Distâncias e paralelos entre as carreiras de Caetano Veloso e Maria Bethânia

18/07/2024

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Danichi Mizoguchi

Por: Danichi Mizoguchi

Fotos: Divulgação/ Fernando Young

18/07/2024

Entre agosto e dezembro, Caetano Veloso e Maria Bethânia estarão juntos em turnê nacional. Serão 14 apresentações, na temporada que passará por Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Porto Alegre, Recife, Brasília, Salvador e São Paulo. Apesar da maioria dos shows serem em estádios de futebol, a venda dos mais de 320.000 ingressos foi quase como uma gincana. Horas de espera na fila online, sistema travado e ingressos esgotados. 

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Antes mesmo da abertura da venda de ingressos, a situação virou meme. Em O sensacionalista, já depois das vendas terem ocorrido, a manchete era: “Caetano e Bethânia não conseguem comprar ingressos para o show de Caetano e Bethânia”. Neste mesmo período, circulava na internet uma imagem exatamente igual ao flyer de divulgação da turnê, exceto pelo fato de que os nomes foram trocados por “Sandy e Junior/70 anos”. A brincadeira tinha sua graça. 

Obviamente, pode-se localizar com facilidade a graça do conjunto de semelhanças que une as duplas: ambas são formadas por dois irmãos, um homem e uma mulher, cantores, que fazem música popular, famosos, que esgotaram ingressos em estádios. Tirante a idade, a sobreposição das categorias nestes itens é total. Podemos até imaginar Sandy e Junior aos 70 anos e pressupor, agora com outra graça, porque aqui talvez já haja mais dessemelhança do que semelhança, que estarão parecidos com os baianos na velhice – e rir do deslocamento entre as imagens novamente. 

Uma análise apressada talvez distinga Caetano e Bethânia como artistas da alta cultura e Sandy e Junior como artistas da baixa cultura. Na cisão de origem classista, racista e colonial na história da nossa música, os pares seriam excludentes. Nada mais equivocado: definitivamente, não é este o crivo que separa as duas categorias. 

De algum modo, talvez com algum exagero, mas sem medo de macular sensibilidades finas, é até possível dizer que os quatro fazem parte da mesma família – do mesmo phyllum naquilo que em sua juventude Caetano gostava de chamar de linha evolutiva da música popular brasileira.  

Em Tropicalismo para principiantes, texto de 1968, por exemplo, Torquato Neto definiu o que era o movimento nascente: “Assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido. Eis o que é”. 

Em entrevista incluída em Cine Subaé: escritos sobre cinema (1960-2023), Caetano conta que quando estava no exílio londrino, Neville D´Almeida o instigou em relação a ousadia do movimento e a chamada baixa cultura: “vocês, tropicalistas, gravaram ‘Coração materno’ e ‘As Três caravelas’, mas quero ver terem coragem de cantar ‘Cucurrucucú Paloma’– para ele, o ápice de pieguice

A gravação do clássico kitsch mexicano não veio imediatamente, mas, afinal, veio mais de duas décadas depois, no show de Fina estampa (1994), aparecia a versão que se tornou uma joia admiradíssima mundo afora. A famosíssima interpretação de Caetano em Fale com ela (2002), filme de Pedro Almodóvar explicita a bem-sucedida sobreposição entre a cafonice e a sofisticação. 

Bethânia, por sua vez, descama sem pudores essa camada da nossa verdade tropical. Se ela é uma espécie de (abelha) rainha do cancioneiro nacional, é sobretudo pela intensidade de suas interpretações de baladas de amor. Em certo momento, Caetano a define como “a verdadeira estrela dramática do canto”. Poderíamos lembrar da sua belíssima interpretação de “Evidências” em live durante a pandemia, de sua gravação de “Doce viola” ou de “É o amor” – e exemplos de sua performance junto aos apelos desta superfície afetiva popular e profunda da brasilidade não faltariam. 

Quase ao final de seu livro de memórias, Verdade Tropical (1997), Caetano diz ter ouvido de amigos o comentário de que embarcava em muitas canoas furadas: a modernização das telenovelas, o pagode, o axé music e o sertanejo. Na entrevista dada a Geneton Moras quando do lançamento do álbum Noites do Norte (2000), ele disse: “Há nos blocos de axé a responsabilidade de apresentar um produto respeitável. Também há, nas duplas caipiras e nos grupos de pagode, a responsabilidade de apresentar um produto de alta qualidade, dentro daquilo a que se propõem – com exigência, com trabalho, com profissionalismo, com respeito por quem vai consumir”. 

Poderíamos lembrar que a estrela do sertanejo Marília Mendonça é a única artista citada duas vezes no inventário da música nacional contemporânea em “Sem samba não dá”, de Meu Coco (2021). De sua versão de “Mimar você” ou da entrada do funk “Um tapinha não dói” em seu repertório, vaiada por quem não entende o modo de Caetano entender, criar e defender a música do Brasil. 

Se quisermos comprovar que a distância entre as duas duplas não reside neste quesito, bastaria dizer que Sandy foi uma artista especialmente elogiada na entrevista acima mencionada como “uma cantora perfeita, sob o ponto de vista técnico”. E mais: “Posso mostrar a você que, numa gravação da Sandy, a afinação é 100%! Eu levo você ao show da Sandy e você não vai ver aqui um buraco, porque ela entra no tempo certo, tem intensidade de voz certa em relação aos instrumentos, as harmonias estão certas, a afinação é em nível de Elis Regina!’”. 

Genealogias entrelaçadas 

No fio genealógico da relação musical entre seu pai, Xororó, e seu tio, Chitãozinho, Sandy e Júnior são uma dupla. Foi literalmente irmanados que fizeram seu trabalho, desde o fenômeno inaugurado no final dos anos 1980 até 2007 – quando a parceria profissional se encerrou. 

Se o gênero de sua música é pop, a forma do duo vem da familiaridade com a tradição dos sertanejos. A presença pública de Sandy e Júnior ao longo de quase 20 anos fez com que, num juntivo sintético, tenham se tornado e sejam reconhecidos quase como um ente à parte – um ente que, como nas figuras da Gestalt, é mais do que a soma das partes. 

Artisticamente, os dois irmãos eram uma máquina bicéfala quase siamesa. Para dar conta da proximidade e da sintonia entre Gilles Deleuze e Felix Guattari, não raras vezes Eduardo Viveiros de Castro refere-se a um autor duplo. Parafraseando o antropólogo, pode-se dizer que a dupla de artistas campineiros foi um artista duplo. Bochecha com Claudinho, queijo com goiabada, Piu-Piu com Frajola. Amálgama, aglutinação, mot-valise: Sandyejúnior. 

As 175 menções ao nome de Maria Bethânia em Verdade Tropical atestam a proximidade entre ela e Caetano. No capítulo em cujo título aparece o nome da irmã, ele conta como, aos quatro anos de idade, querendo homenagear uma valsa de Capiba famosa à época na voz de Nelson Gonçalves, foi o responsável pela escolha do nome da recém nascida – e, como, desde então, forjaram uma relação cúmplice que se aprofundou durante a juventude. 

Ela tinha catorze, e ele dezoito anos, quando se mudaram de Santo Amaro da Purificação para Salvador. Se Caetano não tinha muita vontade de ir morar na capital do estado, Bethânia, mais radicalmente, não suportava a ideia de deixar a cidade natal. Para ela, lastimosa de saudades do Recôncavo, os primeiros tempos na capital foram de tristeza e desinteresse. 

No começo dos anos 1960, Salvador vivia um momento de atividade cultural intensa, patrocinada pela intenção de Edgar Santos, reitor da Universidade Federal da Bahia, de agregar escolas de música, dança e teatro às atividades acadêmicas tradicionais. Aquela sensação quase totalmente desgostosa de Bethânia com a cidade somente se alterou quando ela aceitou o convite do irmão para assistirem juntos a montagem de A história de Tobias e de Sara, de Paul Claudel, pelo grupo da Escola de Teatro da UFBA.  Depois de se encantar com as atuações de Helena Ignez e Érico de Freitas, Bethânia passou a acompanhar Caetano em todas as idas a concertos, peças, filmes, exposições e festas de largo – e começou a querer ser atriz. 

Passo a passo

Os irmãos foram lançados na música pela mesma pessoa: Álvaro Guimarães. Caetano compôs as canções e tocou piano em uma comédia dirigida por ele. Menos de um ano depois, quando Álvaro montou O Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, a abertura da peça se dava com as luzes todas apagadas e, antes da entrada dos atores em cena, se ouvia Bethânia cantando a cappella “Na cadência do samba”, de Ataulfo Alves

Não muito tempo depois, Caetano fez a trilha de um curta-metragem dirigido pelo mesmo diretor sobre os meninos de rua de Salvador, chamado Moleques de rua (1965), e nela usou a voz de Bethânia. Pouco a pouco, os dois adentraram no meio artístico soteropolitano e assumiram a posição de ponta de lança de algo que necessariamente viria, sem que ninguém ainda soubesse o quê. 

Em meados de 1964, depois do golpe militar, Caetano e Bethânia apresentaram, ao lado de alguns amigos como Alcyvando Luz, Djalma Corrêa, Gal Costa, Tom Zé e Gilberto Gil, dentre outros, dois espetáculos no recém-inaugurado teatro Vila Velha: Nós, por exemplo e Nova bossa velha, velha bossa nova

A proposta conceitual de se posicionar diante do filão da linha evolutiva da música aberto por João Gilberto aparecia em momentos coletivos, que denotavam a tarefa de grupo diante da qual se colocavam, e em momentos individuais, que já caracterizavam os estilos e as singularidades de cada um. 

Sempre que possível, Caetano repete que João Gilberto foi a pedra de toque de tudo o que fez. É verdade que Bethânia participou deste dínamo engatilhado pela admiração pelo bruxo de Juazeiro e pela Bossa Nova – e de tudo o que se moveu quando ambos ouviram junto com alguns amigos o disco Chega de saudade (1959) rodar na vitrola do bar de Bubu em Santo Amaro. 

A admiração não tomou os mesmos rumos para os irmãos: se para Caetano João se tornou o básanos, Bethânia parecia se ressentir, naquilo que desembocou nos bossanovistas, da falta da dramaticidade dos sambas antigos. Quando começaram a ouvir jazz, canções francesas ou da Broadway, por exemplo, ela preferia Judy Garland e Edith Piaf e ele gostava de Ella Fitzgerald, Chet Baker e Miles Davis

Mesmo que não houvesse hostilidade, desinteresse ou desprezo em relação ao gosto do outro, as diferenças se explicitavam – embora Billie Holiday e Amália Rodrigues satisfizessem as papilas olfativas de ambos. Ela lia Carson McCullers e Clarice Lispector, escrevia prosa poética, fazia esculturas em cobre e madeira e costurava para si mesma roupas de cetim roxo. 

Já ele se interessava cada vez mais pelo cinema e pelo aprofundamento da trilha aberta por João. Instalados na cena cultural animada e instigante da cidade, ativamente atuantes, provocados pela diferença, a dupla se divertia na companhia um do outro. Nesta época, certa vez, quando o crítico de cinema Orlando Senna perguntou se eles eram irmãos, o que era raro, já que à época ninguém os achava parecidos, Bethânia respondeu com seriedade: “Não. Somos amantes”.

Caminhos abertos

No verão de 1965, Caetano aceitou o convite de um amigo para passar as férias no Vale do Iguape, entre Santo Amaro e Cachoeira. Por mais que adorasse o amigo e a estância e estivesse desfrutando muito da temporada, subitamente ficou angustiado e obcecado com a ideia de que Bethânia precisava dele e que isso tinha relação com os shows do teatro Vila Velha. 

Mesmo contrariado, obedeceu à premonição e, aproveitando a oportunidade de uma carona, abandonou o veraneio e partiu em direção a Salvador. A estrada passava por dentro de Santo Amaro, e repentinamente ele decidiu parar ali e visitar sua irmã Mabel: “Perguntei-lhe logo se Bethânia estava com ela. Com o olhar espantado ela me informou que claro que não, que Bethânia nem sequer tinha planos de vir para Santo Amaro. Relaxei – meio aliviado, meio decepcionado – e resolvi de uma vez por todas não pensar mais no assunto. Mas pouco antes do almoço – para renovada surpresa de Mabel – Bethânia chegou. Logo perguntei o que tinha havido, se ela precisava falar comigo. Ela achou minha pergunta um pouco difícil de entender: afinal, ela decidira vir para Santo Amaro de repente, sem nenhuma razão especial”. 

Durante o almoço, ela recebeu uma ligação: os produtores de Opinião, peça dirigida por Augusto Boal que era um sucesso no Rio de Janeiro, queriam que Bethânia substituísse Nara Leão. Quase imediatamente, Caetano e Bethânia foram juntos para Salvador, e, no dia seguinte, ela com 18 e ele com 22 anos, embarcaram para a capital carioca.

No espetáculo-manifesto encenado por Nara, Zé Kéti e João do Vale, os atores-cantores entremeavam canções a narrações referentes às questões sociais do Brasil – atitude fortalecida pelas origens de Zé, que vinha do morro, e João, que vinha do Nordeste. O texto, assinado por Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes, potencializava o sentido das músicas de protesto. 

Excluído o nicho soteropolitano que frequentava os shows do Vila Velha, Bethânia era uma desconhecida do grande público. “Carcará”, de João do Vale, já era o ápice do show na interpretação de Nara, mas a verve dramática da novata deu outro tônus ao número que, numa metáfora da luta pela vida na seca, homenageava a força instintiva e brutal com que a ave sertaneja do título ataca, abocanha e devora os borregos. 

A participação em Opinião, especialmente pela interpretação desta canção e pela força que o número ganhou com sua interpretação na segunda maior cidade do país, deu início ao culto nacional em torno de seu nome e de sua voz.

Caetano havia atuado nos shows do Vila Velha, porém, àquela altura, quando foi ao Rio para acompanhar a irmã, ainda não passava por sua cabeça a ideia de se tornar um trabalhador do ramo da música popular. Porém, uma composição sua, “De manhã”, que já constava do repertório de Nós, por exemplo, acabou entrando no repertório de Opinião e saiu como o lado B do compacto de Carcará

Nomes de peso como Elizeth Cardoso e Wilson Simonal quiseram gravá-la – e dali em diante a trilha do destino se abriu. A ascensão de Bethânia no centro do país catalisou o rumo que hoje parece óbvio e desbravou as veredas da música profissional para ele. 

Com o sucesso estrondoso, Bethânia foi convidada a participar do programa de televisão Esta noite se improvisa – cuja regra indicava que o apresentador escolhia uma palavra e o competidor deveria cantar uma canção em que o termo estivesse presente. Em uma lanchonete próxima à TV Record, onde se realizaria o ensaio para o programa, os irmãos treinavam o jogo para o qual se sentia despreparada, a despeito de brincarem deste modo nas mesas do bar Cervantes, em Copacabana, antes mesmo da criação do programa. 

Enquanto ela hesitava, ele respondia rapidamente. Por acaso, o produtor do canal estava nesta mesma lanchonete, e, ao cumprimentar Bethânia, perguntou quem era o rapaz que a acompanhava – e, ao confirmar que era o irmão dela, a quem já conhecia em função da composição de “De manhã”, convidou Caetano para participar do programa. Naquela mesma noite, ele estreou na televisão.

Distâncias e paralelos 

Maria Bethânia já era uma celebridade quando a Tropicália começou a se esboçar, ela carregava a fama adquirida com a participação exitosa no Opinião do país e havia feito um show particular no Rio de Janeiro em que, cantava sambas-canções com fortíssimo peso dramático, distanciando-se enfaticamente da imagem de cantora regional, que poderia pressioná-la com a reverberação da interpretação de “Carcará”. 

Neste mesmo período, Bethânia demandou a Caetano que nunca mais opinasse sobre como ela deveria orientar seu trabalho ou sua vida. Se ela, em busca de autonomia, não queria mais os conselhos do irmão mais velho, em conversas mais raras e mais profundas lhe apresentava, como escreveu Caetano, “uma versão mais consciente e explícita do seu modo típico de me ensinar sobre a vida”. 

Nestas conversas, ela sugeriu que ele prestasse mais atenção à vitalidade de Roberto Carlos e seus colegas de Jovem Guarda. Caetano precisava se preparar para estar à altura da indicação da irmã – o que, agregado à inspiração de João Gilberto, Jean-Luc Godard, Terra em transe (1967), Banda de pífanos de Caruaru, os Beatles e ao talento de parceiros como Gilberto Gil, Os Mutantes, Tom Zé e Rogério Duprat, em breve ganharia uma inflexão radical e tectônica não só nele, mas também no país. Enquanto Caetano organizava um movimento, Bethânia se esquivava dele. 

Caetano define a irmã como alguém que, além de também trabalhar com música popular, foi influência determinante na formação do seu estilo de pensar, criar e cantar canções. Não à toa, é verdade que ele compôs mais de 30 músicas para gravações originais dela. 

É verdade também que, assim que retornou do exílio, em 1972, trabalharam juntos no álbum Drama, que em 1976 ambos partilharam com Gilberto Gil e Gal Costa os Doces Bárbaros, que, emulando o rio da aldeia de Fernando Pessoa, se colocaram juntos na tarefa ecológica de Purificar o Subaé, do disco Alteza (1981), e que no show de aniversário de 80 anos de Caetano, ela estava no palco, descalça como sempre.

É verdade também que, em Caetano Veloso (1971), – disco que é em tudo o reflexo da tristeza depressiva que sentia longe do Brasil – Caetano canta uma canção dirigida para a irmã. “Maria Bethânia, please send me a letter / I wish to know things are getting better”. Na tristeza de estar forçosamente afastado de seu país, é a ela em especial que ele pede notícias boas. 

Também é verdade que quando seus pais iam comemorar as bodas de esmeralda, ela conseguiu uma autorização especial dos militares para que o irmão viesse ao Brasil, e que, dentre algumas condições, a realização de participações de Caetano em programas de televisão. Por fim, é verdade que em Transa (1972), há a gravação de “Mora na filosofia”, samba de Monsueto, que Bethânia havia gravado em 1965 – e tudo isso mostra como, em momentos oportunos, intensos e pontuais, seus trabalhos se atravessaram. 

Mas também é verdade que em 1978, Caetano e Bethânia fizeram a sua única turnê conjunta, show de onde se extraiu seu único disco em duo. À época, Caetano disse: “Eu e a Bethânia, embora ligados afetivamente, nunca estivemos muito juntos profissionalmente”. 

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No release da turnê que começará em breve, o jornalista Claudio Leal escreveu que, em seis décadas de carreira, Caetano e Bethânia “sustentaram um pacto artístico silencioso”.  Por esta relação inusual, curiosa e quase paradoxal, é difícil defini-los como uma dupla – e não se trata apenas das singularidades pessoais: Caetano é um ateu que viu milagres, Bethânia é devota; Caetano tem a veia filosofante e tanto polemista; Bethânia resguarda-se mais; ela é de Gêmeos, ele é de Leão. 

Mesmo que não houvesse signo nenhum, Caetano e Bethânia, são, enfim, muito distintos – ao ponto de muitas pessoas jovens sequer saberem que eles são irmãos. De lá pra cá, cada qual cumpriu sua própria trajetória artística e impactou a seu modo a música popular brasileira. De lá para cá, suas trajetórias foram paralelas: Caetano e Bethânia não são Caetanoebethânia. 

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Danichi Mizoguchi

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