Thirty Years of Punk Rock – Edição #9

09/04/2010

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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09/04/2010

Na seção Era Uma Vez, a NOIZE publica reportagens que saíram em edições antigas da revista. Nessa semana, a gente traz de volta uma reportagem que comemorava os 30 anos do punk rock, usando como referência o lançamento do disco Never Mind The Bollocks, Here’s The Sex Pistols, dos Sex Pistols, banda agenciada por Malcolm McLaren, que faleceu ontem. A matéria saiu na NOIZE #09, em novembro de 2007, e é assinada por Carlos Guimarães.

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“Nós inventamos o punk. Nós dizemos como as coisas são.” — Johnny Rotten, vocalista do Sex Pistols

Never Mind The Bollocks ainda vive! Lançado em 1977 pelo Sex Pistols, com 38 minutos e meio de duração e 12 faixas absolutamente espantosas para a época, a amplitude que este disco atingiu nos permite voltar a uma década curiosa e refazer todo o processo de produção do único álbum de estúdio oficial que a banda de Johnny Rotten, Sid Vicious, Glen Matlock, Steve Jones e Paul Cook conseguiu fazer. E não seria exagero nenhum se disséssemos que estamos comemorando 30 anos de punk rock.

O cara nisso tudo se chama Malcom McLaren. McLaren funcionava para os anos 70 como Carlos Imperial para a Jovem Guarda ou o Carlos Miéle para a bossa nova. Era um malandro. Só que um malandro londrino. Produtor de médio porte, notório boêmio, fazia amizade rapidamente. No início dos anos 70, deixou de ser um “agiota” para ser de fato um “agente”. Bancou o figurino e deixou a rapaziada bancar o som com o New York Dolls. O resultado foi a combinação perfeita de extravagância visual com performance bombástica e um som que lembrava alguma coisa do MC5 e das bandas de garagem do final dos anos 60, com um toque de glam rock, que estava na moda em 1972. McLaren havia viajado para os Estados Unidos e era produtor de fato e de direito das “Bonecas de Nova York”. O NY Dolls não era glam, não era banda de garagem nem banda lo-fi, como por exemplo o Velvet Underground. Eram como os Stooges, de Iggy Pop. Na crueza sonora, estaria o futuro da música. No meio da década de 1970, esse movimento chamado “protopunk” já havia sido limado da mídia. Era necessário algo mais duradouro, mais potente, com mais força de ruptura de mercado e que deixasse cicatrizes no sistema. Se essa era a idéia, o clima estava perfeito. No Reino Unido, o disco do prisma (The Dark Side of the Moon) do Pink Floyd vendia milhões; a música estava tomando o perigoso rumo acadêmico e catedrático. Tempos do rock progressivo, do Pink Floyd, do Genesis, do Yes, do King Crimson. Quem poderia fazer alguma coisa estava tentando se livrar de drogas, como Neil Young, Lou Reed e David Bowie. Restava o rock pesado de Led Zeppelin, Kiss e Black Sabbath—ou as boas novidades da América, como Queen, Aerosmith e Van Halen.

McLaren sacou o espírito que viu quando estava produzindo (ou espionando?) o New York Dolls. Mais ainda: nos EUA, um lugar chamado CBGB dava espaço para uma garotada que não queria lá muito saber de política, de rock progressivo e, se bobear, nem tocar eles queriam muito. Era só gritar “1, 2, 3, 4” e soltar uns Hey Ho! para alguma    coisa      acontecer   em Nova York. Eram os Ramones, já vivos, já existentes e já fazendo sucesso. Junte isso ao fabuloso disco Horses, de Patti Smith, e você tinha quinhentas sementes na mão brotando. Mas ainda faltava uma última regada para que a planta crescesse e fizesse estrago.

A Londres dos anos 1970 vivia uma recessão violenta. Desemprego, protesto e desânimo conviviam em desarmonia absoluta, numa provocação imediata para chamar o caos. “Anarquia já!”, gritavam. Anarquia no Reino Unido. Explodiu uma gota de nitroglicerina num caldeirão de pólvora. O punk (“vagabundo”, literalmente) estava nas ruas, lutando por melhores condições. Convenhamos que a trilha sonora perfeita para casar com tudo isso não era o solo interminável de piano do Rick Wakeman. Era preciso mais fúria, mais garra, mais violência, gente mais desbocada; mais vagabunda, mesmo. McLaren, na época, era dono de uma loja chamada SEX e recrutou a vadiagem: o guitarrista Steve Jones e o baterista Paul Cook eram clientes. O baixista Glen Matlock era balconista. E o vocalista tinha que ser podre. Johnny Lydon, que nunca tinha cantado na vida, era um bagaceiro anti-social, com toda a ficha criminal de um arruaceiro de marca maior. Não precisava cantar bem. Nem tocar bem. Era só ter postura. Ter atitude. E no resto, “faça você mesmo”.

O primeiro show do Sex Pistols foi um desastre. Em 1976, a Inglaterra já contava com diversas bandas “do movimento”, como The Damned, Siouxsie and the Banshees e The Clash (esta, a mais politizada de todas). Em novembro de 1976 é lançado o single de “Anarchy in the UK”, o primeiro do Sex Pistols. Uma porrada no sistema, que virou um nocaute quando, na primeira apresentação televisiva da banda, Johnny Rotten solta um “FUCK OFF” olhando para a câmera.

No dia 12 de novembro de 1977 sai nas lojas o álbum Never Mind the Bollocks – Here’s The Sex Pistols, àquela altura já aguardado e comentado pelos britânicos. Como um foguete, regado a drogas e deboche, o Sex Pistols realizaria o último show em 1978. Depois da gravação do absurdo The Great Rock N’Roll Swindle, que conta com a participação do assaltante exilado no Rio de Janeiro Ronald Biggs (aquele do trem pagador) e com versões satíricas de clássicos do cancioneiro norte-americano, a banda termina. Sid Vicious morre em 1979, vítima de overdose de heroína, aos 21 anos—um ano depois de sua namorada, Nancy Sungen, ter sido encontrada morta.

O Sex Pistols durou, efetivamente, três anos.Três anos para construir um conceito, formar uma identidade e destruir tudo de uma forma avassaladora. A banda inglesa      é a síntese do que é o punkrock. Não é só música. É som cheio de fúria. É fúria em forma de som. É rápido—sobe e se destrói em segundos. Essa foi a lição de Never Mind The Bollocks – Here’s The Sex Pistols.

Volta e meia, eles reaparecem. Em 1996, o Sex Pistols promoveu uma turnê de retorno. Segundo seus integrantes, estavam falidos e precisavam de dinheiro.A tour se chamou Filthy Lucre e eles passaram pelo Brasil. Lotaram estádios, pegaram o dinheiro e voltaram para casa. No dia 8 de novembro de 2007, na Brixton Academy, em Londres, Never Mind the Bollocks – Here’s The Sex Pistols será relançado, numa edição comemorativa de 30 anos. Um show único será realizado pela banda, com a participação de Johnny Rotten, Glen Matlock, Steve Jones e Paul Cook.

Se apurarmos a verdade de tudo isso, a gente até vai achar uma e outra picaretagem do senhor Malcom McLaren, que deve ter embolsado uma grana graúda enquanto Johnny Rotten e sua trupe se drogavam. Mas se o sistema estava errado, que mal há em usar o próprio sistema para balançar alguns alicerces? E no caso do Sex Pistols, o que eles fizeram há 30 anos foi bem mais do que dar uma chacoalhada no mundo musical. Eles simplesmente entortaram todo o caminho que o rock estava tomando, redefinindo conceitos e estabelecendo um padrão para todas as décadas dali para a frente.Talvez, na música, tenha sido o único exemplo que atingiu todas as esferas. Chocou o governo, feriu a sociedade, estimulou a juventude, abriu os olhos das classes baixas e influenciou pelo menos três gerações. A gente só agradece esses três anos de música e loucura.

GABBA GABBA HEY!

Antes do Sex Pistols aparecer, nos Estados Unidos quatro jovens que igualmente mal sabiam tocar agitavam o underground de Nova York. No lendário CBGB’s, os Ramones começaram com pequenos shows em 1974, ao lado de outros expoentes do punk rock norte-americano, como Television e Patti Smith.

Ao contrário do conteúdo político-anárquico dos Pistols, as letras dos Ramones eram bastante diferentes. Geralmente compostas em primeira pessoa, como “Now I Wanna Sniff Some Glue”, “I Don’t Wanna Walk Around With You” e “I Don’t Wanna Go Down to the Basement”, o quarteto primava pela velocidade de suas músicas. Em 1976, lançaram o primeiro disco, o homônimo, considerado um clássico até hoje.

A cena nova-iorquina era um pouco diferente da britânica. Enquanto no Reino Unido havia os vagabundos (Pistols) e os intelectuais (Clash), nos EUA a intenção era basicamente se divertir. E isso os Ramones faziam de sobra. A partir de 1976, um hino por disco, aglutinando uma legião de fãs que até hoje desfilam com a camisa da banda. Um fenômeno diferente, talvez mais simpático, menos sinistro do que a fábrica de palavrões de Johnny Rotten. Cabelinho na cara, jaqueta de couro, calça grudada, instrumentos tocados abaixo do joelho e uma voz inconfundível de Joey Ramone. Letras juvenis e melodias rápidas. Não mais que três acordes. Baixo reto, bateria constante e uma vontade inigualável de promover a diversão. Dessa maneira, os Ramones lançaram discos até 1996, ano que escolheram para terminar a banda. Com algum flerte em ritmos diferentes pelos anos 1980, sobreviveram bem ao anonimato que o punk rock tradicional teve em alguns momentos. Não pararam de produzir, inclusive soltando alguns clássicos como “I Believe in Miracles”, “Pet Sematary” e “Poison Heart”. Três de seus componentes originais já faleceram (Joey, Johnny e Dee Dee), mas a chama ramônica ainda está viva, na fusão perfeita do punk clássico com popularidade.

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09/04/2010

Revista NOIZE

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