Resenha | Tremendão: “Os tempos mudaram”

05/11/2014

The specified slider id does not exist.

Powered by WP Bannerize

Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

05/11/2014

Fotos: Ariel Fagundes

Toda vez que escuto Erasmo Carlos, eu sinto vontade de abrir um pouco a camisa e ficar no bar até mais tarde. “Cachaça Mecânica” é e sempre será meu hino de carnaval. E nunca conseguiria escutar “Cavalgada” como uma música brega, pelo lado pejorativo da palavra. Mas, como ele próprio diz depois de tomar um gole de água na frase que usa para começar seus shows há 4 anos: “Os tempos mudaram”.

*

Sempre gostei mais de quando Erasmo flerta com o samba, o Carlos, Erasmo (1971) é um belo exemplo do que ele tem de melhor. Para quem espera ouvir as músicas mais samba e menos rock, o show da turnê do disco novo Gigante Gentil (2014) pode ser uma espécie de decepção. E digo uma espécie porque, bem, é Erasmo. E para quem gosta mais do rock, da jovem guarda, é imperdível. Como disse uma amiga ao final do show, sorrindo, meio envergonhada do que dizia: “É meio que show pra velho, né?”. As duas senhoras que levantaram enlouquecidas para dançar durante “Festa de Arromba” com certeza discordam.

DSC_0126-5

Esperando o show começar, eu vejo uma projeção na cortina do palco. É uma mulher, com olhos e cabelos de flores. Eu quase reconheço a silhueta, mas não consigo saber ao certo quem é. As cortinas abrem. No telão, um rapaz digita em alguma rede social: “vi uma foto do Erasmo Carlos e fiquei com vontade de assistir The Walking Dead“. É um bom começo para um show regado de leves piadas de tiozão, que a cada ano têm mais sentido pra mim. As músicas do disco Gigante Gentil abordam temas atuais, como redes sociais e o livro 50 Tons de Cinza. E, devo admitir, durante algumas delas, me senti como já me senti outras vezes em conversas com meus pais.

DSC_0533-17

Durante o show, os gritos de “lindo”, “gostoso” e “vem pra minha casa!” ecoam das vozes femininas da plateia. Erasmo reage como só quem esperou muito debaixo do coqueiro verde conseguiria. Eu penso em gritar “gato!” para descontrair, mas faltou cerveja para isso, já que, no teatro do Bourbon Country, ela é muito cara. O rapaz ao lado sugere “maconha” quando Erasmo canta “É proibido fumar”, apesar de eu achar mais pertinente gritar “Maria Joana” – mesmo sabendo que ele não vai tocar essa música. Pela metade do show, qualquer grito já parece idiota, mas sempre tem aquele que consegue se superar. Um senhor, atrás de mim, grita: “Não te mixa, Erasmo”. Só podemos agradecer que ele não se levantou para explicar a expressão ao músico carioca que não entendeu nada.

DSC_0551-18

Na saída, eu vou para o super atrás de uma cerveja e fico pensando na projeção da mulher. Fecho os olhos e fico tentando reproduzi-la na minha cabeça. Abro a cerveja e de repente fica claro: era uma mistura da presidente eleita com o infâme ditador Kim Jong-un. Será que seria mensagem subliminar? Será que esse pessoal que foi pra rua pedir democracia por intervenção militar está certo? Alguém, por favor, avisa o Constantino aí, que eu estou indo pro bar.

Tags:, , , , ,

05/11/2014

Revista NOIZE

Revista NOIZE