Esta é a primeira parte da série de depoimentos que publicaremos aqui nos próximos dias. Na edição #37 da NOIZE, que está nas ruas e aqui, publicamos um Manifesto Popular Brasileiro. Na verdade, foi uma seleção de frases bacanas que 5 nomes importantes da dita “nova MPB” falaram pra gente.
Abaixo você lê os melhores trechos do depoimento de Romulo Fróes. E aguarde: semana que vem lançaremos um podcast da NOIZE #37, com direito a fasixas inéditas, inacabadas e exclusivas de vários dos artistas da edição.
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Com a palavra, Romulo – aproveite e dê play nessa canção do cara.
“[Por que existiu a Tropicália] todo mundo toca todo mundo e mistura influências totalmente díspares naturalmente, porque o Caetano formatou isso e isso virou comum, virou corriqueiro. A música brasileira hoje tem que dar conta de toda música do mundo e de toda música do Brasil. E isso foi a Tropicália que fez.
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“E aí, esse termo MPB em algum momento perdeu esse valor que os Tropicalistas deram, de abarcar a música popular brasileira como um todo. O negócio foi se restringindo, restringindo, e acabou associado a uma ideia de “música de qualidade”, “a verdadeira música”. Aí, foi piorando e virou música de boteco, mesmo, “Ah, nós tocamos em boteco voz e violão porque somos puros”. Isso é uma bobagem que minha turma renega o tempo inteiro. O Curumin dá conta do funk carioca, do Tim Maia, do Stevie Wonder, do Nélson Cavaquinho, ele não quer dar conta da nata da música brasileira, ele também dá conta da nata da música brasileira.
E essa geração ficou sem rótulo, porque ela teme isso, ela não quer que rotulem ela, ela quer exercer essa conquista, essa liberdade que os Tropicalistas conquistaram.
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“Sei lá, esse rótulo “samba indie”, que botaram em mim, que que significa isso, significa um cara que ouve Nelson Cavaquinho e Joy Division.
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“Isso [de nossa música estar restrita a um segmento] tem mais a ver com mercado e com a indústria. Até onde eu conheço, nenhum de nós tá procurando o ostracismo, o underground, todo mundo ia adorar se o Brasil cantasse a músia da gente. Eu ia achar o máximo. Não tem a ver com pensamento ou fazer música difícil,
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“Curumin é exemplo clássico, aquilo é música pop até o último fio de cabelo. Era pra ter a projeção que o Jorge Ben tem, mas não tem porque não tem mais indústria, simples assim, não tem mais a máquina a nosso favor. A gente tá com a gente mesmo e com as pessoas que a gente conhece.
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“Eu duvido, se botar compacto do Curumin na novela das 8, eu corto o pulso se não virar hit. Por outro lado, Curumin não vai topar também, que é uma conquista da gente, talvez emperre um pouco nosso tamanho, Curumin não vai topar qualquer coisa também pra fazer. Não vai querer ir no Faustão pagar mico ou pagar pau pro Faustão, nao vai querer chegar errado. Ele vai querer se sentir confortável com o trampo dele.
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“Tem relações com a TV especialmente que são meio constrangedoras, né? As coisas que esses caras passaram, Caetano, Gil, Chico, que em certa medida foi o que diferenciou eles do Jards Macalé, do Luiz Melodia e do Mautner, porque os caras não deram muita conta de ir no Chacrinha. Hoje em dia, cara acha Chacrinha foda, super cool – cara, imagina o que é você ir tocar, o cara buzinando na sua orelha, jogando bacalhau na plateia. Você tá lá tocando e [ele vem], “êêê, Gilberto Giiilll”, e PLAFT!, joga bacalhau. Cara, é ridículo.
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“E aí, tem uma frase que eu adoro e vou ficar repetindo até alguém falar “Ah, foi eu que disse”. Não sei quem perguntou, “qual é o maior disco dessa geração?”, aí o cara falou “ah, o do Caetano Veloso”. Faz sentido, porque é um disco dessa geração, é o som dessa geração, com a linguagem, o frescor, só que é um disco do Caetano Veloso, com as canções do Caetano Veloso. O maior disco da nova geração é o do Caetano Veloso. Mas é um grande disco por causa do Pedro Sá, do Marcelo, do Ricardo, do Moreno.”