Texto e Fotos por Rafael Rocha
Rob não precisa de introduções.
Eu não sabia o que esperar ao fotografar Rob Machado. Só tinha uma idéia na cabeça, minimalista, perto da enorme aura que circunda o surfista, seus títulos e reputação construída ao longo de todos estes anos como free-surfer.
Havia marcado com Waltinho, da Hurley Brasil, que faria uma sessão de fotos para a Revista NOIZE por volta das 17h na Praia Mole, em Floripa, onde o surfista estaria hospedado. Rob se encontrava em SC para a tour de divulgação do seu último filme, The Drifter, e estava descendo de Itajaí rumo à capital catarinense para realizar a mesma premiére e dar continuidade em sua passagem pelo Brasil. Consegui uma cópia do filme na noite anterior, que me surpreendeu bastante. Tentando mostrar um certo enredo, e não somente um apanhado de manobras e belas ondas.
Lá estava eu, às 15h, umas horas antes do combinado para ver outras locações, idéias, e entender melhor a Praia como local para a foto. Comecei a pensar e montar direções fotográficas: sobreposição, reflexos, desfoque, minimalismo, introspecção, música. Queria fotografar o surfista em um momento solitário, tocando o seu violão. Representar a sua personalidade e fazer a conexão com o lado musical de Rob, para alinhar com o tema da revista, que não era outro além de música.
Imaginava que teria em torno de 1h com Rob, faria 3 idéias principais, mas então os fatos começaram a mudar. Por volta das 16h30min o céu fechou e caiu uma chuva forte, mas rápida. 17h marcava meu relógio, chovia e parava, chovia e parava. 17h30, 18h, 18h30min… e nada de Rob aparecer.
Já estava desistindo, a estas alturas a luz já estava péssima e eu não sabia se conseguiria realizar sequer uma de minhas idéias iniciais. Quando, às 19h, estaciona no pátio do hotel uma van, e desce Rob, com sua cabeleira clássica, mais comprida do que nunca, trazendo sua viola a tira-colo.
Corremos para praia, sem antes sermos abordados por 1.122.452 surfistas amadores querendo conversar e tirar uma casquinha de Rob. Chegamos na beira, e o tempo estava fechando sinistramente, fiz alguns clicks, executando a primeira idéia que me vinha à cabeça. Algumas digitais, outras em filme. Rob para e me fala: “acho melhor andarmos rápido, vai chover em 3 minutos.”, ele olha para cima novamente e diz: “não, na real vai chover em 2min e 15seg”. Não deu outra: em 2min e 15seg só deu tempo de corrermos para a sede do Arágua, que ficava há uns 20 metros dali, nos escondermos do temporal malvado que caía. Aproveitei para o momento “fã” e não pude deixar de tirar uma foto ao lado desta lenda viva do surf.
Voltamos para o hotel, já à noite, e sem saber se conseguiria, pedi para fazer mais alguns clicks no corredor, pois não havia ficado satisfeito com os 10 minutos de produção que o tempo tinha nos proporcionado. Com seu jeito quietão e tranquilo, Rob, gente finíssima, subiu e realizamos as últimas fotos com ele sentado, muito naturalmente, fazendo uma jam com algumas pessoas ali presentes. Uma base à la “Hey Joe” de Jimi Hendrix, em um compasso bem calminho saia de seu violão. Em depoimento para a NOIZE, o surfista disse que “Are You Experienced” foi disco mais importante em sua vida.
No final das contas, depois da chuva, da espera, dos imprevistos, acabei ali, ouvindo Rob tocar um violão baixinho, instrospectivo, e com algumas boas fotos para lembrar.