A noite em que Jack White me deixou na mão

25/03/2015

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

25/03/2015

Fotos: Mayra Silva

A última vez em que uma matéria da Veja me tirou do sério a ponto de me fazer querer escrever para a publicação foi em 2005, com um texto que falava sobre o declínio dos guitar heroes. Muito metaleiro à época, lembro que publicaram um trecho da minha carta na edição seguinte, na qual citava nomes que defendiam bem o posto que Jimmy Page, Jimi Hendrix, Tony Iommi e tantos outros ajudaram a firmar. Ontem, tive a chance de conhecer mais um desses grandes caras.

*

Depois da apresentação competente e inspirada (ainda que de última hora) dos portoalegrenses da Wannabe Jalva, Jack White e sua banda levaram para o palco do Pepsi On Stage uma aula de como o country rock não precisa soar necessariamente como um pesadelo e como as guitarras estão, sim, muito vivas. Em se tratando de Jack White, não é como se isso fosse um grande segredo, mas vai que alguém ainda não sabia. O problema do show, no entanto, foi justamente o talento do guitarrista mais criativo, inventivo e pilhado da geração anterior do indie. JAQUES BRANCO entrou numas de mostrar toda a sua intimidade com o instrumento e transformou um show promissor numa experiência cansativa e até um tanto desgastante.

Ok, sejamos francos: o início foi matador. MUITO matador. “Dead Leaves and The Dirty Ground” abriu o show de maneira magnífica e foi levantando a moral da galera para ouvir outros sucessos do White Stripes, como “Hotel Yorba” e “Hello Operator”, e da carreira solo de Jack White, como a instrumental “High Ball Stepper” e “Temporary Ground”. A essa altura, parecia que seria o show dos sonhos. Mas depois da metade do show, um bloco bem country e mais obscuro do repertório – o que tornou a presença de “Steady, As She Goes” ainda mais irônica e até exagerada – deixou a apresentação mais hermética e as palmas e coros da plateia, mais raros. “Sixteen Saltines” ainda deu um up, mas a verdade é que Jack White passou um bom tempo tocando muito mais para si do que para o público.

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O retorno às canções de Lazaretto (2014), seu disco solo mais recente, com a música título, “That Black Hat Licorice”, “Would You Fight For My Love?” e a inserção de “Broken Boy Soldier”, também do The Raconteurs, devolveu para os fãs que estavam ali o tesão de cantar junto e de se empolgar com as traquinagens e jams e improvisos tão minuciosamente ensaiadas que resvalavam no tédio – o que não fez delas menos competentes, é bom deixar claro.

Mas no geral, a impressão que este show de Jack White me deixou – numa comparação bem mundana – é que tinha tudo para ser a transa do século, mas a vontade do rapaz de mostrar talento, desenvoltura e domínio do Kama Sutra da guitarra comprometeu e muito o resultado final. Eu, que levava comigo o desejo de sair de lá de alma lavada com um show incrível de rock, sai de lá brochado com uma apresentação incrível, mas até um tanto insossa. Nem o encerramento com uma inevitável “Seven Nation Army” resolveu. Uma pena.

Abaixo, a setlist do show de ontem no Pepsi On Stage (Porto Alegre):

Dead Leaves and the Dirty Ground (White Stripes)
High Ball Stepper (Jack White)
Hotel Yorba (White Stripes)
Temporary Ground (Jack White)
Weep Themselves to Sleep (Jack White)
Hello Operator (White Stripes)
Top Yourself (Raconteurs)
Steady, As She Goes (Raconteurs)
Love Interruption (Jack White)
Little Bird (White Stripes)
Would You Fight for My Love? (Jack White)
Sixteen Saltines (Jack White)
Astro (White Stripes)
Broken Boy Soldier (Raconteurs)
Bis:
I’m Slowly Turning Into You (White Stripes)
That Black Bat Licorice (Jack White)
Sugar Never Tasted So Good (White Stripes)
Seven Nation Army (White Stripes)

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25/03/2015

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