Resenha | Pearl Jam, Liniker, Byrne e Brown levantam a multidão do Lolla

25/03/2018

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Carolina Santos

Por: Carolina Santos

Fotos: Divulgação

25/03/2018

Para quem decidiu enfrentar o sol a pino no segundo dia do Lollapalooza Brasil 2018, teve uma compensação: o último show do, como eles mesmos chamam, ciclo, da banda Ventre no palco Ônix. As projeções super nostálgicas criaram um clima lindo. Teve Larissa Conforto, baterista da banda, quebrando tudo literalmente, inclusive a bateria. Foi um show de sangue e suor.

Por falar em suor, a ausência de locais com sombra faz com que o público busque abrigo até atrás das bandeiras do evento, das houses em frente aos palcos, onde tiver sombra vai ter um aglomerado de pessoas tentando se refugiar. Ainda mais os fãs de Pearl Jam já vestidos de preto e camisetas da banda. Os que ainda não estavam guardando lugar na grade do palco principal circulavam por aí em grande quantidade.

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Tagore abriu o Palco Budweiser em seguida, com uma vibe psicodélica incrível. Poucas pessoas conferiram ali as canções dos pernambucanos super simpáticos e tranquilos no palco. Pontuais, passearam entre hits dos seus dois álbuns.

Chegando pra conferir Liniker e Os Caramelows, não muito depois, a multidão já era maior, e pulsante. Quando as coisas já estavam no talo, ela chama Tássia Reis e depois Linn da Quebrada entra no palco, e aí não teve quem se importasse com sol. Quem percebeu de longe, desceu a lomba do Palco Ônix correndo pra conferir. Logo após a canção “Zero”, sucesso absoluto, que contou com capela da plateia e muita emoção, o retorno de áudio queimou. A banda saiu do palco por dez minutos, aguardando as providências do festival, que não conseguiu ajeitar a tempo o problema. Liniker e banda voltaram ao palco, emocionados, e tristes, por terem o show encurtado em função da falha técnica.

Aí você se depara com Tash Sultana, no Palco Axe, em transe, tocando todos os instrumentos possíveis, fazendo beat box enquanto toca flauta peruana, sendo literalmente a banda de uma mulher só. Ela realmente não precisa de mais pessoas naquele palco porque seria impossível prestar atenção em qualquer outra coisa. Para alegria de muitos, Kaleo seria no palco ao lado, então menos correria no sol.

Os queridinhos do O Terno fizeram show no Palco Axe ao mesmo tempo que Anderson .Paak arrebentava no Budweiser. Com aquela tranquilidade e elegância, Tim Bernardes e companhia tiveram coro na maioria do repertório, com destaque para “Culpa” e “Como Eu Me Iludo”. Já Anderson lá no outro lado mostrou todo o seu rap poderoso e feliz. O rapaz animou até quem não conhecia seu trabalho. Muitas referências, plateia já cheia, pra conferir o rapaz tocando bateria, dançando e gerando um “poxa eu queria ver esse show mais vezes na minha vida”.

E a maratona de Lolla chega ao lendário David Byrne, que foi incrível, mas deslocado em relação a outras atrações. Colocando lá no Ônix, assim como Imagine Dragons, tinha público para ser palco principal. Os mais jovens não entenderam muito bem aquele senhor junto a 11 pessoas no palco. Pelo caminho até a atração ouvi um “Dávid Bãrne? Que isso?”. Mal sabem que isso é um jovem de 65 anos que liderou o Talking Heads, referência para muitas bandas novas que tocaram por ali no dia. Foi eclético, alegre, e para muitos talvez algo semelhante a um jogral. Com todo o perdão, mas Byrne tem talento pra fazer o show que ele bem entender, e faz com maestria. Temos poucas atrações nacionais que contam com essa teatrealidade, talvez seja um dos fatores para a falta de compreensão no festival.

E então mais um gigante entra no palco: Mano Brown. Showman, respeitado, teve plateia lotada mesmo com o público já se aglomerando no palco ao lado para ver Imagine Dragons. E o baile que ele deu ninguém poderia colocar defeito. Tocou seu álbum solo, Boogie Naipe, e o que queria mesmo era dançar. O público foi dispersando por causa da banda ao lado, que começaria ao final do show dele, e ninguém queria perder um bom lugar. Mas isso não fez o cantor esfriar, pelo contrário.

Ao mesmo tempo The National tocava no palco principal. Parênteses: essas caminhadas pra lá e pra cá no Autódromo cansam demais. Tem que ter pique e força de vontade. Mas quem é fã do The National viu uma boa apresentação da banda, que não se intimidou, com Matt Berninger jogando objetos na plateia e mostrando que mereciam mesmo o Grammy de álbum alternativo. Mas poderia ter sido atração em um dos palcos menores, talvez?

Ok, e lá vem um dos mais esperados shows da noite: Imagine Dragons. Com Ônix lotado. Mar de gente, pessoas até onde sua vista alcançasse, cantando todos os hits pop da banda. O vocalista Dan Reynolds enloquecido com a vibração da galera, desceu do palco, cantou com vontade. Mas, quem estava no final do mar de gente quase não escutava as músicas. Eles gostam daqui e deixam bem claro durante seu terceiro show no país. De “Thunder” a “Radioactive”, a atração é para chamar atenção de todos os públicos. O som não deu conta, e isso fez com que muitos desistissem para já se direcionar ao Pearl Jam.

Nesse show, que já acumulava público fiel desde a tarde, confesso que já estava bem cansada. Mas me posicionei na frente, e sim, o público era em sua maioria mais velho, cantando todas as músicas. E foi muito massa ver isso acontecer. Pessoas que embalam suas vidas ao som dessa e de outras bandas mais antigas estavam ali num show mais família mesmo, alegres demais e desistindo de se conter para fazer sinal de rock com as mãos e cantar mesmo que fosse com erros. Música é isso, sentir, emocionar, e Pearl Jam faz isso tão bem que acumulou gente e levou a um festival pais acompanhados de filhos, vestindo camiseta da banda, pra assistir e participar daquelas duas horas de show. O carinho do Eddie Vedder com o público, tentando se comunicar em português e não perdendo o folego ou afinação em 25 músicas, no auge dos seus 53 anos. Os caras sabem fazer um show.

Ao final, aquela dificuldade básica de ir embora. Para quem não sabe, o Autódromo é retirado da cidade, e com mais um dia lotado, retirar 100 mil pessoas de lá requer certo tempo. Voltei de transporte público porque as cifras de tarifa dinâmica iam longe. Foram muitos trens lotados e baldeações, sem poder reclamar do ótimo atendimento da CTPM sempre muito tranquila orientando a galera. Eram multidões silenciosas e de cara fechada, cansadas planejando chegar mais tarde no dia seguinte devido ao cansaço.

Mas bem, ninguém quer perder Liam, Lana e The Killers né?

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25/03/2018

Social Media e frequentadora assídua do Twitter (@caroldeverdade).
Carolina Santos

Carolina Santos