A NOIZE #43 traz um top 5 do Rei, assinado por Fabilipo. Abaixo, você confere a sequência, com as cinco músicas restantes da lista e mais uma.
Fazer um playlist com as minhas 10 músicas preferidas do Roberto Carlos foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz na vida, com certeza. Sem exageros, o cara é um dos meus ícones musicais de todos os tempos. Antes de descobrir David Bowie, eu ouvia Robertão em casa, como todo mundo da minha geração, com certeza. Roqueiro, popstar, delicado, romântico, religioso, estranho, Robertão foi e é de tudo antes de todo mundo. O cara que escreve “…as flores do jardim da nossa morreram todas de saudades de você, e as rosas que cobriam nossa estrada perderam a vontade de viver…” é gênio, sem a menor sombra de dúvida. E olha que essa nem é das minhas top 10.
1. Detalhes
Uma das mais importantes músicas do Robertão, romântica e delicada. Um dos exemplos de como ele é pontual, usando gírias da época que são entendidas até hoje por causa dele, com certeza. Música “de corno” ou de lembrança, porque ela já está com outro, mas ele sente saudade e espera que ela também sinta. “… não adianta nem tentar me esquecer/durante muito tempo em sua vida eu vou viver…”
2. Quero Que Vá Tudo Pro Inferno
Uma das músicas mais legais do Rei: meio punk, ele quer a mulher e que se dane o resto. Parece que ele não canta mais essa música porque fala “inferno” e na fase “azul-falar-com-plantas”, ele evita isso. Romântica com cara de que não tá nem aí, pega no estômago e não no coração, outro tipo de emoção.
3. Você Não Serve Pra Mim
Um proto punk do Robertão, dessa vez ele detonando a (ex) mulher amada, mas sempre educado apesar de tudo. Essa música é da trilha do filme “Em Ritmo de Aventura” de 1967, um dos grandes filmes pop brasileiros, quando tentaram fazer com o Rei o que fizeram com o Elvis nos EUA no cinema.
4. Eu Sou Terrível
Música genial de 1968, da época proto punk do Rei (a minha preferida), onde ele chuta o balde: ele tem razão, não tem medo do perigo, não vai ser fácil acompanhá-lo. É demais !
5. O Calhambeque
Música de 1965 que eu acho que todo mundo conhece, conta a história de um cara que leva o cadilac pra arrumar, fica com um calhambeque e, enquanto isso, se dá bem com “os brotos” e do carango, ele vai gostando.
6. É preciso saber viver
Essa música de 1974 faz parte da trilha de outro filme do Rei Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, onde ele canta com Erasmo Carlos e Wanderléa, talvez o trio mais importante da música pop brasileira. Além da letra pra cima, a guitarra “elétrica” distorcida, meio Mutantes, é o ponto alto da canção.
7. Cavalgada
Eu lembro de ouvir essa música quando era moleque mesmo e pensava em sexo, sem saber direito o que estava acontecendo. Talvez essa seja a primeira forma de arte que tenha me excitado sexualmente. Imagina, o cara fala que as “estrelas mudam de lugar/chegam mais perto só pra ver”. É muito amor, minha gente! Quando eu me liguei na letra fiquei doido: até hoje acho um dos icones sexuais da minha vida. Representa e muito!
8. Jesus Cristo
Muita gente acha que a veia religiosa do Rei só se aflorou depois da morte da esposa, o que não é verdade. Desde sempre ele teve esse pé paz e amor e essa música de 1970 é pra mim a mais linda do lado carola do Robertão.
9. Café da Manhã
Eu me lembro a primeira vez que eu ouvi essa música, devia ter uns 10 anos de idade quando saiu e eu fiquei chocado que a música falava de café da manhã e era super romântica. Foi um choque pra mim e até hoje me commove, de verdade.
10. Emoções
Música do fim dos anos 70 que se tornou o carro chefe da carreira do Rei: música romântica que se tornou um agradecimento dele ao seu público com o passar dos anos. Mas eu prefiro lembrar dessa como uma canção de amor um pouco mais íntima, mas eu provavelmente tô errado e é o meu lado romântico falando.
Tá, é um top 10, mas a minha preferida de todas do Rei é essa, então consideremos “O Portão” a música zero da lista:
0. O Portão
Acho que nessa música de 1974 tem a frase mais linda da MPB: “meu cachorro me sorriu latindo”. É um roteiro de um filme, impressionante! (E essa deve ser uma das músicas mais usadas em comerciais de televisão no Brasil.)
Fabilipo é fazedor de filmes, dirige na Latina Estúdio e seu mais recente projeto é o documentário Porque Que A Gente é Assim“, em que mostra bandas brasileiras contando sobre os artistas que os influenciaram. Além disso é DJ da festa Crew e residente dos clubes Gloria, Vegas, Casa 92 e Beco SP.