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<strong>Vinicius de Moraes</strong> foi um homem do mundo. Em 1938, aos 25 anos, já estava morando na Inglaterra, onde trabalhou na BBC; com 30 anos, tornou-se diplomata (cargo que ocupou até 1968, quando foi cassado pela Ditadura Militar); nos anos 40, morou em Hollywood, onde ficou amigo de <strong>Carmen Miranda</strong>, e viajou muito pelos Estados Unidos, tornando-se amigo pessoal do cineasta <strong>Orson Welles</strong> e de <strong>Ahmet Ertegun</strong> (fundador da Atlantic Records, que anos mais tarde lançou o Led Zeppelin); trabalhou diversas vezes com teatro, cinema, jornais, revistas... Isso sem falar em literatura, tendo editado dezenas de livros de poesia e prosa, e em música.

Vinicius de Moraes lançou mais de vinte discos em parceria com <strong>Tom Jobim, Dorival Caymmi, Maria Creuza, Maria Bethânia, Odette Lara, Quarteto em Cy, Clara Nunes, Edu Lobo, Toquinho</strong> (seu maior parceiro) e <strong>Baden Powell</strong>, com quem lançou o mais religioso de seus álbuns, <em>Os Afrosambas</em> (1966).

[caption id="attachment_92422" align="alignnone" width="600"]<a href="http://api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/vm-e-baden-3.jpg"><img class="wp-image-92422" src="http://api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/vm-e-baden-3.jpg" alt="Baden Powell e Vinicius, em 1965" width="600" height="430" /></a> Baden Powell e Vinicius, em 1965[/caption]

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Em 1962, Vinicius e Baden moraram juntos no Rio de Janeiro por três meses. Foram poucas semanas regadas a muito álcool e samba e, dessa experiência, saíram todos as faixas que, quatro anos depois, seriam lançadas no <em>Os Afrosambas</em>. Todas elas eram grandes homenagens aos orixás e à musicalidade entranhada nos ritos do candomblé. A mistura do samba virtuose de Baden com o tempero baiano do candomblé sugerido por Vinicius resultou nesse disco que marcou a música brasileira para sempre, trazendo o grande sucesso "Canto de Ossanha" e outras canções incríveis como "Tempo de amor", "Tristeza e Solidão" e "Canto de Xangô". Diz a lenda que Vinicius havia ficado muito impressionado com um disco de música de candomblé que havia ouvido na época e convidou Baden Powell a embarcar nessa sonoridade junto com ele.

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Curiosamente, levaria mais um tempo até que Vinicius de Moraes se envolvesse de forma mais contundente com a religião afro-brasileira. Essa relação se aprofundou quando o poeta se casou com sua sétima esposa, a atriz <strong>Gessy Gesse</strong>. Em 1970, eles se mudaram para a Bahia imersos em um romance influenciado pela contracultura hippie e o misticismo do candomblé, religião da qual Gessy era devota. Juntos, eles viveram em Salvador nos anos seguintes - ainda que viajassem muito em função dos shows que Vinicius já vinha fazendo com Toquinho. No início dos anos 1970, o poeta passou a usar guias de orixás em seu peito e vestir-se muitas vezes de branco.

[caption id="attachment_92423" align="alignnone" width="600"]<a href="http://api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/1973Vinicius-de-Moraes-PoetaCasamento-de-Vinicius-de-Moraes-com-a-atriz-baiana-Gesse-GessyA-cerimonia-foi-celebrada-em-um-terreiro-de-Candomble-Foto-ArquivoAgencia-O-Globo.jpg"><img class="wp-image-92423" src="http://api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/1973Vinicius-de-Moraes-PoetaCasamento-de-Vinicius-de-Moraes-com-a-atriz-baiana-Gesse-GessyA-cerimonia-foi-celebrada-em-um-terreiro-de-Candomble-Foto-ArquivoAgencia-O-Globo.jpg" alt="O casamento de Vinicius e Gesse" width="600" height="360" /></a> O casamento de Vinicius e Gesse[/caption]

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Essa aproximação com a religião foi marcada pela música <strong>“Tatamirô”</strong>, uma parceria com Toquinho dedicada a <strong>Mãe Menininha do Gantois</strong>. Neta de escravos, Mãe Menininha coordenou até 1986, quando morreu, o Terreiro do Gantois, fundado por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, em 1849. <strong>Vinicius, Maria Bethânia, Caetano Veloso</strong> e <strong>Dorival Caymmi</strong> visitavam-a frequentemente, além de personalidades menos nobres, como o político <strong>Antonio Carlos Magalhães</strong>.

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Apesar de tudo isso, na última entrevista que deu, em 1979, Vinicius de Moraes mostrou-se cético e quase ressentido. Conversando com o jornalista Narceu de Almeida Filho poucos meses antes de morrer, Vinicius disse: "Eu me interesso por candomblé, certas superstições. Isso é sinal de que tem algum fogo na cinza. Mas aqui, na cuca, não tenho mais grandes indagações. Ao mesmo tempo, me recuso a elas um pouco. Não me interesso mais por coisas que não sei explicar". Quando Almeida Filho lhe perguntou se ele acreditava no candomblé, ele respondeu:

- Eu prefiro acreditar do que não acreditar, mas realmente não acredito. Quando penso de modo puramente cerebral, não acredito. Deixei também de fazer aquele gênero de indagações, olhar para o céu e perguntar: “Onde está Deus? Afinal alguém fez esta merda toda, não foi?” Mas jamais vou ter respostas a essas perguntas, a não ser talvez depois da morte. Mas também não sei o que há do outro lado, de modo que não penso mais nessas coisas. Além disso, à medida que fui perdendo a religiosidade e o misticismo, o ser humano cresceu muito em mim, tomou conta de tudo. O que me interessa hoje é gente.

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Filho de <strong>Oxalá</strong>, <strong>Vinicius de Moraes</strong> morreu no dia 9 de julho de 1980, em sua casa na Gávea, ao lado de <strong>Gilda Mattoso</strong> (sua nona esposa) e de <strong>Toquinho</strong>, com quem lançou naquele ano seu derradeiro disco, <em>Um pouco de ilusão</em>. Ouça abaixo "Amigos Meus", lançada nesse disco:

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<p><strong>Vinicius de Moraes</strong> foi um homem do mundo. Em 1938, aos 25 anos, já estava morando na Inglaterra, onde trabalhou na BBC; com 30 anos, tornou-se diplomata (cargo que ocupou até 1968, quando foi cassado pela Ditadura Militar); nos anos 40, morou em Hollywood, onde ficou amigo de <strong>Carmen Miranda</strong>, e viajou muito pelos Estados Unidos, tornando-se amigo pessoal do cineasta <strong>Orson Welles</strong> e de <strong>Ahmet Ertegun</strong> (fundador da Atlantic Records, que anos mais tarde lançou o Led Zeppelin); trabalhou diversas vezes com teatro, cinema, jornais, revistas&#8230; Isso sem falar em literatura, tendo editado dezenas de livros de poesia e prosa, e em música.</p>
<p>Vinicius de Moraes lançou mais de vinte discos em parceria com <strong>Tom Jobim, Dorival Caymmi, Maria Creuza, Maria Bethânia, Odette Lara, Quarteto em Cy, Clara Nunes, Edu Lobo, Toquinho</strong> (seu maior parceiro) e <strong>Baden Powell</strong>, com quem lançou o mais religioso de seus álbuns, <em>Os Afrosambas</em> (1966).</p><div id="videoAd">*</div><br><script type="text/javascript">var t = "//des.smartclip.net/ads?type=dyn&plc=90854&sz=400x320&elementId=videoAd";t += "&ref=" + encodeURIComponent(window.top.document.URL);t += "&rnd=" + Math.round(Math.random()*1e8);var s = document.createElement("script");s.type = "text/javascript";s.src = t;document.body.appendChild(s);</script>
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<p>Em 1962, Vinicius e Baden moraram juntos no Rio de Janeiro por três meses. Foram poucas semanas regadas a muito álcool e samba e, dessa experiência, saíram todos as faixas que, quatro anos depois, seriam lançadas no <em>Os Afrosambas</em>. Todas elas eram grandes homenagens aos orixás e à musicalidade entranhada nos ritos do candomblé. A mistura do samba virtuose de Baden com o tempero baiano do candomblé sugerido por Vinicius resultou nesse disco que marcou a música brasileira para sempre, trazendo o grande sucesso &#8220;Canto de Ossanha&#8221; e outras canções incríveis como &#8220;Tempo de amor&#8221;, &#8220;Tristeza e Solidão&#8221; e &#8220;Canto de Xangô&#8221;. Diz a lenda que Vinicius havia ficado muito impressionado com um disco de música de candomblé que havia ouvido na época e convidou Baden Powell a embarcar nessa sonoridade junto com ele.</p>
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<p>Curiosamente, levaria mais um tempo até que Vinicius de Moraes se envolvesse de forma mais contundente com a religião afro-brasileira. Essa relação se aprofundou quando o poeta se casou com sua sétima esposa, a atriz <strong>Gessy Gesse</strong>. Em 1970, eles se mudaram para a Bahia imersos em um romance influenciado pela contracultura hippie e o misticismo do candomblé, religião da qual Gessy era devota. Juntos, eles viveram em Salvador nos anos seguintes &#8211; ainda que viajassem muito em função dos shows que Vinicius já vinha fazendo com Toquinho. No início dos anos 1970, o poeta passou a usar guias de orixás em seu peito e vestir-se muitas vezes de branco.</p>
<div id="attachment_92423" style="width: 610px" class="wp-caption alignnone"><a href="https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/1973Vinicius-de-Moraes-PoetaCasamento-de-Vinicius-de-Moraes-com-a-atriz-baiana-Gesse-GessyA-cerimonia-foi-celebrada-em-um-terreiro-de-Candomble-Foto-ArquivoAgencia-O-Globo.jpg"><img loading="lazy" decoding="async" aria-describedby="caption-attachment-92423" class="wp-image-92423" src="https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/1973Vinicius-de-Moraes-PoetaCasamento-de-Vinicius-de-Moraes-com-a-atriz-baiana-Gesse-GessyA-cerimonia-foi-celebrada-em-um-terreiro-de-Candomble-Foto-ArquivoAgencia-O-Globo.jpg?resize=600%2C360" alt="O casamento de Vinicius e Gesse" srcset="https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/1973Vinicius-de-Moraes-PoetaCasamento-de-Vinicius-de-Moraes-com-a-atriz-baiana-Gesse-GessyA-cerimonia-foi-celebrada-em-um-terreiro-de-Candomble-Foto-ArquivoAgencia-O-Globo.jpg?w=1086&amp;ssl=1 1086w, https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/1973Vinicius-de-Moraes-PoetaCasamento-de-Vinicius-de-Moraes-com-a-atriz-baiana-Gesse-GessyA-cerimonia-foi-celebrada-em-um-terreiro-de-Candomble-Foto-ArquivoAgencia-O-Globo.jpg?resize=300%2C180&amp;ssl=1 300w, https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/1973Vinicius-de-Moraes-PoetaCasamento-de-Vinicius-de-Moraes-com-a-atriz-baiana-Gesse-GessyA-cerimonia-foi-celebrada-em-um-terreiro-de-Candomble-Foto-ArquivoAgencia-O-Globo.jpg?resize=1024%2C614&amp;ssl=1 1024w, https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/1973Vinicius-de-Moraes-PoetaCasamento-de-Vinicius-de-Moraes-com-a-atriz-baiana-Gesse-GessyA-cerimonia-foi-celebrada-em-um-terreiro-de-Candomble-Foto-ArquivoAgencia-O-Globo.jpg?resize=221%2C132&amp;ssl=1 221w, https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/1973Vinicius-de-Moraes-PoetaCasamento-de-Vinicius-de-Moraes-com-a-atriz-baiana-Gesse-GessyA-cerimonia-foi-celebrada-em-um-terreiro-de-Candomble-Foto-ArquivoAgencia-O-Globo.jpg?resize=616%2C369&amp;ssl=1 616w" sizes="auto, (max-width: 600px) 100vw, 600px" data-recalc-dims="1" /></a><p id="caption-attachment-92423" class="wp-caption-text">O casamento de Vinicius e Gesse</p></div>
<div id="attachment_92421" style="width: 610px" class="wp-caption alignnone"><a href="https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/vm-gessy-gesse-e-mae-menininha-1.jpg"><img loading="lazy" decoding="async" aria-describedby="caption-attachment-92421" class="wp-image-92421" src="https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/vm-gessy-gesse-e-mae-menininha-1.jpg?resize=600%2C430" alt="Vinicius, Gesse Gessy e Mãe Menininha do Gantois " srcset="https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/vm-gessy-gesse-e-mae-menininha-1.jpg?w=977&amp;ssl=1 977w, https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/vm-gessy-gesse-e-mae-menininha-1.jpg?resize=300%2C214&amp;ssl=1 300w, https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/vm-gessy-gesse-e-mae-menininha-1.jpg?resize=221%2C158&amp;ssl=1 221w, https://i2.wp.com/api.noize.com.br/wp-content/uploads/2015/07/vm-gessy-gesse-e-mae-menininha-1.jpg?resize=616%2C441&amp;ssl=1 616w" sizes="auto, (max-width: 600px) 100vw, 600px" data-recalc-dims="1" /></a><p id="caption-attachment-92421" class="wp-caption-text">Vinicius, Gesse Gessy e Mãe Menininha do Gantois</p></div>
<p>Essa aproximação com a religião foi marcada pela música <strong>“Tatamirô”</strong>, uma parceria com Toquinho dedicada a <strong>Mãe Menininha do Gantois</strong>. Neta de escravos, Mãe Menininha coordenou até 1986, quando morreu, o Terreiro do Gantois, fundado por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, em 1849. <strong>Vinicius, Maria Bethânia, Caetano Veloso</strong> e <strong>Dorival Caymmi</strong> visitavam-a frequentemente, além de personalidades menos nobres, como o político <strong>Antonio Carlos Magalhães</strong>.</p>
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<p>Apesar de tudo isso, na última entrevista que deu, em 1979, Vinicius de Moraes mostrou-se cético e quase ressentido. Conversando com o jornalista Narceu de Almeida Filho poucos meses antes de morrer, Vinicius disse: &#8220;Eu me interesso por candomblé, certas superstições. Isso é sinal de que tem algum fogo na cinza. Mas aqui, na cuca, não tenho mais grandes indagações. Ao mesmo tempo, me recuso a elas um pouco. Não me interesso mais por coisas que não sei explicar&#8221;. Quando Almeida Filho lhe perguntou se ele acreditava no candomblé, ele respondeu:</p>
<p>&#8211; Eu prefiro acreditar do que não acreditar, mas realmente não acredito. Quando penso de modo puramente cerebral, não acredito. Deixei também de fazer aquele gênero de indagações, olhar para o céu e perguntar: “Onde está Deus? Afinal alguém fez esta merda toda, não foi?” Mas jamais vou ter respostas a essas perguntas, a não ser talvez depois da morte. Mas também não sei o que há do outro lado, de modo que não penso mais nessas coisas. Além disso, à medida que fui perdendo a religiosidade e o misticismo, o ser humano cresceu muito em mim, tomou conta de tudo. O que me interessa hoje é gente.</p>
<p><iframe loading="lazy" src="https://www.youtube.com/embed/_ahsXzmmplU" width="600" height="450" frameborder="0" allowfullscreen="allowfullscreen"></iframe></p>
<p>Filho de <strong>Oxalá</strong>, <strong>Vinicius de Moraes</strong> morreu no dia 9 de julho de 1980, em sua casa na Gávea, ao lado de <strong>Gilda Mattoso</strong> (sua nona esposa) e de <strong>Toquinho</strong>, com quem lançou naquele ano seu derradeiro disco, <em>Um pouco de ilusão</em>. Ouça abaixo &#8220;Amigos Meus&#8221;, lançada nesse disco:</p>
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Vinicius de Moraes foi um homem do mundo. Em 1938, aos 25 anos, já estava morando na Inglaterra, onde trabalhou na BBC; com 30 anos, tornou-se diplomata (cargo que ocupou até 1968, quando foi cassado pela Ditadura Militar); nos anos 40, morou em Hollywood, onde ficou amigo de Carmen Miranda, e viajou muito pelos Estados [&hellip;]

35 anos sem Vinicius de Moraes | O candomblé na vida do Poetinha

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