Por trás de “Islas de afecto”: papo e filmografia ao redor do clipe erótico de BEL

17/07/2020

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Divulgação

17/07/2020

A pandemia do – já nem tão – novo Coronavírus tem nos colocado o desafio do isolamento social. Nossas casas se transformam em ilhas nas quais nos protegemos, nos recolhemos e nos mantemos. O clipe de “Islas de afecto”, lançado pela cantora e instrumentista BEL no início do mês, é quase um gatilho para tantos corpos que tem sentido falta de toques de maior intimidade.

Os efeitos que o vídeo, com direção, roteiro e montagem de Bea Morbach, provoca são atravessados pela experiência atual, mas têm como enfoque um debate bem mais antigo e, ainda sim, urgente: a representação dos afetos lésbicos e bissexuais, com um olhar que abranja mulheres cis e trans. O vídeo flerta com a estética soft porn (pornô suave, em bom português) como forma de reivindicar a autonomia da sexualidade das comunidades de mulheres les-bi, que tem suas práticas historicamente objetificadas e fetichizadas (O clipe é para maiores de 18 anos. Se não conseguir acessar no player abaixo, confira aqui).

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BEL – Islas de Afecto (Clipe oficial) from BEL on Vimeo.

BEL recupera: “Há algum tempo eu tinha vontade de ter um clipe pós-pornô, tinha vontade de provocar essa tensão e esse tesão”. Quando sentiu que a canção do EP O Gole Que Presta (2019), produzido por Maria Beraldo e Thiago Corrêa, tinha o clima propício, ela convidou Bea para o projeto. Ela compartilha:

– Foi ela quem me sugeriu fazer um clipe a partir de imagens de arquivo. De cara, achei essa ideia muito forte e começamos a viajar nisso, nesse desejo de pesquisa de pornô, de eróticos, mas que evocassem um lugar de intimidade que a música traz. Com essa pesquisa, começamos a entender que íamos encontrar uma imensidão de conteúdos onde essas relações seriam objetificadas, submetidas a uma lógica patriarcal. E recortar algumas dessas imagens e mudar o contexto delas foi um processo essencial pra reivindicar outras representações. Mas também resgatamos uma filmografia muito significativa, apesar de pouco conhecida, de diretoras lésbicas – e isso é muito importante pra nossa luta, evocar esse arquivo. E aí filmar, produzir novas imagens nossas e contribuir também com a continuidade desse arquivo foi a sequência pra tornar isso algo que realmente tivesse potência pra gente.

Bea tensiona os desafios da pesquisa, que foram inúmeros. A escassez histórica de produções com cenas de afeto entre mulheres no cinema, os constantes estereótipos presentes nas cenas existentes, objetificação, o olhar de diretores homens cis na construção dessas mesmas cenas, além da exaustiva busca por diversidade racial, de gênero e de identidade nas personagens/atrizes. “Começamos pensando em imagens cujos direitos autorais já tivessem 70 anos contados do ano subsequente ao da morte do autor, por conta da Lei de Direitos Autorais. Mas, isso nos limitaria a representações de pessoas vivas até os anos 50. São pouquíssimos os registros desse período, a diversidade nos corpos retratados, então, nem se fala”, atesta a diretora.

Elas resolveram arriscar e prolongar o recorte até à produção audiovisual dos anos 90. Uma busca que envolveu muito refino: um trabalho de deslocamento de fragmentos de imagens possíveis de serem ressiginificadas apesar de seus contextos. Sobre o resultado final, Bea compartilha: “Acho que o clipe pode interessar pessoas que curtem pensar sobre essas políticas de representação do corpo a partir de uma sensibilidade de mulheres feministas – gosto de falar em feminismos sempre no plural”.

Novos sentidos são produzidos a partir dessa parceria, que conta com imagens captadas pela equipe – toda feita por mulheres les-bi – das atrizes Lorrane Motta e Clarissa Ribeiro. Além de aprofundarem os caminhos do processo criativo do clipe “Islas de Afecto”, Bel e Bea compartilham não só a lista dos filmes presentes, como também um link com os longas disponíveis para você assistir (confira ao fim da matéria).

Antes de se jogar na maratona de filmes, aproveite para anotar na agenda: BEL se apresenta no “Música no Deck”, série de lives organizadas pelo SESC Santana, no sábado, dia 18 de julho. Para conferir, só acessar os canais do SESC Santana no Facebook, Youtube e Instagram às 19h!

Lista de filmes presentes no clipe Islas de Afecto (por ordem cronológica) :

“A raposa” (1967)
“A esposa do pirata” (1969)
“Escravas do desejo” (1971)
“Mulheres em revolta” (1971)
“As cangaceiras eróticas” (1974)
“Superdyke” (1975)
“Mulheres que eu amo” (1976)
“Viver desesperado” (1977)
“Ariella” (1980)
“Freak Orlando” (1981)
“O olho mágico do amor” (1982)
“Onda nova” (1983)
“Paixões em tempo de guerra” (1983)
“Amor maldito” (1984)
“Thelma & Louise” (1991)
“O par perfeito” (1994)
“A mulher melancia” (1996)
Para assisti-los, clique e se jogue aqui.

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17/07/2020

Brenda Vidal

Brenda Vidal