Roskilde Festival 2015 | Assaltaram nossa barraca, mas valeu a pena

08/07/2015

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Ariel Martini

Por: Ariel Martini

Fotos: Ariel Martini/I Hate Flash

08/07/2015

Uma vez por ano, os foliões se reúnem em uma semana de festa regada a muita cerveja e música. Todo mundo fica muito louco e a balada é forte. Também mijam em qualquer lugar e deixam um rastro fedorento de lixo e destruição. Não, não estou falando do carnaval, mas do festival de Roskilde, nome da cidade dinamarquesa onde ocorre anualmente, encostada na capital Copenhaguem. E é enorme, um dos maiores do mundo. As cerca de cem mil pessoas acampadas tornam o festival a quarta maior cidade do país e o público diário, incluindo os voluntários, ultrapassa 150 mil.

Roskilde, por um lado, é esse lugar onde os certinhos dinamarqueses que vivem a vida super regrada e educada vão passar uns dias de favela, onde podem exercer a tão gostosa e reprimida transgressão e ficar doidão numa terra sem lei. Por outro lado, o festival tem cunho assistencialista, sem fins lucrativos: as valiosas coroas dinamarquesas (a moeda) vão ajudar países de população menos afortunada e servir a outras funções filantrópicas.

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O programa do festival inclui grafite, banho na lagoa, batalha de quem tem o som mais alto, corrida dos pelados e outras diversões de acampamento, mas também uma programação musical de qualidade e muito eclética. Do country ao trap, passando por todos tipos de rock e até o hip hop dinamarquês, bastante popular por lá. Popular inclusive é a palavra que define os headliners. Esse ano teve Pharrell, Muse, Kendrick Lamar e, encerrando a festa, Paul McCartney. Todos nomes que enchem estádios facilmente. Não por opção minha, nossa galeria não tem fotos desses shows. O acesso ao palco principal estava muito limitado. Isso não me deixou nada feliz, mas não havia nada a fazer. Assim, as fotos são das bandas escaladas nos outros palcos. Bandas menos famosas mas não necessariamente de menor qualidade. Além de nomes mais conhecidos como Noel Gallagher, St. Vincent, Mastodon e Foxygen, músicos de todos os cantos do mundo povoaram esses palcos menores, inclusive os brasileiros Metá Metá e OQuadro.

Minha listinha de shows que queria ver era grande, e me deixou muito satisfeito. Do lado de fora do recinto, o palco Apollo apresentava alguns nomes da música eletrônica, onde vi o Rustie com seu pós-dubstep que instigava fúria na plateia, e Clark, que substituiu as esquisitices dos seus discos por um live muito ritmado e dançante, mas mantendo os timbres etéreos e extasiantes e o volume ensurdecedor, uma excelente apresentação. O Kronos Quartet, escalado para tocar ao meio dia, fez sua apresentação impecável de versões para quarteto de cordas (e às vezes algumas bugigangas eletrônicas também) das mais variadas músicas. O doidão Gaslamp Killer chamou a excelente Heliocentrics, banda de afrobeat que já acompanhou Mulato Astatke, pra fazer uma mistureba incrível no palco, enquanto o cabeludo meio que regia, meio que dançava, com seu jeito maluco de sempre, e fazendo questão de dizer aos ali presentes que sigam seus sonhos acima de tudo. Os suecos mascarados do Goat fizeram seu show usual de muita energia, onde a resposta do público é o ponto principal. E pra fechar o festival um show de cinco horas do Africa Express, projeto musical-beneficente que contou com a presença de inúmeros artistas, inclusive Damon Albarn, um dos padrinhos do projeto, que segundo relatos estava bebaço e não queria mais sair do palco.

Mas para mim os dois shows que mais marcaram, e também os que mais me atraíram quando escolhi visitar o festival, foram de Susanne Sundfør e Nils Frahm. Susanne é uma espécie de anti-diva, com uma voz incrível e um disco excepcional que saiu esse ano, chamado Ten Love Songs, que mistura partes que às vezes parecem saídas de um musical, belos arranjos de cordas e batidas dançantes oitentistas. Apesar de eu sempre ter imaginado o show cheio de dançarinos, contava apenas com uma Susanne meio imóvel, um baterista e uma menina multi instrumentista que era um show à parte. A plateia acompanhou o show emocionada, e por algum motivo a organização do palco me deixou fotografar 80% do show, o que meio que recompensou o fato de não ter conseguido acesso ao palco principal.

No último dia ainda teve o show novo do Nils Frahm, sem dúvida um dos maiores compositores da história. Nils diz “até logo”, vira de costas para a plateia e se compenetra novamente em loops de piano e sintetizador da mais bela categoria. Dessa vez seus novos brinquedos estão prontos: um órgão de tubos feito de madeira e um piano vertical com as entranhas expostas. Eles incrementam o show, que ganha volume comparado ao já incrível espetáculo que tinha visto ano passado, e torna a experiência inesquecível.

Inesquecível como todo o festival, que ainda preparou uma surpresa de último minuto: enquanto eu estava fora alguém abriu minha barraca com uma faca, procurando algo que não estava lá, pois não senti falta de nada. Com excessão de um vidro de comprimidos. Imagino os intrusos até agora esperando bater a vitamina C.

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08/07/2015

Ainda insiste em fazer fotos de show.
Ariel Martini

Ariel Martini