A tarde do primeiro dia do Primavera Sound começou tranquila, pelo menos pra mim. O recinto do Fórum, ao lado do mar, ainda estava meio vazio, aquele cheiro de início de maratona musical no ar. Perdi o show de Women, mas consegui chegar a tempo de ver The Tallest Man On Earth no palco da Pitchfork. Um público reduzido, mas aparentemente fiel, apoiou a voz e o violão de Kristian Matsson, o sueco mais americano que já vi. Folk gostoso, luz de pôr-do-sol, quase poético.
Depois foi o momento de reconhecimento do território: 4 palcos, uma praça de alimentação, um espaço My Space para shows acústicos e outro da Ray Ban para entrevistas coletivas. Cerveja a 2 euros, água, 1 euro. Not bad. Será a crise forçando os organizadores a baixarem os preços tipicamente salgados de festivais europeus?
Apesar de um pouco contrariada porque este ano não deixavam a imprensa entrar na área VIP (onde serviam cerveja de graça), não pude me queixar. Pude curtir alguns privilégios da zona reservada a nós, escravos da mídia, como por exemplo zona wi-fi (já era hora!), banheiro sem filas e bar vazio. Outra coisa que não estava nada mal era o fato da sala de imprensa estar bem na frente do palco principal.
Estava eu bem bela sentada numa mesinha quando começou Yo La Tengo. A banda abriu com uma barulhenta catarse sonora, grutando bem alto óia nóis aqui traveiz. O show fluiu com mais delicadeza – não tanta pra conter a galera que pulava freneticamente – e foi fechado com a otimista “Mr. Tough.”
Já era hora de Phoenix, no palco Rockdelux. Um show dançante e bonitinho como sua música, que deu uma animada legal e abriu a noitada às 23:30.
Dei uma escapada ao espaço Ray Ban pra escutar um bate-papo (meio frouxo, pra dizer bem a verdade) com Ebony Bones e The Horrors, até que começou My Bloody Valentine no placo Estrella Damm.
Sem dúvida, a hora de pico da quinta-feira. Os shoegazers de My Bloody Valentine mostraram pela segunda vez consecutiva no festival, que sua volta não é um simples reencontro comemorativo. As distorsões e reverberrações digitais encheram o ar do Fórum e chegaram a doer no ouvido de muitos, que cobriam as orelhas com as mãos. Protetores auriculares bem úteis neste momento. Gracias, organização do Primavera!
A hora seguinte ficou dividida entre The Horrors e Aphex Twin. Alguns problemas técnicos no microfone de Faris Badwan o deixaram ainda mais furioso, o que deu uma catapultada na sua interpretação. Nós que estávamos na área de fotógrafos sentimos certa tensão porque parecia MESMO que ele ia jogar alguma coisa na gente. (Momento digressão: minha Canon 350D deu um pouco de vergonha comparada aos canhões que a galera exibia ao meu lado, mas não dava pra se esconder. O negócio era inchar o peito e subir na ponta dos pés. Se meter no meio dos grandões e tentar a melhor foto. “Cara-de-pau”, eis uma palavra que vai te ajudar muito nessa vida).
Até consegui espiar os pedais do Joshua, desenhados e re-estruturados por ele mesmo – é o que dá aquele som ainda mais garage às guitarras. Só não rolou foto. Na mesma hora, rolava Aphex Twin, que fui dar uma conferida a partir da metade até o final. Os vídeos (muitos criados por Chris Cunningham) enfatizavam o acid techno eletrizante. A massa ia à loucura. Já eram 3 da manhã.
O meu fôlego durou só até Ebony Bones, no palco Vice-Rayban. O grupo é inclassificável, Ebony Thomas é uma daquelas doidas de carteirinha que faz todo mundo pular. Da back vocal de cabelo azul ao guitarrista asiático com fantasia de índio-samurai, a banda é um verdadeiro circo (ou carnaval). Com esse encontro entre M.I.A., Björk e Cirque du Soleil encerrei a quinta de Primavera. Hoje tem mais.