Domingo foi um dia e tanto para os indies e emos paulistanos. O Balaclava Fest 2023 rolou no Tokio Marine Hall, trazendo diversos artistas gringos pela primeira vez ao Brasil. O calor que tem atingido São Paulo nas últimas semanas deu uma trégua e o pessoal pôde curtir sem passar trabalho.
O festival contava com dois palcos, entre os quais eram alternadas as atrações. No Palco Hall, menor, tocaram as bandas e artistas mais novos, alguns inclusive sendo melhor apresentados ao público através do evento. No Palco Balaclava, em um salão com mais espaço, apresentaram-se os headliners do festival. Assinantes do NOIZE Record Club puderam aproveitar uma parceria e curtiram tudo com desconto. Também realizamos o sorteio de alguns ingressos.
A tarde começou no Hall, com um feat entre os curitibanos do terraplana, que faz parte do selo Balaclava Records, com Shower Curtain. Recentemente, os dois projetos lançaram juntos a música “meus passos”. O shoegaze e o dream pop com sonoridade pesada misturado a vocais doces deram o tom do que ainda estava por vir no festival.
Logo depois, subiu ao mesmo palco o trio londrino PVA, com seu pós-punk no qual os sintetizadores têm papel central. Flertando com a música eletrônica, os ingleses misturaram bateria e percussão com beats e vocais cheios de efeitos para interpretar o repertório do seu álbum de estreia, BLUSH (2022), que passeia pelo acid e pela dance music.
Quando a noite começou a cair, subiram ao palco Balaclava os caras da Whitney, banda norte-americana de Chicago, iniciando os trabalhos dos heads do line-up. O público estava animado para curtir o indie-folk suave do grupo, com uma pegada de country music.
As canções românticas, cantadas em falsete pelo vocalista Julien Ehrlich, que também é baterista da banda, fizeram a galera vibrar. Julien ainda tocou teclados e violão ao longo do show, acompanhado por seu parceiro de composição Max Kakacek na guitarra e com o resto da banda, que contava com linhas incríveis de trompete como a cereja do bolo.
De volta ao Hall, foi a vez da australiana Hatchie, a qual entrevistamos aqui na NOIZE, subir ao palco. A cantora tocou baixo enquanto interpretava canções de seu novo álbum, como “Quincksand”, acompanhada da guitarrista Samira Winter. Com músicas na fronteira entre um shoegaze ruidoso e um dream pop com ares etéreos, a artista nem tinha saído do palco e já estava dizendo que queria muito voltar para o Brasil e fazer mais shows, mas com sua banda completa.
Foi então que chegou um dos momentos mais esperados do festival. Ídolos eternos da música emo, os caras do American Football subiram ao palco. O pessoal na plateia foi à loucura. A banda, que começou em 1997, lançou seu icônico álbum homônimo em 1999, parou em 2000 e voltou a ativa em 2014, tendo gravado dois novos discos desde então. Apesar do Brasil ser um grande celeiro emo, o grupo nunca tinha vindo se apresentar no país.
Você pode imaginar a euforia da galera ao ouvir ao vivo pela primeira vez uma banda que marcou gerações. Até choro rolou enquanto Mike Kinsella (também integrante da Owen) cantava e dedilhava sua guitarra cheia de chorus e drive. A banda tocou clássicos como “Never Meant” e “Honestly”, em sua formação que inclui guitarra, baixo, bateria e até xilofone.
Após toda essa emoção, foi hora de colocar a energia lá em cima. No Hall, Thus Love, a banda norte-americana de Massachusetts, nova queridinha da cena pós-punk, tocou as músicas de seu álbum de estreia, Memorial, de 2022. Cheios de energia e atitude, o grupo queer deixou a galera pilhada com sua passagem por São Paulo. A vocalista e guitarrista Echo Marshall, movimentando-se o tempo inteiro em cima do palco, chegou a subir nos amplificadores enquanto tocava. Ao agradecer o público, também lembrou de prestar homenagem aos trabalhadores que estavam no bar e cuidando da limpeza do evento. Essa é a atitude que se espera de um grupo verdadeiramente punk.
Para encerrar a noite com chave de ouro, a Unknown Mortal Orchestra subiu no palco principal. A banda meio australiana, meio neozelandesa, que ganhou fama no mundo inteiro por seu indie lo-fi com pitadas de psicodelia, fez uma entrada triunfal com um solo de synths. Quando o frontman Ruban Nielson, vocalista, compositor e guitarrista, subiu ao palco com o resto do grupo, o público ficou eufórico.
A banda tocou alguns hits de seus cinco álbuns de estúdio, como “So Good On Being In Trouble”, “Hunnybee” e “Multi-Love”, fazendo a alegria da galera. Durante o show, Ruban chegou a descer do palco e dar uma volta pelo salão, sem deixar de tocar sua guitarra inconfundível cheia de efeitos.
O Balaclava Fest 2023 vai ficar marcado na memória dos paulistanos. Além das apresentações no domingo, ainda rolaram alguns side-shows, entre sexta (17) e segunda-feira (20). Foram bandas como Owen, Winter e Ludovic que completaram o ciclo de shows incríveis do festival (Hatchie e Thus Love, que tocaram no domingo, também participaram dos eventos paralelos).
Não bastasse o line-up incrível, a organização do evento estava ótima, sem perrengue, com banquina de merch vendendo camisetas, discos e ecobags. Também vale falar sobre a iluminação do palco principal, que estava linda, sempre sincronizada com as músicas, impecável. Se você foi esse ano no Bala Fest, você teve um domingo muito massa. Se você não foi, com certeza não vai querer perder ano que vem.