“Para dar o salvo de “Avante”, foi necessário reunir um tanto de todos que já foi. Momentos distintos de vida. Recontar para mim mesmo minha história pessoal”. Ninguém é melhor do que o próprio Siba para definir o que há por trás do seu primeiro álbum solo, que nasceu após dois projetos poucos convencionais do vocalista e guitarrista, com o coletivo Mestre Ambrósio e com a banda Fluoresta.
Já se passou um ano desde que o independente “Avante estreou na web e chegou às lojas especializadas. Mesmo assim, Siba continua viajando com o disco pelo Brasil, levando músicas ensoloradas como “Preparando o Salto” e “Cantando Cirando na Beira do Mar” para públicos não acostumados com o trabalho constantemente reinventado pelo artista pernambucano.
E foi para falar sobre tudo isso que Siba atendeu a nossa ligação, às vesperas de mais um show. Hoje, o músico se apresenta no Teatro do CIEE, em Porto Alegre, e depois parte para outras aventuras pelo Brasil afora.
“Avante”, o seu primeiro álbum solo, foi lançado em janeiro de 2012. Um ano depois, qual é o balanço que você faz do disco?
Eu faço um balanço superpositivo, cara. Desde o primeiro minuto que o disco chegou na internet, antes mesmo de eu divulgar, o álbum já estava correndo, de um jeito muito espontâneo. O que as pessoas fizeram com ele é o que a gente mais espera, que o disco tenha vida própria. E ele começou com esse tumulto imediato. Isso se mantém até hoje, o movimento dele na internet, entre as pessoas e tal, ainda é bem vivo. Outro lance é o caminho que o projeto tomou ao vivo, que é o principal ponto de tudo. O disco é só uma maneira de você criar a possibilidade de viajar e de desenvolver o trabalho, tocando. Para mim, o mais importante é o que acontece no palco. É o mais prazeroso.
Você demorou quase um ano também para lançar o de clipe de “Preparando o Salto”. Por que tanto tempo?
Cara, foi uma mistura de outras prioridades. Fazer o disco me demandou uma energia bem grande. O tempo que eu levei para conceituá-lo, para elaborar a ideia, para gravar, para voltar a usar a guitarra… Foi tudo lento para mim. E também tem o show ao vivo, que foi uma coisa que demorou para amadurecer, para chegar ao formato que realmente me deixasse satisfeito. Todas essas demandas, fora a vida pessoal, que impossibilitaram pensar nessa coisa antes.
“Avante”, como um todo, mostra um trabalho diferente do que você fazia anteriormente, no Mestre Ambrósio e no Fluoresta. Esse disco é a representação de um novo Siba?
Não, eu não acho não. Seu eu acreditei nisso um dia, hoje não há mais essa possibilidade. O tempo passou e eu fui mudando. Eu acho que cada momento que você falou é a representação correta daquela pessoa, daquele momento específico. Talvez esse disco contenha mais elementos, seja mais completo e dê conta, de um jeito mais abrangente, de toda a minha formação e dos meus interesses. Ele não é nem um coletivo como foi o Mestre Ambrósio e nem é uma banda que tenha um foco muito específico, como era o Fluoresta. O “Avante” é, na verdade, a concepção de uma coisa já passada, que feita lá atrás, no momento em que o disco foi criado. Eu já estou tentando descobrir quem eu sou agora.
Tem alguma coisa que você queira fazer e ainda não fez? O que podemos esperar de diferente num próximo disco seu?
Olha, eu não sei responder especificamente isso, porque, na verdade, o meu trabalho gira muito mais em torno do texto. Então, eu estou muito em função de construir uma concepção que sempre tente se adequar ao texto no momento. E aí a música vem acompanhando isso. Eu acho que não tem nada que eu não tenha conseguido realizar ainda, mas, ao mesmo tempo, estou pensando em coisas novas, novos espaços. Eu não consigo ter tanta clareza, na verdade.
Há quem diga que “Avante” é um disco para ser lido. De que forma a sua música dialoga com a literatura e a poesia?
Quando eu falo em texto, tem a ver com a palavra, claro, tem a ver com a linguagem e tudo mais, mas está totalmente relacionado ao texto oral. É um texto para ser cantado e tal. Então, em momento algum, ele foi concebido como texto para ser lido. Eu até entendo isso como um elogio, de alguém que entenda essa possível dimensão da palavra lida no meu texto. Isso significa até uma expansão. Nem necessariamente todo texto que é concebido para a oralidade consegue ultrapassar isso, ter essa interação com a escrita, com a palavra escrita. Para mim, é uma coisa bem positiva, que alguém perceba dessa forma. De modo algum eu tive essa intenção.
“Avante” está todo na internet, para download e streaming. Esse é o melhor caminho para a música independente?
Essa é uma questão muito contraditória hoje. É necessário um recurso financeiro para fazer um disco e também se espera que ele gere alguma receita, que ele se autoalimente. No entanto, o download gratuito é uma coisa impossível de você ignorar. Para mim, no meu ambiente, com meu público, não tem como não usar a ferramenta de download gratuito para a divulgação. Isso é uma coisa fácil de se ver, de se comprovar com números. Não dá para não usar. O contraditório é que, mesmo assim, a nossa lojinha tem tido um movimento frequente, de pessoas interessadas em comprar o disco. Não é na casa de milhões, mas estamos sempre vendendo.
Quais os planos daqui para frente?
Eu já estou preparando um trabalho novo, para o ano que vem. Mas eu não tenho a mínima ideia de quando vai sair. O grande impulso desse trabalho vai ser, com certeza, o ano que vem. A elaboração é agora, mas juntar gente, colocar a mão na massa, fazer a pré-produção vai ser tudo em 2014. Eu já estou com toda a concepção da coisa, os fragmentos todos eu já reuni. Só não tenho nada para adiantar, porque estou muito no começo do processo. É difícil falar ainda.
(Foto: Talita Miranda)