O Som da Concha: Um papo sobre o Projeto Concha, o palco para as minas em POA

15/08/2019

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Vini Angeli/ Divulgação

15/08/2019

Em diversas culturas, a concha é encarada como o símbolo da fecundidade, da energia feminina, da prosperidade e da sorte. Para os astecas, as conchas representam também o nascimento, a criação. Biologicamente, a concha é uma carapaça protetora que envolve os moluscos marinhos, animais de corpo mole, com sua formação calcária e dura. 

Talvez possa ser estabelecida dinâmica parecida na relação entre o Projeto Concha e as diversas artistas que por ele passam. Tal qual a concha, ele visa oferecer apoio, estrutura e solidez para as carreiras de mulheres compositoras, cantoras, instrumentistas e musicistas do cenário independente brasileiro. “Um palco para as artistas brasileiras em Porto Alegre”, como se autodefine. 

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Até fevereiro deste ano, foram 43 mulheres fazendo as caixas de som do Agulha tremerem. Agora, além do apoio cultural do espaço, o projeto conta com patrocínio Master da Natura Musical, Grupo Press e Cubo, financiamento Pró-Cultura RS – Lei de Incentivo à Cultura e Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul. Neste mês, você pode conhecer o projeto de perto através de dois importantes eventos: o show de Paola Kirst e Gabriela Lery que rola hoje às 22h, e, também, as oficinas gratuitas para mulheres de fotografia musical com Vitória Proença, que rola hoje, e de lutheria com Bruna Zanotto, no dia 31. As inscrições podem ser feitas aqui. E já adiantamos: em setembro, quem se apresentará é a baiana Livia Nery.

Mas tudo isso começou através de uma reflexão, um convite e um ímpeto. Alice Castiel, cineasta que se encontrava em transição para a produção cultural, estava em viagem para passar a virada do ano de 2017 para 2018 em Belém, no Pará, já com a semente do projeto cabeça: “No final de 2017, eu estive na SIM [Semana Internacional da Música] São Paulo, e pude ver várias artistas começando a turnê de discos que fariam um boom na época, como Letrux, Luiza Lian, Luedji Luna, Larissa Luz… fiquei chocada com o fato de que não se via essas artistas em Porto Alegre”, recorda. “Na mesma época, a Morena Bauler, cantora daqui, me procurou para produzir um show da dupla dela com a Amanda, a Vêna, no Agulha, que recém tinha aberto na época. De repente, decidi chamar a Raquel Leão para participar e pensei ‘vou propor esses shows dentro de um projeto mensal, recebendo mulheres todo o mês”, conta. 

Deu certo. O que se concretizou com esse show na noite de 24 de julho de 2018 seria rotina e encontro marcado entre palco, mulheres e música todos os meses no Agulha. A segunda atração já elevou a aposta no Concha: Letrux tocou em duas datas lotadas pela primeira vez em Porto Alegre através do projeto. Dali pra frente, só nomes quentes: Juçara Marçal, Luedji Luna, Xenia França, Maria Beraldo foram algumas artistas recebidas no primeiro ano. 

Logo, o Concha tomou forma e se sustentou com a mesma resistência de uma carapaça calcária. Entretanto, o projeto pedia mais – foi aí que Alice o inscreveu no edital da Natura Musical para o ano de 2019 e foi selecionado. Com isso, o leque da curadoria pode se flexibilizar, como ela explica: “Ano passado, eu precisava fazer uma matemática mais profunda, trazer artistas que eu soubesse que daria pra pagar os custos, porque o projeto era só com o dinheiro da bilheteria e um pouco de investimento pessoal”, expõe. “Este ano, com o patrocínio da Natura Musical, eu posso arriscar e experimentar mais; em 2019, já trouxemos Alessandra Leão, Três Marias e Martina do Coco, Anelis Assumpção, Tássia Reis e B.art, uma rapper daqui”. Assim, com um público que já confia nas apostas do projeto, o Concha fica mais livre para desbravar a cenas das artistas autorais independentes.

No ano inaugural, Alice tocava a produção do projeto aliada à Silvia Pont, artista gráfica responsável pela identidade visual de cada edição, e Sofia Lerer como assistente de produção. Agora, se no palco desfilam um time de artistas talentosas, existe também time igualmente talentoso de mulheres cuidando do Concha fora do palco. Alice Castiel agora responde pela idealização, produção e curadoria. A produção executiva é assinada por Liege Biasotto, as mídias sociais ficam por conta de Daniele Rodrigues e a assessoria de imprensa com Bruna Paulin. A fotografia é de Elizabeth Thiel e a captação em vídeo de Lisi Kieling

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Começando a apresentação da equipe pela pessoa que tirou o projeto do papel. ALICE CASTIEL é idealizadora, curadora e produtora do Projeto Concha. Iniciou sua carreira no Cinema, onde produziu diversas séries, curtas e longas mas sempre sentindo que era a música que a fazia perder o ar. Hoje em dia, além do Concha, produz a banda @temtagram, os cantautores @pedro.cassel, @bel_medula e @pradothays . Digam olá para a Alice ✌🏻🐚✨ #naturamusical #proculturars

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O ano de 2019 trouxe outros braços do Concha, que agora oferece uma residência artística com artistas locais selecionadas e também oficinas gratuitas. A residência tem orientação de Isabel Nogueira e companhia das masterclasses Juçara Marçal, Alessandra Leão, Angélica Freitas e Bárbara Santos. Nas oficinas, que vão de fotografia a produção, assumem Alice Castiel, Flora Guerra, Carol Zimmer, Bruna Zanotto e Vitória Proença. “São muitas mulheres envolvidas! E esse encontro é muito, muito emocionante pra mim, é muito louco ver o quanto o Concha já tomou uma vida própria!”, confessa. “É muito por conta dessas mulheres, por conta da identificação, de gostarem de trabalhar com isso. Sempre trabalhei muito com homens e achava que gostava disso porque ‘com homem era mais fácil’, e agora tá tão linda e tão rica essa experiência de trabalhar com mulheres, é tão sensível, tão agradável! Acho que é essa a grande questão, mulheres unindo seus trabalhos, encontrando relações e pontos de comunhão em suas diferenças”, arremata. 

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Em 2019 o Projeto Concha se expandiu! São muitas profissionais nas mais diversas funções. Ao longo da semana vamos apresentando nossa equipe maravilhosa. 🐚✨ Obrigada @naturamusical #naturamusical #proculturars

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A residência artística, iniciada em abril, reúne as 15 artistas – escolhidas entre 52 projetos inscritos – durante oito meses para encontros com o foco no desenvolvimento de seus trabalhos musicais nos mais diversos estilos: “são mulheres muito diferentes: instrumentistas, cantoras, compositoras; do rap, do samba, do regional, do contemporâneo, do experimental; de classe média, alta, da periferia…  um leque tão grande de projetos que é difícil explicar”. O formato escolhido, só entre mulheres, resulta da busca de um lugar seguro para que mulheres possam se desenvolver de forma desinibida: “A música ainda é esse lugar da virtuose, que os homens tocam todos os instrumentos e as mulheres são cantoras-intérpretes e só. A residência vem muito pra quebrar isso, no sentido de dar essa autonomia”, conta Alice, que testemunha: 

– A coisa mais incrível é ver mulheres que entraram inseguras com os seus trabalhos e agora estão se desenvolvendo. A gente tem tudo isso junto, encara as fraquezas e forças uma da outra, dá apoio uma para a outra. Cada encontro é uma potência só! Um exemplo foi a experiência da Juçara Marçal, que veio virada de um show do Metá Metá e deu toda a residência. No aeroporto, eu brinquei ‘Ju, se tu perder o avião, me avisa que eu já te levo pra noitada!’ e ela me respondeu que só ia pra noitada de maca, porque tava morta de cansaço. Mas, já em São Paulo, ela me mandou uma mensagem dizendo que tinha chegado com uma energia tão maravilhosa que resolveu ir no show de uns amigos e que tava triste de não poder ter ficado mais aqui, porque tinha sido muito rico!”, relembra com carinho. 

Agora, com as oficinas, o Concha dá mais um passo, fomentando a incorporação de mulheres no mercado da música: “As oficinas são introdutórias, vêm mais no sentido de apresentar esses lugares, mostrar que elas também podem ocupá-los”, sintetiza, algo que se expande para projeto inteiro. Talvez, o cerne do Concha seja mostrar que as mulheres podem estar onde elas quiserem. “Não tem essa de que técnico de som é só homem, que é só homem que tem que estar no palco. O aprendizado é mostrar que as mulheres podem ocupar, podem ter autonomia; conseguir educar o público, que ele saiba que assistir uma mulher no palco é tão maravilhoso quanto assistir um homem”, declara. 

Em um ano de crescimento, solidificação e vários experimentos, o Concha quer ainda mais. Além dos vários shows que acontecerão até o final do ano, incluindo a apresentação final da residência com as 15 artistas no dia 30 de novembro, Alice compartilha o desejo de firmar parceria com um patrocinador fixo já para o ano que vem, aprimorar os eventos, shows e residências, o lançamento de uma série sobre as mulheres na cena independente além de, no futuro, fazer do projeto também uma agência de booking e empresariamento para artistas mulheres. Se a força das simbologias e dos misticismos estiverem a favor, Concha continuará sendo sinônimo de prosperidade e criação. Para ficar por dentro do projeto, acompanhe-o facebook e no instagram.

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15/08/2019

Brenda Vidal

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