Youpix: NOIZE conferiu o evento e conta o que rolou por lá

01/05/2011

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

01/05/2011

Por Rafa Carvalho

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Nerds, uni-vos!

Rolou, na última semana, o maior encontro de timelines por essas bandas. O Youpix trouxe ao Porão das Artes, mais conhecido como o lugar da exposição do Star Wars, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, gente de todo o canto da cidade para se reunir em torno de um tema: a web.

O que não faltou foi gente com celular, computador, iPad, iPhone, smartphone, andando de um lado paro outro, em uma sincronia tão perfeita que poucos esbarrões podem ser observados. Afinal, é uma arte andar e olhar paro visor do celular ao mesmo tempo.

Fui ao YouPix tentando focar apenas em música e seus desdobramentos na era das redes sociais (tema recorrente em quase todos os debates), mas muita coisa acontece ao mesmo tempo, tornando difícil o foco em uma só. Vamos tentar por partes, e contando como foi cada um dos três dias de evento.

DAY 1

Através de um aplicativo, a Vivo trás a sua mais nova ferramenta, o Vivo Pass. Por meio de um cadastro prévio em um terminal de auto atendimento, o usuário retira uma etiqueta com uma espécie de chip, que o identificará dentro do evento em diversos “check points” interativos espalhados pelo local, como por exemplo a cabine do Foursquare. É só passar seu chip pela cabine, e o seu Foursquare será atualizado automaticamente, sem que você precise abrir o aplicativo no seu celular ou a página do programa na internet. Funciona do mesmo jeito com o Twitter e com o Facebook. O tal chip atualiza também um superpainel interativo em frente ao bar, com informações tipo: a pessoa que tem mais seguidores e que está no recinto, quantas vezes a @ tal passou pelo bar, qual palestra teve o maio número de “likes” naquele dia e por aí vai. Teve gente que não achou legal quando chegou em casa e viu no twitter quantas vezes tinha passado pelo bar.

Segundo a Vivo, a segurança de suas senhas está garantida, pois o aplicativo segue os mesmo principios do Twitpic, por exemplo, onde você tem que autorizar a troca de informações através de sua senha uma única vez. A etiqueta magnética passa a ser sua, e você poderá usá-la em outros eventos em que a Vivo disponibilize pontos magnéticos conectados à internet.

A música e sua nova abordagem foram temas recorrentes no primeiro dia do Youpix. Em tempos de oversharing sobre tudo, por que não se utilizar disso para fazer valer o esforço gasto em seus projetos musicais? É caso do MC Bio-G3, por exemplo, que tem mais de 25 perfis no Orkut e que, pasmem, consegue fazer uma festa lotar somente com divulgação na internet. “O Orkut e o Twitter são mecanismos que ainda funcionam nas grandes periferias. Com o Orkut, se for somar todo mundo que eu tenho nesses meus 25 perfis de usuário, eu consigo atingir umas 100 mil pessoas”, conta.

Isso é mais um sinal de que a internet não faz sentido somente nos grandes centros urbanizados e que o Facebook não é a realidade do brasileiro. Existe uma grande demanda de pessoas que utilizam a internet para falar localmente e com um grupo muito restrito de pessoas, o que faz o conceito de estar conectado com o mundo cair por terra, uma vez identificados todos esses guetos da rede.

O MC ainda afirma que, sem a internet, ele não poderia viver exclusivamente do funk. “Com a quantidade de tecnologia acessível hoje, com pessoas que têm somente um bom computador em casa, eu consigo gravar minhas músicas, fazer alguns vídeos e divulgar para a galera que curte o meu som. Até algum tempo, era impensável poder contratar um estúdio profissional para que eu pudesse gravar minhas músicas. Lá na comunidade, eu ligo uma mesa de som simples em um laptop com o software certo e faço meu trabalho. Quando você entra no Youtube procurando alguma coisa sobre funk, o site automaticamente vai mostrar meu vídeo, que tem mais de 2 milhões de acessos, porque além de tudo contamos com uma tecnologia inteligente e que faz com que você tenha sugestões dentro do seu mundo particular que é a internet”, finaliza.

Foi apresentado ainda o trailer de Favela on Blast, documentário dirigido pelo DJ e produtor Diplo e pelo cineasta Leandro HBL, mostrando um panorama de como a cultura das favelas vive sua própria engrenagem. “O filme enxerga coisas na periferia do Brasil que os filmes mais mainstrean não enxergam”, explica HBL. “Tentamos entender a favela como meio de vida das pessoas, e o que elas fazem para tornar aquilo suportável. Vemos a favela como oportunidade, não como consequencia.”

Um dos temas mais discutidos também nesse primeiro dia, foi o efeito das redes socias para que a internet seja o monstro que ela é hoje em dia. Enquanto meio de comunicação veloz, a internet nem sempre mostra-se o mais eficiente, uma vez que a informção por diversas vezes é desencontrada. É preciso entender que todos estão nas redes socias, seja você, pessoa física, ou seja você, pessoa jurídica. E ainda existe um certo “pé atrás” com empresas que usam a internet para falar diretamente com seu cliente, uma vez que não existe um filtro popular para com a tal empresa, e os distanciamentos são menores. Mas há quem discorde, já que isso não é uma via de mão-dupla: as informações vêm de dentro para fora.

Um dos casos pautados foi o da Arezzo, que tem perfil em diversas redes sociais. Mesmo assim, depois da derrocada de gente pedindo uma explicação sobre os motivos do uso de peles de animais em produtos da linha Pelemania, a marca pronunciou-se somente em forma de nota publicada nos principais meios de comunicação, sejam na internet ou fora dela. Abre-se então (novamente) um abismo entre empresa e consumidor, já que nós, que temos empresas em nossas timelines, sempre temos a esperança de que um reply vai solucionar tudo. Mas não, lá vamos nós para o velho (e nem tão eficiente) 0800.

Outro ponto a se pensar é que não podemos instituir nossas redes sociais como sendo a dona da verdade única e absoluta no mundo. Sim, tem gente que vive em bolhas. “Devemos usar a internet como ferramenta para melhor nos informar e buscar sempre a informação real, ou pelo menos de outro ponto de vista. Há algumas semanas, teve um movimento pró-Bolsonaro na avenida Paulista, e a Folha de São Paulo noticiou somente como um movimento facista. Eu estava lá e vi que existiam ali skinheads, facistas, neonazistas, enfim, pessoas que diziam defender a instituição da família, mas que na verdade só pregam a intolerancia”, afirma o criador do Gobal Voices, Raphael Tsavvko. “Temos que perceber o tom político que as coisas levam e decidir se queremos ser levados ou não, mas é sempre bom apurar as notícias, já que a internet é o único campo que oferece isso. Jornal nenhum publicou diferente do que a Folha publicou.”

“Teve ainda o caso da reitoria da ocupação da USP”, lembra a jornalista Carol Moreno. “Durante a ocupação, os alunos abriram um blog que era alimentado lá de dentro, e a gente conseguia ler coisas e perceber que nem tudo era exatamente do jeito que os jornais estavam publicando. É dificil ser imparcial sempre, mas pelo menos o leitor tem como saber de outras fontes, outras versões.”

DAY 2

Segundo dia de evento e a concentração nerd não parece ter mudado de ontem para hoje, além de parecer maior. Depois de uma palestra (sem grandes conclusões científicas) sobre as possíveis causas de gatos e bacon serem sempre hits instantâneos na internet, a NOIZE seguiu sua saga atrás do nosso tema favorito dentro do evento, que é a música.

Na parte que nos interessa, estavam Henrique Portugal, do Skank, explicando um pouco mais sobre o fundamento do SkankPlay, aplicativo recém-lançado pela banda e que permite que os fãs façam novas versões de uma música. A ideia inicial é que o aplicativo que dê play simultaneamente em seis vídeos da banda armazenados no Youtube. Sendo assim, possível mudar a ordem que os instrumentos que são tocados na música (apenas deixar um dos instrumentos no mute, muda toda a configuração da música) ou mesmo fazer um dueto de Samuel Rosa com ele mesmo, já que ele canta em dois canais diferentes no aplicativo. É possível ainda que os internautas submetam seus vídeos tocando a música em diversos instrumentos, como bateria, baixo e guitarra ou no que melhor lhe convir, como um usuário que fez bases em gaita. A lógica de misturas músicas em seis canais diferentes, somados a quantidade de inscrições, já podem configurar por volta de 29 mil versões da mesma música.

Mas e o mercado musical, Bia Granja?
Conversamos com a mentora intelectual do YouPix, sobre quais os caminhos que a música está tomando com o advento quase divino da internet. Bia se diz menos interessada em baixar álbuns inteiros ultimamente, sendo mais pontual em baixar as músicas específicas que lhes interessam. “Se fosse para baixar álbum de tudo que me interessa, eu ia ter que viver para isso e não fazer mais nada. Sou sou do tipo que ama uma musica quando ouve, adora sempre que toca em algum lugar e, às vezes, nem sabe o título ou o artista, sabe assim?”, afirma, bem-humorada.

O evento tem como intuito debater como a internet influi em vários pontos da vida cotidiana, e a música é um deles, sendo tema recorrente em vários debates. “A gente tenta mostrar vários pontos de vista sobre vários temas diferentes, como a arte, o jornalismo, a tecnologia e tudo que possa influir no nosso mundo e que seja massivamente difundido pela rede. A música é sempre pauta porque é notório o quanto o mercado musical mudou antes e depois da internet”, conta Bia. As gravadoras, no entanto, ainda não tomaram uma posição a respeito do assunto internet + música. “Faz tempo que a gente chama as gravadoras para virem participar dos debates, mas sempre rola um ‘a gente está sem agenda’ ou um ‘não queremos nos manifestar sobre o assunto’. Por isso, penso que rola um medo desse enfrentamento com o público que rola aqui dentro”, finaliza Bia.

DAY 3

Último dia de Youpix, e São Paulo foi assolada por uma chuva monstruosa, o que fez do terceiro, o dia mais calmo no Porão das Artes. Foi pontual a presença da NOIZE no Hub, desta vez com uma discussão quente sobre como a internet e seu uso cotidiano afetaram a vida noturna nas grandes cidades. No caso, São Paulo.

Em princìpio, o tema do debate seria “as redes sociais estão matando a musica eletrônica”, mas caiu por terra, já que todos os convidados da mesa unanimemente decidiram que a internet favoreceu a música eletrônica em todos os sentidos e, agora, ela pode ser apreciada por muito mais gente.

Nos anos 70 e 80, até mesmo durante uma boa parte dos 90, casas noturnas e DJs eram os grandes focos de pesquisa de gente que saía à noite para ouvir boa música e conhecer gente nova. A intensidade da experiência musical levava os frequentadores a procurar saber mais sobre tal artista ou grupo. Hoje, as casas noturnas “são extensões das redes sociais e dos iPods”, conforme resumiu a jornalista e DJ Claudia Assef, que abriu as discussões.

“Quando abrimos o Vegas, há seis anos, não existia Orkut, Facebook e Twitter. A casa demorou um pouco para deslanchar, e tudo foi no boca-a-boca. As pessoas iam sabendo pelos amigos dos amigos que tinha uma casa nova funcionando, e assim o clube foi tomando forma”, conta Diz Facundo Guerra. “Quando abri o Lions, no ano passado, eu tive uma experiência muito mais chocante. Nas primeiras semanas, recebia gente de todo o tipo na casa, que vinha de todo canto de São Paulo.” Guerra ainda é sócio de dois bares, o Volt e o Z Carniceria.

Voltando ao passado, o jornalista Camilo Rocha relembra quando algumas casas tinham em sua programação um DJ residente e mantinham um acervo de vinis com os quais o DJ trabalharia. “Era tudo muito caro, e os DJs dependiam sempre do amigo que foi para a gringa para poder ouvir algum vinil novo por aqui. E a gente tinha umas 3 ou 4 lojas de vinil na cidade, o que tornava tudo muito caro e restrito, porque muitas vezes quando você ficava sabendo que tal disco tinha chegado à cidade, provavelmente ele já tinha sido vendido.”

“A experiência noturna mudou”, afirma Claudia Assef. “As pessoas têm mais acesso ao conhecimento, mas querem estar em um lugar onde todos os seus amigos que elas lêem ali na tela do computador o dia todo estejam. A figura do DJ enquanto detentor dessa cultura musical já não é mais a mesma. Do mesmo jeito que um DJ pesquisa na internet, esses jovens também pesquisam.” A produtora Lalai concorda: “As pessoas vêem nas casas noturnas uma extensão do random do iPod”.

“Não que o pop tenha matado a música eletrônica, já que existem festas em que ela é o pano de fundo, mas a noite paulista especificamente está extremamente pop”, conclui Facundo Guerra. “São outros tempos. Essa juventude cresceu sobre bases de música pop muito intensas, assim como quando nós começamos a sair, época em que a referência musical era o eletrônico. Eu já tenho quase quarenta anos, talvez esse não seja mais o modelo ideal de festa para mim. Eu ainda gosto de sair à noite para ouvir uma coisa que eu nunca ouvi antes, ter experiências musicais novas, mas estou falando de mim. Não dá para criar uma regra.”

O debate terminou com alguns exemplos de gente que usa a internet a favor do seu trabalho, podendo mostrar seu material e divulgando suas festas sem se transformar num spammer ou marcador de fotos do Facebook. Database e o RRR fazem este tipo de trabalho. Vale a pena conferir o site dos caras e seguí-los no Twitter.

Uma dica boa da mesa foi entrar no site dos DJs de suas noites favoritas para ver de onde vêm suas referências. “Às vezes, entro no Soundcloud de um produtor e vejo quem ele segue”, conta Camilo Rocha.

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01/05/2011

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