Boogarins comenta a produção caseira e o lirismo presentes em “Bacuri”

11/12/2024

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Por: Revista NOIZE

Fotos: Gabriel Rolim/Divulgação

11/12/2024

Quem cresceu em Goiás ou Minas Gerais — esses estados com semelhanças que vão além do sotaque — já se acostumou a ser chamado de “menino” ou “menina”, o que, vale frisar, independe da idade. Pois os “meninos” do Boogarins voltaram aos estúdios com esse espírito de meninice, só que dessa vez inspirado por seus próprios “meninos” — os filhos dos vocalistas e guitarristas Dinho (José Lirio, de 2 anos), e Benke (Rafa, de 3). É com essa vibe familiar que lançaram, em novembro, Bacuri (2024), termo em tupi que também é usado no Sul do país para se referir à criança.

Apesar do tom lúdico — que passa pela capa, desenhada por Samuel de Saboia, inspirada por sonhos infantis — o álbum traz uma sonoridade ainda mais coesa e amadurecida, um processo natural para uma banda que cresceu sob olhares dos selos internacionais, e que, ainda assim, aprendeu a produzir com as próprias pernas.

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Primeiro álbum desde o lançamento de Sombra ou Dúvida (2019), Bacuri é fruto da pandemia. A produção é assinada pelos próprios integrantes com a engenheira de som Alejandra Luciani. Tudo foi gravado na casa onde ela, Dinho Almeida e o baixista Raphael Vaz moram, em São Paulo.

O processo criativo independente, com toque caseiro, incentivou ainda mais a parceria entre os integrantes, que assinam todas as faixas do disco. O baterista Ynaiã Benthroldo estreia na composição e vocal de da faixa-titulo, uma espécie de mantra etéreo, um prenúncio da jornada sonora pela qual o ouvinte vai percorrer. A canção conta com uma camada de sons variados, de sinos a risos de criança.

A excelente turnê que a banda fez cantando o repertório do Clube da Esquina, entre 2022 e 2024, também parece ter inspirado a nova fase. Faixas como “Amor De Indie” referência direta ao “Amor de Índio” de Beto Guedes, lembram a sonoridade do projeto mineiro, com doses do experimentalismo já conhecido pelos fãs.

“Me Dê Um Som” tem vezes de hit, com os versos “me dê um som/diga que isso vai passar” perfeitos para ser cantados pelo público nos shows (e, como brincaram os integrantes, agradaria até aos irmãos Gallagher). Chama a atenção, também, a faixa nomeada como “Chrystian & Ralf”, fazendo alusão à influência sertaneja que tiveram em Goiânia, citando justamente a mais roqueira das duplas, com os mais doces dos timbres.

Bacuri foi fruto, também, de uma certa frustração: a banda tentou contato com produtores do naipe de ninguém menos que Brian Eno, mas o processo morreu na praia. Restou o método intimista de produção, da casa para dentro, que, no fim das contas, foi valoroso.

“Na pandemia, as incertezas do mundo se juntaram às nossas próprias incertezas. Depois de conversas com produtores estrangeiros e planos frustrados com nossa antiga gravadora americana, decidimos desacelerar a corrida maluca de carreira internacional que nos movia involuntariamente desde os primeiros passos profissionais da banda”, conta Benke Ferraz.

A influência do convívio familiar, as inspirações que vinham das brincadeiras de criança, junto à pegada maior no formato tradicional da canção popular brasileira misturado às conhecidas guitarras psicodélicas, já podiam ser observados com o lançamento do single “Corpo Asa”. O público estava preparado para ouvir um Boogarins com olhar mais tenro para vida, ao mesmo tempo que tinha, ao alcance dos ouvidos, um promissor lançamento, dos melhores da banda.

Confira o Faixa a Faixa abaixo, pelos próprios integrantes:

“Bacuri”: Primeira composição vocal do Ynaiã, abre o disco num registro oposto ao que estão acostumados quando pensam em Boogarins e os vocais em registro agudo de Dinho e Benke. Um tom épico, nostálgico, como se Mufasa estivesse apresentando a Simba toda a terra que o pertence por direito.

“Corpo Asa”: Um Roque bem brasileiro, Dinho produziu a primeira demo dessa na pandemia, inspirado por um áudio de WhatsApp onde o pandeiro da irmã dele (Flávia Carolina, Ave Eva) fazia uma levada de maracatu enquanto o filho dela cantava ao fundo. Versos de amor puro, fraternal, romântico e utópico.

“Chuva dos Olhos”: Dinho novamente é certeiro em seus versos que descrevem e detalham um choro que vem para abrir espaço para novos sorrisos. A Banda chega com um início bem melódico e “gostosinho”, deixando para o final a catarse clássica das performances ao vivo, camadas e sons potentes se somando até a combustão de tudo.

“Chrystian & Ralf (Só Deus Sabe)“: Entre guitarras country e pulsação noventeira, a letra traz as ansiedades e frustrações de uma geração que se valeu mais do excesso de informação que da intervenção divina para guiar suas boas/más intenções. Benke obviamente quis chamar atenção, mas também homenagear a dupla mais roqueira dos sertanejos no título.

“Poeira”: Considerada por Benke o chefão final do disco (a música mais difícil de produzir), é um exemplo de como Fefel consegue unir imagens surrealistas com refrões urgentes. A banda se esforçou pra ser o mais livre e ousada possível para aplacar as visões do nosso presida.

“Me Dê Um Som”: Um Roque de respeito. Se os irmãos Gallagher escutarem esse som, tenho certeza que a gente abre os shows do Oasis aqui. Provavelmente a mais antiga das composições presente no disco, tem uma das melhores performances do Ynaiã — entregando mais uma linha de bateria clássica aí pros fãs (a exemplo de “Foimal”).

“Amor de Indie”: Fefel novamente nos puxando para o experimentalismo, dessa vez a partir de uma canção de amor (?). A mais progressiva do disco, tanto que pegamos um trechinho para repetir em outra faixa (“Crescer”).

“Compartir”: Um assovio que remete a Little Trouble Girl, um refrão que balbucia obla di obla da e a banda toda responde em harmonia: “pode ser, pode ser”. Benke como sempre (es)forçando pra deixar a banda mais pop, dessa vez pelo menos o resultado foi top.

“Crescer”: Uma viagem que foi criada inicialmente como uma intro do disco. Foi a principal colaboração em termos de composição da nossa do-produtora Alejandra Luciani. Partindo de elementos da “Amor de Indie” e construindo essa viagem que soa como créditos finais de um filme da Marvel.

“Deixa”: Final surpresa depois dos créditos que deixa tudo mais épico (e excitante para uma continuação). O destaque é a forma espelhada (verso/refrão/solo/refrão/verso) dividida por um solo de guitarra que não deixaria a desejar se estivesse no disco novo do [David] Gilmour. Primeira vez que temos convidado nas percussões, Fillipe Castro dando o molho pra esse Roque funkeado.

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