“Sempre lutei pela minha liberdade artística”, afirma Alaíde Costa  

21/06/2024

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Isabela Yu

Por: Isabela Yu

Fotos: Divulgação/ Flavia Marcatti

21/06/2024

Pelo quarto ano consecutivo, uma mulher recebeu o Troféu Tradições, da União Brasileira de Compositores. Na quinta-feira, 20/6, a instituição celebrou as sete décadas de carreira de Alaíde Costa na Casa de Francisca, em São Paulo. Nos anos anteriores, a honraria foi entregue para Lia de Itamaracá, Dona Onete e Anastácia. A noite contou com participações de Emicida, Ayrton Montarroyos, Zé Manoel, Simoninha e Paula Lima.

Com 88 anos, a cantora carioca trabalha no segundo volume da trilogia O que os meus calos dizem sobre mim, cuja primeira parte saiu em 2022. “Posso adiantar que estamos explorando novas sonoridades, mas mantendo a essência emocional e intimista do primeiro disco”, explica Alaíde. 

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Em paralelo, faz shows com o projeto Pérolas Negras, elaborado ao lado de Zezé Motta e Eliana Pittman. “Conheço a Eliana desde que ela era menina e sempre acompanhei o trabalho da Zezé de perto. Juntas, conseguimos criar algo poderoso e significativo, celebrando nossa cultura e nossa trajetória na música”, explica. O repertório do espetáculo traz composições de Milton Nascimento, Luiz Melodia, Djavan, Leci Brandão, entre outros, e foi registrado no disco lançado em fevereiro deste ano.

Ao longo das décadas, ainda que tenha participado da Bossa Nova e do Clube da Esquina, Alaíde transcendeu estilos musicais, e criou um legado ímpar na história da música. Mesmo tendo gravado os compositores do alto escalão, como intérprete, ela segue em busca de canções que despertam emoção: “Para aceitar cantar uma composição ou colaborar com outro artista, preciso sentir uma conexão com a música e com a pessoa. A letra e a melodia devem tocar meu coração de alguma forma.” 

Nos desejos para o futuro, pretende gravar um álbum cantando Dalva de Oliveira, uma de suas grandes inspirações, e realizar uma turnê europeia com passagens por casas de show icônicas, como o Olympia, em Paris. “A música é uma jornada sem fim, e sempre há novos horizontes a serem alcançados”, afirma. 

Ao fazer um balanço das sete décadas de carreira, é possível escolher projetos favoritos? 

Elenco a minha participação no movimento da Bossa Nova e no Clube da Esquina, além dos meus trabalhos solo e colaborações com outros artistas, como o meu grande amigo Johny Alf e a minha amiga Claudette Soares. O que os torna especiais é a liberdade criativa e a oportunidade de trabalhar com músicos talentosos e inspiradores. Cada projeto foi uma oportunidade de crescimento e aprendizado, e cada um deles deixou uma marca muito forte na minha trajetória.

Como enxerga as aproximações entre Bossa Nova e Clube da Esquina? 


Na época, não tinha a consciência de que estava participando de movimentos que mudariam a música brasileira e como ela seria vista no mundo dali em diante, mas sabia que estava envolvida em algo especial. Tanto a Bossa Nova, quanto o Clube da Esquina trouxeram inovações e enriqueceram a música brasileira. Vejo familiaridades entre os dois movimentos na busca por novas sonoridades e na profundidade das letras e dos arranjos.

Quais foram os principais colaboradores nas sete décadas de carreira? 

Tive o privilégio de interpretar canções de grandes compositores: Johny Alf, João do Vale, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Dolores Duran e João Donato. O que nos une é a paixão pela música e a busca por letras que tenham profundidade e por melodias que tocam a alma. A nossa afinidade está na sensibilidade e na maneira como enxergamos e expressamos a vida através da música.

Como lidou com o racismo e o machismo da música?  

No início da minha carreira, a questão de gênero e raça era muito presente. Como mulher negra, enfrentei muitas expectativas e estereótipos, incluindo a tentativa de me encaixarem exclusivamente no samba e até na Jovem Guarda. Sempre lutei pela minha liberdade artística e busquei mostrar que podia transitar por diferentes estilos musicais. Enfrentei desafios, mas sempre me mantive fiel à minha essência. É fundamental continuar lutando por igualdade de oportunidades e reconhecimento para artistas de todas as origens e gêneros. A música é um reflexo da nossa sociedade, e precisamos garantir que todos tenham voz e espaço para se expressar.

Qual é a sensação de ser reconhecida como precursora da Bossa Nova? 

É uma sensação maravilhosa ver meu trabalho sendo descoberto por novas gerações. Significa que minha música continua relevante e tocando os corações das pessoas. Ganhar o Troféu Tradições é uma grande honra e um reconhecimento do meu legado na música brasileira. Sinto-me extremamente grata e inspirada a continuar criando.

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21/06/2024

Isabela Yu

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