“No futuro, as bandas vão poder oferecer mais do que um show pop. Elas poderão oferecer um grande espetáculo”, disse Syd Barrett depois do primeiro show com som surround da história. O promotor musical Christopher Hunt não poderia ter escolhido um grupo melhor do que os psicodélicos do Pink Floyd para fazer esse show inesquecível.
A apresentação Games for May aconteceu no dia 12 de maio de 1967, exatamente 47 anos atrás. Nós relembramos ela aqui pelo seu valor histórico, como um marco no desenvolvimento sonoro dos shows.
Mesmo antes de Games for May, o Pink Floyd ousava no palco, usando e abusando de luzes, projeções psicodélicas e bolhas de sabão. Era a banda perfeita para dar o próximo passo na tecnologia de shows. O local escolhido foi o Queen Elizabeth Hall, em Londres, que até então estava acostumado a receber apenas concertos clássicos.
Podemos dizer que a tecnologia do som surround foi pela primeira vez usada em 1940, no filme Fantasia da Disney. A tradução literal de surround para o português é aquilo que nos cerca. Ou seja, um sistema sonoro desse tipo faz com que você tenha uma audição 360 graus, como fosse estivesse cercado pela música. É a mesma tecnologia usada nos cinemas atuais.
O som surround criado no show do Pink Floyd foi primitivo comparado às tecnologias que se têm hoje. O engenheiro de som colocou dois amplificadores adicionais no fundo do palco, e para controlar o áudio que sairia das caixas de som, o técnico Bernard Speight, dos estúdios da Abbey Road, construiu o aparelho conhecido como Azimuth Co-ordinator. O original foi roubado logo após o show, mas Speight o reconstruiu em 1969 para um show do Pink Floyd no Royal Festival Hall. Hoje, o aparelho é uma das peças raras que estão em exposição no museu londrino Victoria and Albert.
Quem operou o Azimuth Co-ordinator durante o show foi o tecladista Richard Wright. “Se o joystick estivesse na vertical, o som era central, mas movendo-o para a diagonal ele transferia o som pra caixa de som no canto equivalente do palco”, explica o baterista Nick Mason sobre o funcionamento do aparelho.
Além de alguns singles e faixas do então recente The Piper at the Gates of Dawn, o Pink Floyd também adicionou ao setlist do show quatro gravações prévias que eles fizeram para usar ao máximo a tecnologia do som surround.
Games for May durou duas horas e além de inovação no som teve bolhas de sabão, Roger Waters atirando batatas em um gongo e pétalas de flores espalhadas por todo o Queen Elizabeth Hall, o que não agradou nada aos donos do lugar. Tanto que o Pink Floyd foi proibido de tocar naquele palco para sempre.
Mas foi tudo por um bom motivo. Graças ao Pink Floyd e aos engenheiros e técnicos de som de Games for May, hoje nós podemos assistir a verdadeiros espetáculos de música.