Stones em SP | Hits, lados B e o “beijinho no ombro” de Mick Jagger

25/02/2016

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Renan Pereyra

Por: Renan Pereyra

Fotos: Camila Cara/Divulgação

25/02/2016

Novas e velhas gerações se reuniram nesta quarta-feira (24), no Morumbi, em São Paulo, para acompanhar a apresentação de uma das bandas mais relevantes da história do rock and roll: The Rolling Stones. Apesar de estarem na casa dos 70, Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts esbanjaram energia em pouco mais de duas horas de show, como se fossem adolescentes. Uma verdadeira celebração à vida para 65 mil pessoas.

Cheguei ao Morumbi com mais dois amigos por volta das cinco da tarde e o clima já era de total descontração: bares lotados, fãs com camisas da banda para todos os lados, casais apaixonados e vendedores dos mais diversos produtos. Estes, aliás, destacaram-se pelo marketing inusitado – que, se não convencia, ao menos tirava um sorriso, ou uma gargalhada, dos transeuntes. “Capa de chuva R$5. Se chuviscar é R$10”, dizia um ambulante. “Olha a catuaba! Quem é que aguenta assistir isso sóbrio?”, berrava outro.

*

Entre uma cerveja e outra, despedi-me dos meus companheiros – que ficariam na pista comum – e fui cumprir minha missão. Sobre a premium: não ficou totalmente lotada em momento algum, fato que acabou compensando o alto valor investido pela galera que optou pelo setor. Já os preços praticados no local não agradaram muito o público, mas em festivais os valores costumam ser ainda mais “salgados”. Você podia comprar uma cerveja por R$10 (e ganhava um copo personalizado do Rolling Stones). Lanches não saíam por menos de R$16.

Pontualmente às 19h, os Titãs subiram ao palco e fizeram o chamado “feijão com arroz”: hits atrás de hits, sem perder o foco. O público resistiu a se concentrar na apresentação, talvez pela incessante chuva que caía na Terra da Garoa, mas logo se rendeu ao clima de festa empregado pela banda. “Cabeça Dinossauro”, “Polícia” e “Comida” foram algumas das faixas que empolgaram. Às 19h40, o grupo se retirou do palco, despedindo-se com o velho clássico de Raul Seixas, “Aluga-se”.

Aproximava-se então o grande momento e o público começava a se espremer para assistir à grande atração da noite, enquanto o telão mesclava imagens da bandeira do Brasil e desenhos da banda no melhor estilo pop art. Após 18 anos sem tocar em São Paulo, a banda surgiu repentinamente com os riffs de “Start Me Up”, levando todos à loucura. A apresentação seguiu performática e frenética, com a clássica “It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)”, a ótima “Tumbling Dice” e “Out Of Control”, do disco Bridges to Babylon (1997).

Alternando entre o português e o inglês, Jagger não se limitou ao tradicional “obrigado” e conversou o tempo todo com a plateia. “É incrível estar no Morumbi pela primeira vez. 18 anos, não? Não acredito, Sampa”, afirmou. Em outro momento, sorridente, mandou um “e aí, moçada! Seus lindos”. Mas o momento inusitado da comunicação ficou por conta de uma referência ao hit da funkeira Valesca Popozuda. “Beijinho no ombro”, disse, fazendo o consagrado gesto.

Voltando ao show, é inegável que existe uma aura na forma como os caras dos Stones se relacionam entre si. A troca de olhares, os movimentos… tudo leva a crer que eles estão realmente se divertindo como se fosse o primeiro show de suas vidas. É o retrato de uma banda que envelheceu de corpo, mas não de mente. E que não deixou que o rock and roll se tornasse apenas seus empregos chatos. E isso ficou evidente em músicas como “Worried About You” e “Paint It Black”, tocadas logo após da revoltada “Bitch”, escolhida pelo sábio público em uma votação online.

Na metade da celebração, Keith Richards se apoderou do bom e velho violão para executar a country “You Got The Silver” e, na sequencia, cantou também “Happy” (essa com destaque para a slide guitar de Ron Wood). Aliás, o entrosamento dos dois guitarristas é um dos grandes trunfos dessa longa jornada. Enquanto Richards executa solos com maestria, como em “Midnight Rambler”, Wood tem seu jeito todo específico de tocar sua Telecaster de olhos fechados. Bonito.

A festa prosseguiu com “Miss You”, com presença da banda toda na passarela, “Brown Sugar” e “Gimme Shelter” – destaque para a voz marcante e performance de Sasha Allen, que cantou a música em dueto com Jagger e roubou a cena em vários outros momentos. Já se aproximando do fim, mas com o público ainda bastante empolgado, os Stones tocaram dois clássicos que não podiam faltar: “Sympathy For The Devil” e “Jumping Jack Flash”.

Mas o melhor da noite ainda estava por vir: no bis, os caras mandaram “You Can’t Always Get What You Want” (com participação do Coral Sampa) e fecharam com, claro, “Satisfaction” – ambas cantadas aos berros pelo público emocionado. Apesar de óbvio, o repertório da banda convenceu e é para isso mesmo que eles vieram. Despedindo-se da plateia com ar de satisfação, eles não se cansaram de agradecer aos fãs e demonstraram mais uma vez que humildade é uma das receitas do sucesso estrondoso que já dura mais de 50 anos.

Saindo do estádio ainda tive tempo de curtir uma intervenção do projeto CRMK, que leva música a diversos lugares a partir de uma kombi. As apresentações atraíram principalmente a galera mais chapada, que não queria abandonar as ruas por nada. Por fim, degustei um lanche num food truck na Jorge Saad e voltei para o carro. Uma noite que ficará na memória por muitos anos, com certeza. Ainda sobre os imortais Stones: espero estar vivo na próxima vez que voltarem a São Paulo. Quem sabe daqui a 18 anos.

Setlist:

1. “Start Me Up”
2. “It’s Only Rock ‘n’ Roll”
3. “Tumbling Dice”
4. “Out Of Control”
5. “Bitch”
6. “Beast Of Burden”
7. “Worried About You”
8. “Paint It Black”
9. Honky Tonk Woman
10. “You Got The Silver”
11. “Happy”
12. “Midnight Rambler”
13. “Miss You”
14. “Gimme Shelter
15. “Brown Sugar”
16. “Sympathy For The Devil”
17. “Jumping Jack Flash”

BIS
18. “You Can’t Always Get What You Want”
19. “Satisfaction”

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25/02/2016

Renan Pereyra

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