Arcade Fire Em Chamas

08/04/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

08/04/2014

Foto: I Hate Flash

Existem bandas que tocam ao vivo e existem bandas que fazem shows. A diferença pode parecer sutil, mas basta assistir a uma apresentação do Arcade Fire para entender que entre uma simples execução de músicas sobre um palco e uma performance empolgante há um abismo. E é com energia, entrega e uma considerável dose de demência que o grupo canadense atravessa esse abismo.

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O jeito “plugado-numa-tomada-220V” de tocar não é novidade para quem já viu o Arcade Fire ao vivo. No já assustadoramente longínquo 2005, quando passou por Rio, São Paulo e Porto Alegre, a banda deixou todo mundo boquiaberto com sua algazarra multi-instrumental e com o hábito dos integrantes de escalar estruturas de palco tocando tambor (e o horror). Ainda assim, foi uma feliz surpresa ver que quatro discos depois, além de mais experientes, mais maduros, mais conhecidos (de banda “que só quem lê a Pitchfork ouve “para headliner de festival) e mais reconhecidos (Grammy de Álbum do Ano no currículo e tudo), eles também ficaram mais malucos.

A segunda visita ao Brasil, parte da turnê do disco “Reflektor”, incluiu um show pequeno e só deles no Rio, na última sexta-feira, e um dos shows de encerramento do segundo dia do gigantesco festival Lollapalooza domingo, em São Paulo. E foi mais ou menos assim:

Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, sexta-feira

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

Há quem diga que o público do Rio é meio esquisito para shows. Não são raros os relatos de não-cariocas que, assistindo a algum espetáculo por lá, se sentiram no meio de uma plantação de chuchu, tamanho o desânimo geral da plateia. Se é verdade, temos aqui mais uma prova da potência da performance do Arcade Fire: assim que a pessoa totalmente coberta por uma roupa feita de pequenos espelhos (algo como um globo de espelhos humano) entrou no palco para anunciar a banda, o Citibank Hall veio abaixo. “Reflektor” abriu a apresentação, que seguiu com “Flashbulb Eyes” e depois com o par “Neighborhood #3 (Power Out)” e “Rebellion (Lies)” – estas duas tocadas sem pausa, quanta maldade com o coraçãozinho do fã.

Quando a pausa veio, aliás, o silêncio foi quase absoluto. Ninguém tinha energia para fazer nada que não fosse esperar a próxima música – no caso, “We Used to Wait”. Atendendo a pedidos dos fãs brasileiros, a banda tocou “Neighborhood #2 (Laika)”, além daquelas que os fãs do mundo todo esperariam: “Neighborhood #1 (Tunnels)”, “Afterlife”, “No Cars Go” e “Wake Up”, que encerrou o show em um emocionante dueto vocal banda/plateia. Apaixonados por música brasileira, tocaram trechos de “Aquarela do Brasil”, de “Nine out of Ten” (que apesar do nome é do Caetano) e de “O Morro Não Tem Vez”.

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

O figurino espalhafatoso; a cenografia dramática (naturalmente, repleta de espelhos); o palco cheio de gente – os sete integrantes da banda mais cinco músicos de apoio -; o movimento constante, não apenas pela vibração e entrega com que todos tocam, mas também porque o rodízio pelos instrumentos é enorme (Régine Chassagne, até onde foi possível contar antes de ficar zonzo, por exemplo, alternou microfone, teclado, sanfona, bateria e percussão); tudo isso junto dá ao show um ar quase circense. E o mais legal: faz quem está na plateia se sentir valorizado por ver uma banda que realmente está feliz por estar ali tocando.

Na volta para o bis, Tim Kingsburry puxou o solo de guitarra da introdução de “Sweet Child O’Mine”, grande sucesso dos Guns N’ Roses. “Senhoras e senhores, Slash!”, anunciou jocoso o vocalista Win Butler. E emendou: “você está mudado, Slash” (Kingsbury, diga-se de passagem, lembra mesmo o Humberto Gessinger). Não pode parecer circo se não fizer a gente rir, né?

Autódromo de Interlagos, São Paulo, domingo

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

Não foi o maior espetáculo que Interlagos já viu porque aqui o Senna venceu com a caixa de câmbio quebrada em 91. E de fato dá pra dizer que foi como uma prova de Fórmula 1 daqueles tempos: teve emoção, lágrimas e bandeira do Brasil tremulando.

Com um público bem maior e diversificado, a banda pareceu um pouco mais nervosa – Win Butler até errou algumas letras. A ansiedade foi compensada de um jeito bem arcadefariano: energia extra. Cada música um petardo na testa – e no ouvido – de quem estava na plateia. O repertório foi praticamente idêntico ao do Rio, com “Haiti” entrando no lugar de “We Used to Wait”. Já o espetáculo em si teve mudanças consideráveis, o que mostra que o show não é absolutamente padrão e tem espaço para vontades e improvisos (como era de se esperar). A banda abriu um espaço na plateia para uma extensão do palco (possibilidade de ir brincar com o público está para o Arcade Fire como doce está para criança), alterou o momento de entrada do globo de espelhos humano e modificou pequenos momentos nas músicas.

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

Depois da última canção, a banda seguiu no palco espichando o coro de “Wake Up”. Como se eles, tanto quanto eu e toda a plateia, não quisessem por fim àquele momento. É o que acontece quando a gente está se divertindo.

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08/04/2014

Revista NOIZE

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