Resenha | Courtney Barnett: entre a implosão e a explosão

23/02/2019

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Ariel Fagundes

23/02/2019

Verão brasileiro é garantia calor durante o dia e noites igualmente quentes. E é mais ou menos desde sempre que sabemos que no mês de fevereiro tem carnaval, como nos ensinou Jorge Ben Jor. Talvez, aproveitando
a brecha do começo deste ano ter se espichado com um Carnaval no mês de março, fevereiro abriu uma exceção para receber o rock’n’roll. Pelo menos, foi essa a façanha que Courtney Barnett conseguiu realizar nos dias 21, em São Paulo, e 22, em Porto Alegre, através do Popload Gig.

No show que rolou em Porto Alegre, ao entrar no Bar Opinião, um palco com iluminação vermelha e luzinhas de natal brancas espalhadas pela estrutura já davam o tom do universo intimista, reflexivo e acolhedor das composições de Tell Me How You Really Feel (2018), disco que originou a turnê com a qual a cantora e guitarrista fez sua segunda visita ao Brasil, três anos depois da sua estreia em terras tupiniquins.

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A dois minutos do show começar, já se via a pista cheia de rostos avermelhados pelos holofotes. Plateia reunida para conferir a performance da australiana de 31 anos que fez sua levada rock’n’roll ser comemorada como um grande sopro de novidade da cena de atual do gênero, além de posicioná-la como uma super referência de artista mulher e assumidamente lésbica com um domínio absurdo da guitarra e uma discografia celebrada. Sometimes I Sit and Think, Sometimes I Just Sit (2015) e Tell Me How You Really Feel fixaram seu nome nas listas de melhores artistas da atualidade e melhores discos.

Foto: Ariel Fagundes

Foto: Ariel Fagundes

Foto: Ariel Fagundes

Depois de sentar, pensar e escutar a si mesma e aos outros sobre como eles realmente estavam, às 21h01min, os primeiros riffles de guitarra foram ouvidos, rompendo pelos amplificadores. Os pedestais e a bateria foram ganhando a companhia de Courtney e seus músicos: o baterista Dave Mudie o baixista Bones Solane, que foram devidamente recepcionados pela vibração, gritos e afetos do público com frases de “We Love You”. Courtney, com o básico combo “blusa branca, calça preta”, chegou tímida como sempre, já se curvando para acomodar a guitarra e abrir a noite com a faixa “Hopefulessness”.

É visível a ligação de Courtney com a guitarra. É como se o instrumento fosse sua armadura: com ela junto do corpo, a artista se transforma. Toda a extroversão contida passa dos dedos para as cordas. Courtney se comunica através dos acordes e distorções que embasam sua voz e suas composições. Logo depois da primeira faixa executada, mais gritos empolgados e uma das algumas trocas de guitarra que rolaram durante o show.

Foto: Ariel Fagundes

Ainda sob as mesmas luzes vermelhas, ela já deixa escapar sorrisos e emenda para outra canção do álbum mais recente com “City Looks Pretty”. A cada solo de guitarra, o público era absorvido e reagia com mais entusiasmo quase encobrindo o “thanks” da cantora. Com a plateia já aquecida, foi a vez de “Avant Gardener”, do EP How To Cave a Carrot Into A Rose (2013), com coro reforçado dos fãs. Aí, Courtney conversou rapidamente pela primeira vez com o público, fazendo questão de mostrar ao que veio com um “Olá, sou Courtney e hoje vamos cantar e tocar algumas músicas para vocês”.

Com “Need a Little Time”, um pouco mais suave, já sabíamos que a cantora não tinha tempo a perder. Cada faixa vinha na sequência uma da outra, com pausas quase partituradas entre música – grito do público – goles de algo que parecia ser chá – mais uma música. Às vezes um “obrigada”, em português mesmo, incrementava a modus operandi.

Entre as levadinhas de “Nameless, Faceless”, “Small Poppeis” – primeira no set de Sometimes I Sit and Think, Sometimes I Just Sit-, ela se soltava guiada pela guitarra. Com sorrisos cada vez mais abertos, ela rodopiava pelo palco, deixava o corpo como um pêndulo que se movia pelo peso da guitarra pra frente e pra trás; subia na plataforma do baixista e se aproximava da galera, sempre com as mãos ágeis entre as cordas da guitarra. A parte intimista, com levadas mais calmas, veio com “Depreston”, com um climinha todo especial com o público cantando junto, gentileza recebida com os afetuosos sorrisos e balançadas de franjinha de Courtney. Em sequência vieram “Are You Looking After Yourself”, “Sunday Roast” e “Lance Jr”, antecipada por um “Vamos cantar?” em português da cantora. O ambiente foi ficando cada vez mais acolhedor, em sintonia com banda e artista; uma atmosfera de intimidade na qual todos se sentiam no universo da cantora, embalados pela faixa “Charity”. O explosivo hit “Pedestrian at Best” foi a escolhida para fechar um hora de apresentação.

Foto: Ariel Fagundes

Foto: Ariel Fagundes

Foto: Ariel Fagundes

Com um “Thank U”, Courtney e banda deixaram o palco para se aquecer ao som das palmas e aclamações com o nome da cantora até o momento do bis. Sozinha, ela retornou sob uma luz branca para cantar “Let It Go”, composição do disco em parceria com o músico Kurt Vile, Lotta Sea Lice (2017). Em silêncio, os fãs apreciaram um dos momentos mais pessoais e emocionais do set. Já acompanhada dos parceiros de palco, foi a vez das derradeiras “Kim’s Caravan” e “History Eraser”, com direito a plateia cantando juntinho do início ao fim. Com uma última erguida na guitarra, ela deu seu acorde final e, seguida de um abano em agradecimento, pôs fim à apresentação.

O tal rock’n’roll tem a ver com ir direto ao ponto. Courtney consegue ser objetiva, sem abrir mão de uma energia de acolhimento. Tudo isso provando, ao vivo, porque é uma das guitarristas mais celebradas da cena atual. Ao final de tudo isso, se fôssemos reagir ao questionamento do último disco, a resposta sobre como a platéia realmente estava se sentindo só poderia ser positiva.

Foto: Ariel Fagundes

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23/02/2019

Brenda Vidal

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