O aniversário oficial só acontece no dia 22 de novembro, mas as comemorações pelo lançamento do mais extenso e diversificado disco de carreira dos Beatles já começaram. Ao menos em terras brasileiras. Organizado e viabilizado por meio de uma comunidade no Orkut, o tributo ganhou adesões rapidamente. E para surpresa do pesquisador musical Marcelo Fróes e do músico Guto Ribeiro, produtores da empreitada, apenas três dias depois o repertório já estava tomado.
O caráter comemorativo do projeto, lançado agora em CD pelo selo Discobertas em parceria com a gravadora Coqueiro Verde, transforma as comparações com o original desnecessárias. Apesar disso, as versões que mais chamam a atenção são justamente aquelas que pouco se parecem com as canções gravadas em 1968. Sob esse aspecto, Zé Ramalho conseguiu o resultado mais interessante desse primeiro volume — ainda serão lançados outros dois discos até novembro, sendo que o último apenas com bandas independentes — ao levar sanfona, triângulo e zabumba para o universo beatle, com bastante bom gosto e competência, em “Dear Prudence”. “Julia” também ganhou tinturas brasileiras no esquema bossanovístico do banquinho-e-violão do guitarrista Celso Fonseca.
O disco também faz história por dois motivos bem diferentes. A versão de “Blackbird” acabou por se tornar o último registro em estúdio da cantora Sylvinha Araújo, morta em junho último, em conseqüência de um câncer de mama. Já “Rocky Raccoon”, que pela temática pode ser considerada uma espécie de ancestral de “Faroeste caboclo”, sucesso da Legião Urbana nos anos 80, foi revisitada por Carmem Manfredini, coincidentemente irmã de Renato Russo, ex-vocalista da banda. Até a introdução da música do mano foi utilizada, talvez numa referência à memória de Renato e sua paixão pelos Beatles.
Como diz Marcelo Fróes, no encarte do CD, “é mais uma prova do amor do brasileiro não só pela música dos Beatles, mas pela música em geral”.