Fotos: Ariel Martini – I Hate Flash
Sem filas, ou qualquer outro perrengue, o Poplad Festival mostrava desde a entrada que tinha feito a lição de casa para evitar imprevistos técnicos. Só não contavam com a astúcia dos presentes para um final de semana de tantas emoções. As duas noites provaram que um evento desse porte não se faz apenas com bons nomes na entrada, mas que o público está louco para pegar o papel do protagonista noite adentro. O resultado não poderia ser mais humano.
Cada banda com sua missão. Os headliners venderam os ingressos, cabia a quem tocava antes à sua maneira se aproveitar da situação. E foi assim:
Boogarins
Dava orgulho de ver “a esperança que vem do cerrado” espalhar sua psicodelia pelo palco principal. Se o disco de estreia já agrada, o show do Boogarins impressiona. As músicas (e os músicos) entram em outra dimensão, daí o setlist curto, mas a viagem compensa.
“Lucifernadis”, “Erre” e “Tempo” já são tratadas como amigas do público, que ia se libertando durante o trajeto. Dinho espalhava sorridente “agora vocês estão mais soltinhos” à cada música. Para os mais dificeis, “Infinitu” ganha no palco um novo verso: “Essa é para você que não quer se soltar/ O infinito é qualquer lugar”.
Rodrigo Amarante
Rodrigo pode não carregar muito de Los Hermanos em seu disco solo, mas os fãs continuam no barco. Mesmo em menor número do que o show anterior, os presentes aplaudiam ardentemente ao final de cada música, e ensaiaram histeria quando identificaram o sotaque francês aos primeiros acordes de “Mom Nom”.
O cantor estava bem humorado e soltou um “Pode acordar agora?” antes de dispensar sua banda de apoio: os gringos Rosbife, Fubá e Toddynho. Sua escolha de setlist foi inteligente, deixando as músicas mais lentas no começo, fazendo cover dele mesmo quando tocou “Evaporar” (Little Joy) e de Jorge Ben com “Errare Humanum Est”, e por fim fazer a galera dançar no sapatinho com Maná.
Tame Impala
Donos da noite, poderíamos dizer que os australianos subiram ao palco com o jogo ganho, mesmo assim a banda não escondeu seus méritos. Tame Impala faz uma apresentação constante com execuções fiéis. E mesmo que o som não fosse o melhor para quem estava logo à frente do palco, a turma do gargarejo compensava na própria voz que acompanhou “Elephant” do início ao fim, com direito a solinho de guitarra só no gogó.
Por ironia, “Oscility” foi o momento em que a plateia aproveitou para retomar o fôlego. Ainda vinha “Mind Mishelf” pela frente e, embora pouco se visse dos integrantes no palco dominado pelas projeções psicodélicas, era impossível não notar o talento e a catarse que esses caras provocavam ali. Kevin Parker e cia podem se orgulhar: todo mundo ali sentiu que valeu a pena.
Jeneci
Quem já viu outros shows do Jeneci e sua banda pode notar a evolução tanto como músico, quanto performer. O show começa forte, com cores douradas e céu a pino. “Aqui a vida é bélica”, anuncia.
Bem acompanhado, deixa Laura Lavieri brilhar sozinha em “Tudo Bem, Tanto Faz”. Em alguns momentos, Jeneci traz uma nostalgia da psicologia do dia anterior. Mesmo assim, canções do Feito pra Acabar (2010) parecem ter respostas mais instantâneas do público, como a já clássica canção de casamento “Pra Sonhar”, dessa vez em versão mais curta.
The Lumineers
Ao primeiro acorde de “Submarines” já era possível saber: The Lumineers e o público se desejavam. Quem foi assistir ao show estava disposto a cantar a plenos pulmões todas as músicas da banda. A banda recompensava tocando mais alto.
Eles queriam sentir todos ali, o vocalista inclusive pediu para que os fãs guardassem o celular e vivessem aquele momento, mas foi ignorado. Nada que deixasse Weley Schultz chateado. Acompanhado de Jeremiah Fraites, ele ainda foi cantar duas músicas no meio da galera para nenhum fã esquecer aquela noite.
Cat Power
A canadense Chan Marshall se apresentou nas duas noites de festival (além da amostra grátis no metrô). Sozinha no palco passou parte do tempo no piano e outra na guitarra. Shows que pelo setlist e pela formação tinham muito para serem bem parecidos, mas que guardaram surpresas diferentes do acaso.
Na primeira o noite, uma plateia enorme aguardava Tame Impala e não se deixou seduzir pela voz da canadense. Uma apresentação que acabou marcada pela discussão com um espectador momentos antes de Marshall deixar o palco.
Na segunda, enquanto a plateia tentava fazê-la esquecer da noite anterior, Chan fazia um show ainda mais dramático. Perfeccionista, ela passa metade do show falando e nem sempre se sabe com quem. O final foi um pouco mais feliz. E, com flores, ela mostrou que ama seus verdadeiros fãs.
Metronomy
Eles estavam ali para fazer a festa e não se prenderam à divulgação do último disco, Love Letters (2014). Sorte deles e do público, que cantava e dançava ao som dos hits de todas as fazes do grupo.
Liderados por Joseph Mount, os integrantes não escondiam a empolgação de voltar ao Brasil, nem os passos que tinham nas mangas. Ficava claro que Olugbenga, além de baixista era também o coreógrafo da turma. Oscar Cash (teclados), para não ser passado para trás liderou um cover de “Here Comes the Sun”, mas os fiéis ainda vibram mais quando a Anna Prior solta a voz em posse das baquetas. Até nas faixas menos empolgantes, todos sorriam. E foi assim que foram embora, com a sensação de dever cumprido na pista de dança.
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