Resenha | Lazaretto – Jack White

10/06/2014

Powered by WP Bannerize

Paula Moizes

Por: Paula Moizes

Fotos: Divulgação

10/06/2014

Um dos caras mais influentes e respeitados da música atualmente acaba de lançar seu segundo disco solo. O fato de que ainda está apenas no número dois só reforça o fato de que, quando trata-se de Jack White, é preciso prestar atenção.

E não é porque o fundador da Third Man Records gravou e prensou Lazaretto mais rapidamente do que qualquer outro artista na história que ele merece admiração. White é visionário e está constantemente em busca de algo novo, que quebre padrões. Em tempos em que a originalidade é escassa, isso é de se louvar. Ele não só busca como também consegue ultrapassar seus limites e cria coisas como o White Stripes, que está presente em Lazaretto.

*

Mas o sangue que corre em Jack White já não é mais vermelho, preto e branco. Agora ele é azul como os grandes bluesmen Son House e Willie Dixon. A mesma coloração que começou no disco anterior e agora se intensifica em Lazaretto. Azul como Jack White, um músico praticamente autossuficiente. Tanto que ele encontrou inspiração pra continuar esse álbum nele mesmo, só que mais novo: em monólogos e poemas escritos quando tinha 19 anos.

jack white 3

O fato dele colocar em evidência a cor azul nos trabalhos recentes não deve ser descartado. White é um homem supersticioso. O número 3 se repete em toda sua vida: o White Stripes só usava 3 cores, o nome da gravadora dele chama-se Third Man Records, o número 3 ou apenas III é visto em diversos de seus objetos como palhetas… White começou a usar o 3 desde que ele trabalhava em uma loja de estofados e o 3 era o número mínimo de grampos para estofar algo. Mais uma vez, o passado de White nos dá pistas.

Por isso, o azul em diversas tonalidades presente nos últimos dois discos de White só reforça uma coisa: o começo de uma nova fase na vida de quem tem muita coisa pra experimentar ainda. Mas não é o mesmo White inovador de anos atrás. O azul também é uma referência à realeza e a White em outro patamar – suas roupas arrumadas sempre acompanham chapéu e anéis sugerem que ele se identifica com uma época em que reis e rainhas faziam sentido.

As faixas de Lazaretto vão das guitarras frenéticas do White Stripe e vocais estilo Beastie Boys às canções caipiras de White que desde os discos com Meg White já apareciam aleatoriamente. No meio de tudo isso, tem ainda uma instrumental à la Jack White, só pra mostrar o quão bom seria um disco com mais pirações instrumentais dele.

O jovem White de 19 anos em que o próprio se inspirou era exatamente o que o White moderno precisava: uma dose inexperiente de paixão pela vida. O efeito foram as faixas mais fortes do disco: “Three Women”, “Lazaretto”, “High Ball Stepper”, “That Black Bat Licorice” e “Just One More Drink”. Músicas que você tenta acompanhar a letra desde a primeira vez que as ouve – o que inclui até mesmo os “ooh ooh” da faixa instrumental. Por algumas semanas, cantei um trecho de “Lazaretto” de qualquer jeito, até que descobri que White canta em um espanhol bem estranho: “Yo trabajo duro; Como en madera y yeso”. Diz ele que queria falar sobre seu trabalho duro de um jeito diferente, por isso o espanhol.

Dessa injeção de jovialidade saíram as composições fortes que têm o mesmo rock pegado do White Stripes, The Raconteurs e Death Weather. Só que em Lazaretto as guitarras frenéticas de White ganham reverbs, violinos, vozes femininas e uma bateria funk de requebrar o pescocinho. Aliás, as referências à mulher estão muitos presentes na voz, no violino e nas letras do disco.

Depois de duas faixas fortes, “Three Women” e “Lazaretto”, ele mostra seu lado mais caipira com “Temporary Ground”, que é seguida por um combo crucial para o álbum. White clama pelo amor sincero e apaixonado na apoteótica “Would You Fight For My Love?” – o sample de “The Hardest Button To Button”, do White Stripes, não nega a influência da dupla no álbum – e brinca em “High Ball Stepper” com um pedal que reproduz os sons de trás pra frente.

As cinco últimas faixas de Lazaretto têm muito dessas composições caipiras dele, que pessoalmente não me tocam tanto quanto músicas como “That Black Bat Licorice”, a exceção do final do disco e um soco no estômago no meio de tantas composições tranquilas. É o mestre White fora de controle cuspindo letras, palavras e frases.

Lazaretto é um disco denso, com harmonias bem trabalhadas e faixas pra todos os gostos, de um rock distorcido ao country. O disco finaliza com os corvos de Blunderbluss em “Want and Able”, outra canção do interior que poderia ser resumida na frase “querer não é poder”. Mas o que Jack White tanto quer e não consegue? Voltar a falar com Meg White? Voltar para sua ex-mulher Karen Elsen? Parar de brigar com Dan Auerbach? Ou é apenas mais um dos personagens que White cria em suas letras?

No final das contas, Lazaretto tem vários lados de Jack White: o experimental, o descontrolado, o caipira e o cômico. Quem ganha com isso somos nós, que podemos escutar um disco cheio de composições diferentes e coesas – até mesmo o fuzz que White tanto gosta é usado com destreza, sem nos cansar os ouvidos. Que grande fase azul de Jack White.

Tags:, , , ,

10/06/2014

InfinitA
Paula Moizes

Paula Moizes