O resumo dos últimos capítulos: Anna Pavlova e Thurston Moore | Leo Felipe

20/04/2012

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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20/04/2012

_Por Leo Felipe

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Realizado durante um curso de direção na Academia Alemã de Cinema e TV, “Anna Pavlova vive em Berlim” (2011) caiu nas graças de curadores e críticos e virou, literalmente, peça de museu. O documentário de Theo Solnik faturou no ano passado o Prêmio Para Artista Jovem e ganhou temporada no prestigiado Hamburguer Bahnhof. Agora, novos convites de galerias vão surgindo, sem ninguém se importar que o filme tenha sido criado para ser exibido na sala escura. A arte não tem escrúpulos: tudo ela fagocita.

“Anna Pavlova vive em Berlim” acompanha a pirada Anna, uma russa auto exilada em você- sabe-onde, em seu giro interminável pelo nightlife (que naquela cidade adentra os dias). Autodestrutiva e, no entanto, tão cheia de vida, Anna fala pelos cotovelos, sobrevive de bicos e do seguro desemprego, faz festa sobre festa, está sempre bêbada, drogada e descontrolada e deixa tantas contas penduradas quanto possíveis. Na trilha do filme, muito techno captado em som direto de rádios de carros e auto-falantes, que às vezes é sobreposto a uma dramática música de cordas, criando uma atmosfera de iminente fatalidade.

O diretor Theo Solnik é um brasileiro globetrotter que já estudou em Oslo e hoje mora em Paris. Com seu filme, conseguiu captar o zeitgeist de uma cidade que é atualmente a Meca dos jovens artistas. Com custo de vida baratíssimo, em Berlim ninguém tem realmente um emprego, os auxílios sociais são fartos e há um curador em cada esquina. “Eu chamo de cair na geléia”, comentou Theo se referindo ao fato de que muita gente vai para a cidade cheia
de planos e acaba mergulhada num limbo improdutivo de noitadas e bebedeiras – igual à personagem Anna. Uma visão bastante amarga dessa fantástica cidade de cerveja barata e festas sem fim.

“Anna Pavlova vive em Berlim” foi exibido em Porto Alegre como parte da programação do Artedoc., mini-festival de filmes de arte promovido pela (sempre ela) Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia. Solnik esteve presente nas duas sessões e depois rumou pra Buenos Aires, para exibição de seu filme no festival de cinema independente BAFICI.

Um pouco depois da segunda sessão do filme, uma figura mítica do rock que já foi chamado de alternativo subiu com sua banda ao palco do Bar Opinião para um espetáculo de sensibilidade, inteligência e barulho (isso depois da abertura da banda grunge Kurt Vile and The Violators, que não trouxe nada de novo, apenas os velhos anos 90 que começam agora a nos assombrar).

Thurston Moore é vocalista e uma das mentes (e guitarras) por trás (e à frente) do Sonic Youth, e já vou explicando que, ao contrário de muita gente da minha geração, nunca fui um devoto da banda (a suposta nonchalance do SY sempre me soou muito pretensiosa). De qualquer forma, naquela noite, Mister Moore conseguiu detonar qualquer clichê que eu esperasse encontrar, a partir de uma estratégia de usar e abusar destes mesmos clichês. Foi, sobretudo, uma performance de rock.

Ainda que sua banda fosse, na maioria das vezes, uma formação acústica com bateria, violino e dois violões, barulho não faltou. E o público (algo como a velha guarda garageira) estava mesmo a fim de dano auditivo: ao primeiro feedback, uma explosão de aplausos.

Moore esteve no país com a turnê de “Demolished thoughts”, seu novo álbum solo produzido por Beck. Musicalmente, o show fez uma viagem por um tipo de sonoridade tipicamente americana, remetendo a Dylan, Neil Young, Velvet Underground e, também, Sonic Youth.

Um dos grandes momentos aconteceu logo na terceira música. Como bom punk, balançando a cabeça de um lado pro outro, o espigão Moore recria um clichê de finale explosivo, quando os músicos atacam a última nota, mantendo-a em tensão. E a banda executa apenas uma nota, sustentada por minutos pelos três instrumentos de corda e os timbales da bateria. Depois vem uma segunda nota, mais grave, e mais alguns minutos de prolongada tensão, clichê estendido
ad absurdum, redenção através de ruído.

@leoafelipe é mestrando em história e crítica de arte pelo PPGAV-UFRGS. Escritor, jornalista e DJ, atualmente é gerente artístico da Galeria Ecarta, em Porto Alegre.

20/04/2012

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