O que é mesmo o LCD Soundsystem?

11/02/2011

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Por: Revista NOIZE

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11/02/2011

Na ânsia por definir a música do homem à frente do LCD Soundsystem, apela-se para termos como disco punk, electropunk e dance punk. No entanto, é o que as une – o punk – o mais próximo que se chega de uma explicação para o trabalho do nova-iorquino James Murphy, para a coerência que seu projeto manteve em toda a trajetória e a chave para se entender seu iminente fim. Depois de alguns shows de despedida, incluindo três no Brasil (17/2 no Rio, 18/2 em Sampa e 20/2 em Porto Alegre), Murphy encerrará o mais importante capítulo de sua carreira tocando no imponente Madison Square Garden, em Manhattan. Para um artista avesso aos encantos do showbizz, um final tão grandioso quando sintomático.

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“Eu já dei mais entrevistas que os quatro Beatles juntos ao longo de toda carreira da banda”, contou ao The Guardian, em meio a declarações sobre as proporções descabidas que bandas provenientes do underground assumem com o hype. Antes de tornar-se um amálgama pop, eletrônico e alternativo, capaz de atrair mais admiradores do que poderia prever e desejar, Murphy carregava, no cérebro criativo, mais dúvidas que certezas.

O material sobre as origens de James Murphy é disperso, confuso e conflituoso. Sabe-se que em fins da década de 90, era um DJ cujas aspirações musicais tinham como background uma longa adolescência ligada ao punk e o pós-punk. Enquanto buscava dar um norte à vida com a chegada dos 30 anos, viu surgir em Nova Iorque bandas como o The Rapture e o Radio 4, que faziam um certo resgate do dancepunk – derivação natural do pós-punk – e afirmavam a música eletrônica como elemento fundamental no rock alternativo do início do século 21. Nesse contexto, James Murphy e o amigo Tim Goldsworthy, recém chegado da cena eletrônica londrina, juntaram-se para criar a DFA Records, selo que passaria a lançar as bandas desta cena emergente, ao mesmo tempo em que Murphy dava início ao LCD Soundsystem.

Foi a DFA que, em 2001, lançou “Losin My Edge”, o primeiro single do LCD Soundsystem. A música encontrou um ambiente receptivo a seus 7 minutos de lenta progressão. A cena nova-iorquina, então tão sensível ao electro quando ao punk, abraçou os beats crus e a base sintética sobre os quais Murphy apenas falava, da mesma forma que fizeram Jello Biafra, do Dead Kennedys e Fred Schneider, do B-52s, 20 anos antes. No entanto, demoraram três anos para que LCD Soundsystem, o disco, chegasse às ruas e Murphy finalmente passasse a colher reconhecimento mais amplo pelo seu trabalho autoral.

Em “Losing My Edge”, Murphy discursa sobre os jovens de 2001 que se orgulham de um conhecimento musical vasto e preciso, graças à internet – mas que não viveram nada que ele viveu: não foram aos shows de grandes bandas, não conheceram as bandas obscuras quando estas tocavam em inferninhos underground, nem ostentam uma coleção de discos construída em paralelo à própria história. Mais do que isso, “Losing My Edge” é uma forma de auto-repreensão por se importar com isso, um sintoma de estar envelhecendo não só em corpo, mas em espírito. Em pouco tempo, esses mesmos jovens se orgulhariam por conhecer o LCD Soundsystem e Murphy seria a representação do cool.

Prova cabal disso são a nota 8.2 e as duas notas 9.2 atribuídas pela Pitchfork a LCD Soundsystem, Sounds of Silver e This Is Happening, primeiro, segundo e terceiro discos do LCD, respectivamente. Detentores do saber indie, os críticos da Pitchfork parecem ter assumido a música do grupo como parâmetro para si própria: se na primeira resenha, declaravam ser discutível a capacidade de Murphy fazer grandes álbuns, nas subsequentes, não esperavam mais do que a manutenção do padrão para lhe atribuírem dois enaltecedores 9.2. Na época em que o pop dispunha do respaldo de música de primeira linha, Murphy estabeleceu a ligação entre o mundo de glamour e afetação, a que não pertencia, e uma certa crueza canhota herdada de tótens não tão distantes, como o Velvet Underground e Brian Eno.

É a música concisa e contagiante desses três discos que o quarentão Murphy tocará nos shows da Popload Gig. O setlist deve ser focado em singles como “Losing My Edge”, “All My Friends”, “Drunk Girls” e “Time To Get Away”. E que venham com a mesma energia que sobra nas performances abaixo:

Aguarde, semana que vem tem mais posts bacanas sobre o LCD, com muita música que influenciou Murphy e muita música que ele criou tocada por ele e por gente grande que deve tê-lo feito chorar.

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11/02/2011

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