Voltando à pilantragem no Bourbon Festival Paraty

26/05/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

26/05/2014

Fotos: Pablo Araujo/Potável

Mais uma vez Paraty (RJ) estava em festa. A música invadiu as ruas e ganhou fôlego nessa cidade que respira cultura. Entre feiras literárias e shows internacionais, chegou a hora do Bourbon Festival, que neste último final de semana fez com que artistas do mundo todo descessem do salto pra andar a pé pelas ruas irregulares e carregadas de memórias do centro histórico local. Aqui, as pedras rolam literalmente. Nomes como Hermeto Pascoal, Preservation Hall Jazz Band,  Shemekia Copeland, Jaques Morelenbaum e  Patti Austin transitaram pelos palcos do evento e atraíram milhares de pessoas.  Mas ninguém precisou falsificar a carteira de estudante pra pagar meia entrada. Nem insinuar que é foda e que está na lista VIP. Ao contrário de muitos festivais de música que, embora também tenham patrocinadores no nome, cobram os olhos da cara pelos ingressos, todos os shows foram de graça. O eclético público do Bourbon Festival Paraty agradece. Em vários idiomas.

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Foi nesse clima, entre moradores locais e turistas vindos de diferentes partes do Brasil e de fora, que Simoninha matou no peito a responsa de fechar a noite de sábado e manter a galera animada quase uma hora da manhã.

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Depois de muito jazz e rock rolando, como o público receberia a música brasileira?  O representante brasuca da noite  já entrou no balanço do seu mais recente disco, Alta Fidelidade (S de Samba, 2013), com a música “Qual é o meu lugar”. Simoninha foi seguindo e descobrindo que o seu era ali. Afinal, estava jogando em casa. Quando, ainda no começo do show, dispara “Olhos coloridos”, hit de Macau clássico na voz de  Sandra de Sá, a junção de estilos que é parte da atmosfera Bourbon fez todo sentido. O blues tem sangue crioulo. O jazz tem sangue crioulo. E, é claro, o samba, como todo brasileiro, tem cabelo duro. Simoninha, por beber de todas essas fontes, personificou com excelência essa mistura.

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Mas para quem é fã de seu trabalho autoral, e estava com o “Alta Fidelidade” decorado pra cantar junto, o show de Paraty não foi o momento. “Meninas do Leblon” parceria com João Sabiá, e “Versos Fáceis” apareceram no repertorio. A ótima “Essência”, parceria de Simoninha com Marcelo Yuka, do disco SambalandClub (2002)  também estava no setlist.  Quer mais?  Nem vem que não tem. Daqui por diante a voltamos à pilantragem e começa o baile do Simoninha. Os clássicos de Jorge Ben Jor, que primeiramente invadiram o Brasil  na voz de Wilson Simonal, não pararam de chegar, alternando, entre outros,  com Cassiano, Tim Maia e até um Stevie Wonder (“Sunshine Of My Life”). O samba volta nos versos de Haroldo Lobo e Niltinho: “Tristeza, por favor vá embora” entoados pela plateia com muita vontade – relembrando  Jair Rodrigues, falecido recentemente, que foi um dos grandes interpretes dessa canção.

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Mas Simoninha parece estar ali pra dar vez ao morro e  não deixar o samba morrer.  Enquanto isso, deixa a vida levar: quem nasceu no samba não pode parar. E Simoninha não nega suas raízes, é fiel a elas. Em um dos momentos mais simbólicos do show, assume o piano sozinho no palco e manda “Tributo a Martin Luther King”, relembrando toda genialidade de seu pai.  Já que Wilson Simonal voltou ao papo, por que não descer a rua da ladeira e fazer o povo inteiro cantar? É, parece que dominar a multidão também está no sangue. Entre homens berrando alguns trechos, mulheres gritando outros, o carisma de Simoninha fez todo mundo pedir bis em uma só voz. E é claro, ele voltou.

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Acompanhado do guitarrista Dilson Laguna, teve que conter a emoção para mais uma vez homenagear Jair Rodrigues, agora com “Disparada”. Ainda entre os aplausos, os outros músicos retornam pra encerrar o show e (sim, mais uma vez) voltar à pilantragem com “Pa-tro-pi”.  A energia da banda, mesmo depois de uma hora e meia de show,  resume o clima de respeito e a entrega total à música que faz parte do festival. Pode misturar o samba com jazz, com rock ou fazer um misto de maracatu. Simoninha comprova pra gente: se, mesmo depois de 50 anos, os versos de  “Mas que Nada” (Jorge Ben Jor)  ainda enlouquecem um público formado por pessoas do mundo todo, é porque nosso samba é, sem dúvidas, universal.

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26/05/2014

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