Fotografar uma pessoa nua por dia não é uma ideia fácil de se realizar, mas foi assim que o fundador do I Hate Flash,Fernando Schlaepfer, decidiu fazer o projeto mais ousado de sua vida. Tudo começou no dia 9 de abril de 2015, com a publicação da primeira foto, dele mesmo, como veio ao mundo. A partir dessa data a promessa se cumpriu, e hoje #365Nus está completo, mas precisa do seu apoio para se transformar em livro (cujo projeto gráfico será todo feito pela Noize) e exposição. Para apoiar e receber lindas recompensas, é só entrar aqui, mas não demore, o crowdfunding encerra no dia 8 de julho.
Fernando passou pelo Rio, São Paulo, Recife e Brasília, além de Croácia, Praga, Alemanha, Espanha e Estados Unidos, também mergulhou de debaixo d’água, escalou montanhas e foi pro deserto, em busca do ambiente mais interessante para cada composição. Nas linhas que seguem, você vai entender melhor o que lhe motivou a se dedicar aos nudes.
Como o seu backgroud na fotografia musical se transpôs na realização do #365nus?
Acredito que de duas formas: primeiro com a fotografia de shows, que talvez seja a “modalidade fotográfica” que envolve mais variantes: a iluminação muda mais rápido do que qualquer dia com nuvens, o objeto a ser fotografado normalmente está em constante movimento e definitivamente não vai ouvir você dirigindo ele para essa luz ou aquele enquadramento, as mil pessoas em volta não são sua equipe mas o público (…), enfim, é o melhor terreno para aprender a fotografar justamente por ser um dos mais complexos. E segundo, fazendo retratos de artistas, onde já lido com um ambiente controlado, crio a luz que quero, escolho se terei ou não outras pessoas acompanhando a foto, e principalmente, dirijo o modelo para passar o que eu quero e possibilitar que ele passe o que quer.
Há uma diversidade bonita de etnias e até de gêneros nos fotografados. Quais foram os seus critérios de escolha?
Escolhia pessoas que estavam a minha volta. A enorme maioria foi de amigos (e os que não eram ainda amigos, se tornaram), até pela urgência de uma publicação a cada dia. Raras vezes que pude combinar com, sei lá, uma semana de antecedência pra uma foto; geralmente era “porra mas esse lugar é perfeito pra gente fotografar pro projeto hein. Topa?” e partiu. Então as pessoas refletiam a variedade que esteva ao meu redor durante esse ano – e felizmente elas não seguiam só um padrão.
Qual foi o maior desafio desse projeto pra você?
Sem dúvida alguma, o fato de ser diário. Por incrível que pareça, a parte fácil era ter gente que aceitasse aparecer sem roupas no mundo mágico da internet – e essas pessoas têm minha gratidão eterna por depositar tamanha confiança no meu trabalho –, mas não é em qualquer lugar que pode se fazer uma foto de alguém sem roupa. Então o fato de eu estar diariamente correndo contra o tempo e essa foto não podendo ser feita em qualquer lugar era um quebra-cabeça diário, mas que felizmente conseguia montar.
Quando criança você já frequentava praias de nudismo, certo? Na sua perspectiva, qual é a importância da aceitação do corpo para melhorar a vida das pessoas?
Acho que todo mundo tem o direito de estar insatisfeito com seu corpo. A parte difícil é saber quanto dessa insatisfação é algo real e pessoal, e o quanto é interferência de determinado padrão de beleza vigente… No projeto fotografei pessoas dos mais variados corpos, e mesmo as que eram completamente dentro desse estereótipo de beleza tinham problemas com o próprio corpo – porque na real essa beleza que vendem é inalcançável, não é algo real. Acredito que entender essa diferença é essencial pra então perceber que um corpo é apenas um corpo, e que há tantas maneiras dele ser bonito quanto formatos de pessoas.