátil Tecno, nasceu o esqueletão do que viria a ser o primeiro trampo da futura banda, o sonzão “Emojubá”, uma porrada rítmica que emana pelo corpo todo, gravada no Cafofo Records, em setembro do glorioso 2014.

Demorô meus caros, formou Muntchako; que segundo seu próprio release é definida, acertivamente, “como uma pancada forte no estômago, que pode ser sentida dos tímpanos aos pés…é como um soco de uma polegada do Bruce Lee, e também flui como água, sem a menor contenção!” Maravilha!

Para fechar 2014 com direito a chave dourada e o escambau, na finaleira do ano, em dezembro, aconteceu o batizmo de fogo que marcou o prelúdio do Muntchako, abrir o show para o vetereno mestre do dub, o guianense, Mad Professor. Fala tu…nada mal, hein?!

O power trio instrumental Muntchako – o nome é um desdobramento poético latinizado, segundo a rapaziada, da sagaz arma marcial “nuntchako” – não se apega aos cartesianismos do gênero na hora de manufaturar seu som, como explana a banda: “Não queremos ficar amarrados. Rolam umas vocalizações, nós dobramos as vozes ao vivo e fazemos esse coro para dar força em refrões que as pessoas possam cantar junto. Mesmo sendo a pegada instrumental em quase 90% das músicas, queremos esses refrõezinhos para envolver mais ainda o público. Considere-nos “mezzo intrumental”. Okay, já é!

Em seus dois anos de estrada, ainda uma criança, o Muntchako quer se manter afastado dos estereótipos da cena instrumental. “Essa não é a nossa busca, pensamos em música intrumental dançante, com as interferências eletrônicas, o que já foge um pouco dessa cena instrumental mais “jazzística”. O som é universal , busca influências de várias partes do mundo na nossa música”, explica Rodrigo Barata.

Nesse curto espaço existencial a banda lançou dois outros singles, que traduzem bem a afrolatinidade eletrônica do trio, “Coqueirinho Verde” e “Cardume de Volume”, este, com a parça, a funkeira carioca, Deize Tigrona.

“A música eletrônica instrumental, em Brasília, tem sua força”, me disse Barata, que completa: “Tem muitos coletivos fazendo festas. Isso acaba puxando o nosso som para uma onda bem dançante, funcionando como se o show fosse um mixtape, pista!

Perguntado quem são as musas da banda os caras não titubearam e dispararam sua metralhadora, pluralizada, com um tantão de personalidade, algumas ouro puro, segura a rajada: Fela Kuti, Luiz Gonzaga, Daft Punk, Chimbinha, Santana, Hendrix, É o Tchan, Baiana System, Buraka Som Sistema, Gerson Deveras, amigos músicos dos palcos da vida, etc e tals!

O Muntchako vem sendo monitorado e desejado pelos principais festivais do pais, recentemente marcou presença, “em casa” – e em casa sempre é melhor – no Instrumenta Brasília, que aconteceu entre os dias 16 e 17 de julho, e foi lindo. “Sentimos que o Muntchako chegou lá e acrescentou a pegada da música eletrônica, o PA tava muito foda e os graves e wobbles das nossas bases soaram bem, todo mundo balançou a bundinha. Dividir o palco com uma pá de artistas daquele quilate – Bixiga 70, Antibalas, Satanique Samba Trio, Moveis Colonias de Acaju… E com bandas que fazem parte do nosso playlist foi irado demais”, conta Macaxeira.

Com pouco tempo de estrada a banda já garantiu pódium de tretas em suas gigs; de “elogios” sem noção do tipo: “se tivesse vocal ia longe hein!”; apresentação para terceira idade, com direito a show de dança da tiazinha empolgada; reprovação e revolta do Macaxeira em blitz de trago, virando a esquina, na saída de um show, após o produtor apostar o fiofó que não havia perigo algum; ficar na mão depois do “quarto” membro do grupo, a Sra. Tecnologia, dar piti e pau; soltar a base sem voz após anunciar música com participação especial; improvisar uma estante, com cadeira de praia, para o teclado; ser chamado de “Mamonas do instrumental”…a vida na estrada é foda mas é FODA!

Apesar dos percalços no caminho, a vida continua sem traumas. Tanto é verdade que os caras soltaram, dias atrás, seu mais recente trampo, o sonzão “Young O’Brien”, gravado, mixado e masterizado no Estúdio Refinaria. O single de certa forma quebra a hegemonia primal da banda pelas sonoridades africanas, apesar delas estarem ali, marcando território; e reforça um talento natural para os sons latinos, como me explicou Rodrigo Barata: “No início a música africana era nossa intenção, mas como somos latinos no sangue, ela sai espontaneamente e acaba puxando muito pra esse lado. Além de ter um pé no rock, a gente curte distorção também, música com peso”.

“Young O’Brien” é a maturação natural da banda em busca da sonoridade que melhor traduz o Muntchako, até o momento. Rock e signos latinos latentes, é um duelo, coisa fina, entre Hendrix e Santana.

Dá uma sacada aí na vibrante performance ao vivo dos caras, tocando “Young O’Brien”, no Vivo Open Air Brasil, em maio desse ano.

Em vem discão por aí, sim Senhor! O primeiro rebento, é um vinilzão bonitão, deve estar entrando em trabalho de parto lá por novembro, oxalá.

“O projeto foi contemplado pelo FAC – Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal e conta com a produção cascuda do Curumim e ilustrações do Shiko, um artista paraibano de primeira. Estamos felizes demais em lançar uma bolacha preta!” conta Macaxeira.

Abri o espaço “gratidão é coisa linda” pros caras do Muntchako citarem aqueles que não podem serem esquecidos pela banda, lógico que esqueceram alguém, porém com muito amor. Sem mais delongas vamos aos contemplados:

“Familia, filhos e nossas parceiras…Elas estão sempre presentes e apoiando tudo! Vários amigos fazem parte deste trabalho direta ou indiretamente, é sempre difícil mencionar pois acabamos esquecendo nomes importantes. Mas para citar alguns, a rapaize da Criolina Pezão e Ops, Nina Coimbra, Ândrea Possomai, Vavá Aufioni, Erick Moreno, Gui Campos, Dj Nagô, Marcinho Mota, Shiko,Gustavo Dreher, Maranhão, Natinho, aos queridos e especiais Lula Orione e Diana Coutinho (…) Neste novo processo estamos em contato com um cara sensacional, Luciano Nakata de Albuquerque, ‘O Curumin’ um cara super simples e com uma musicalidade que corre no sangue, estamos aprendendo muito com ele.”

O trio adentra todas as portas sonoras na busca de sua musicalidade, sem fronteiras, custe o que custar. Ali tudo é permitido, tudo pode! É decretada a morte dos engessamentos! Não existem amarras. Sem “pré”, somente conceitos de liberdade. Se havia alguma dúvida, saibam caríssimos, a hibridação cultural veio para ficar, no que depender do Muntchako.

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29/07/2016

Gaúcho, de Porto Alegre, vivendo a 15 anos no Rio de Janeiro. Colaborador da Vice Brasil e autor lusófono do portal de mídia cidadã Global Voices.

Fabiano Post