Conheça Hatchie, artista australiana que flerta com shoegaze e dream pop 

17/11/2023

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Isabela Yu

Por: Isabela Yu

Fotos: Lyssielle

17/11/2023

Hatchie, projeto da baixista e compositora australiana Hariette Pilbeam, desembarca pela primeira vez no Brasil para dois shows em São Paulo neste final de semana. Nesta sexta-feira, 17/11, ela se apresentará na Casa Rockambole, em Pinheiros. Já no domingo, 19/11, faz show no Balaclava Fest, festival do selo Balaclava Records, cujo line up conta ainda com Unknown Mortal Orchestra e American Football

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“Mudo de ideia o tempo todo, mas as minhas músicas favoritas para tocar nos shows são ‘Lights On’ e ‘Quicksand'”, divide Hariette em entrevista à Noize. As faixas estão entre as mais escutadas do disco Giving The World Away (2022) no Spotify. O segundo trabalho foi criado durante o lockdown em Brisbane, ao lado do parceiro, Joe Agius, que também é guitarrista na banda. 

A produção musical foi feita a distância por Jorge Elbrecht, músico costarriquenho, parceiro de Japanese Breakfast e Wild Nothing. Isolado em Denver, o produtor convidou um amigo para gravar a bateria em algumas das faixas: James Barone, do Beach House e Tennis.  

– “Escrevemos ‘Lights On’ e ‘This Enchanted’ com Jorge de uma só vez! Foi elétrico. Nos identificamos com ele instantaneamente, tanto socialmente quanto musicalmente. Decidimos imediatamente que queríamos fazer o resto do álbum com ele. Então ficamos presos do outro lado do mundo, então quando chegou a hora de gravar a bateria, ele sugeriu trazer James a bordo porque eles eram amigos e estavam presos em Denver. Foi uma feliz coincidência.” 

Em fusos horários diferentes, o processo foi mais lento do que esperado, mas ao mesmo tempo, proporcionou novos experimentos. Hatchie despontou no final da última década como uma das bandas inspiradas por Slowdive, Cocteau Twins e The Siouxsie and the Banshees, que flertam com shoegaze, dream pop e post-rock, porém partem da lógica onde os limites entre estilos musicais estão tensionados. 

Ainda que seja dark, ela mantém um certo brilho pop nas músicas, dialogando especialmente com as artistas alternativas à lá Caroline Polachek. Essa ligação não é à toa: Dan Nigro, colaborador da própria diva do Chairlift e da cantora Olivia Rodrigo, é co-autor de “Quicksand”, a música mais ouvida de Giving The World Away.  

A princípio, Hariette buscava um som mais “dramático, pesado e brilhante”, algo mais expansivo e denso do que a sonoridade apresentada em Keepsake (2019) e que também impactaria no ao vivo. Desde o ano passado, a artista está na estrada: depois dos shows por aqui, ela volta para Austrália para mais uma série de datas até o fim do ano. 

“Já fiz mais shows do que posso contar! A turnê no Reino Unido e na Europa foi provavelmente a mais memorável porque fazia muito tempo que eu não tocava lá. Fiquei surpresa com a recepção que tivemos em Paris, foi um show pequeno, mas estava esgotado e com um público extremamente animado”, conta a artista. 

Em abril deste ano, apresentou a versão deluxe do disco com cinco faixas-bônus, incluindo um remix de “The Rhythm” por George Clanton. Recentemente, participou de “Headlights On”, single do recém-lançado Hold, quinto disco do Wild Nothing. Com a amiga Samira Winter, artista curitibana radicada em Los Angeles, gravou “atonement”, faixa do quarto disco da brasileira, What Kind Of Blue Are You? (2022).  

A seguir, confira um bate-papo com Hariette, que comenta o processo de criação do segundo disco, referências musicais e próximos passos. 

O início do processo de criação de Giving The World Away aconteceu durante o isolamento, em um momento de incertezas. Quais eram as suas expectativas naquele momento?  

Gravei e lancei o disco entre 2020 e 2022, o pico da era covid, então é difícil dizer. Tinha grandes expectativas no disco porque estava animada em voltar a fazer música. Algumas coisas não rolaram por conta das restrições, entre outros motivos. Estou muito feliz e grata pela forma como as coisas fluíram, especialmente por conseguir fazer turnês internacionais. Fico feliz de não precisar cancelar shows, como muitos artistas tiveram que fazer. Acima de tudo, buscava um disco que explorasse sons mais dramáticos, pesados e brilhantes, algo que soasse diferente do meu primeiro, Keepsake (2019), e eu fiz isso. 

A sonoridade do álbum é densa e repleta de camadas. Como foi o processo de construção das músicas? 

Às vezes não consigo parar de adicionar camadas. Estou tentando melhorar em manter as músicas simples e trabalhar nas letras. Com certeza, me deixo levar pelos sons e não foco o suficiente nas letras. Com o disco, sabia que queria que soasse grande, ousado e confiante. Eu não buscava ir para um lugar mais pop, mas acabou sendo assim. Eu queria que fosse repleto de energia, cheio de brilho intenso, e também aumentasse a energia dos shows ao vivo. 

“Quicksand”, uma composição sua com Joe Agius, seu parceiro de vida e de banda, ganhou novos contornos na mão de Dan Nigro, produtor musical colaborador de Olivia Rodrigo e Caroline Polachek. Como foi trabalhar com o músico? 

Escrevi todas as partes e gravei uma demo em casa com Joe, que também toca na Hatchie e tem um papel importantíssimo no som e na imagem do projeto. A gente buscava um produtor para ajudar a tornar a faixa mais interessante. Nosso desejo era que fosse algo como o pop gótico dos anos 1980. Quando viajamos para Los Angeles para as sessões, desenvolvemos a faixa durante dois dias com Dan, trabalhamos duro na estrutura, na produção e adicionamos muitos detalhes.

A Austrália, assim como o Brasil, é um país ensolarado, com uma paisagem bem diferente do berço das bandas shoegaze. Como você começou a se interessar por esse estilo? Como essa conexão mudou depois que você começou a lançar suas próprias músicas? 

Alguns amigos me apresentaram. Eu definitivamente não gostava de shoegaze quando ouvi pela primeira vez na adolescência, não entendia o som. Mas aprendi a apreciá-lo e amá-lo. Tenho muito respeito pelos artistas que usam seus instrumentos de maneiras únicas e criam paisagens sonoras realmente lindas, que não dependem de artifícios da música pop. É importante confiar que a emoção será transmitida sem a necessidade de exagerar.

Samira Winter abriu a sua turnê na Europa. Quais são os pontos de encontro entre Hatchie e Winter? 

Samira é minha irmã taurina, eu a amo e amo sua música. Ela é tão calorosa e instantaneamente me deixa à vontade. Eu me sinto estranha quando saio em turnê sem ela! É tão louco pensar que nos conhecemos há alguns anos. Nós duas somos inspiradas por shoegaze, dream pop e artistas dos anos 1990, como The Corrs e Mandy Moore. Nós duas amamos texturas delicadas, melodias aéreas e letras cafonas.

Você passou os últimos anos entre Brisbane e Los Angeles. Como você sente que a paisagem impacta o seu trabalho? 

Passamos muito tempo lá, mas decidimos que fazia mais sentido morar na Austrália, tanto por motivos pessoais, quanto profissionais. Los Angeles é um ambiente criativo próspero em vários aspectos, mas eu escrevo minhas melhores músicas onde me sinto mais feliz e me sinto mais feliz na Austrália. No entanto, fizemos ótimas sessões de composição por lá e eu adoraria fazer mais.

Você está compondo novas músicas? E que tipo de sons você está mais interessada no momento? 

Sim! Ainda é cedo para contar alguma novidade sobre isso, mas estou muito feliz com o que venho escrevendo neste ano. Eu diria que a minha música suavizou muito ultimamente.  Ouço músicas menos dramáticas agora, e sons mais calmos, do tipo que você pode escutar enquanto prepara o jantar ou faz outras coisas.

Serviço Balaclava Fest 2023

Data: 19 de novembro de 2023

Local: Tokio Marine Hall

Endereço: R. Bragança Paulista, 1281 – Várzea de Baixo

Próximo à estação João Dias (Linha 9-Esmeralda CPTM)

Ingressos: ingresse.com/balaclavafest23

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17/11/2023

Isabela Yu

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