Desbrave os mistérios de “Fenda” no oráculo exclusivo de Papisa

05/08/2019

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Déborah Moreno/Divulgação

05/08/2019

No mundo das certezas absolutas, parece contraintuitivo mergulhar nas dúvidas, nos mistérios, no que nos tira da zona de conforto, e, até mesmo, naquilo que estremece as nossas próprias certezas.

Abalando os olhares cartesianos e mergulhando de cabeça nas respostas de ordem subjetiva, arte e saberes místicos vêm renovando nosso olhar e atiçando nossa sensibilidade. Encarando de peito aberto os mistérios – mais especificamente os contornos da morte – Rita Oliva, a Papisa, assenta-se na intersecção entre arte e misticismo e “desfaz a utopia devagar” em seu novo disco, Fenda (ouça abaixo).

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Vindo ao mundo na última sexta-feira, 3, em noite de lua nova sob o signo de leão, o lançamento foi gestado no home studio da artista e traz uma Papisa que se questiona e se revela através de diversas linguagens. Além das composições e vocais, ela é responsável pela percussão, bateria, vozes, synths, guitarra, violão, piano, baixo, e por aí vai. Com uma força bastante instintiva, Fenda tece uma narrativa em suspensão, situando-se entre um lugar indeterminado no espaço e no tempo. Sob uma sonoridade que mistura orgânico e sintético, o disco investiga a morte, suas impermanências e suas transmutações.

No álbum, Papisa já conduz você em um mergulho pelo místico. Mas, em primeira mão para NOIZE, ela expande os poderes de seu novo disco e compartilha um super oráculo desenvolvido com base em Fenda, que teve parceira da ilustradora Thais Jacoponi.

Suba o som de Fenda, desça a página para conferir o bate-papo com Papisa sobre arte e misticismo e, claro, saber que conselhos o oráculo reserva para você. Respire fundo, se concentre e acolha os recados do universo:

Papisa, da onde surgiu essa vontade de criar um oráculo? Como você acha que essa ferramenta potencializa os sentidos de Fenda


Uso vários oráculos no meu cotidiano como ferramenta meditativa pra me conectar com a intuição, e também para estudar a sabedoria de diferentes tradições. Acho muito mágico como a música também permeia esse lugar secreto, de autodescoberta, de inspirações que muitas vezes fluem sem passar pelo intermédio do pensamento racional. Sempre tive a vontade de fazer um oráculo, então fez sentido unir esses dois mundos criando um baralho a partir das músicas, mas que também servisse como aconselhamento, independente delas. A ideia tomou forma quando vi uma ilustração que a Thais Jacoponi fez para o disco. Resolvemos que aquilo podia ser um deck de cartas, então criei os textos e a Thais fez as imagens, tudo baseado nas nossas percepções das músicas. Como ela está fazendo a criação de toda a arte gráfica do álbum e acompanhou o processo desde o início, sinto que ficou tudo bem conectado. Meu desejo é que o oráculo ajude as pessoas a explorar sua própria subjetividade, e isso talvez traga um novo significado para a experiência de ouvir o disco.

Essa relação com saberes místicos acompanha você há quanto tempo?

No fundo, toda mulher tem um quê de bruxa, no sentido de se conectar com os ciclos, com as forças da natureza. Senti esse chamado ainda pequena porque sempre tive muita curiosidade pelo mistério, pelo oculto, e um grande sentimento de comunhão com a natureza. Minha família nunca foi religiosa, e de alguma forma isso estimulou minha busca por uma espiritualidade mais autônoma, livre de dogmas. Aprendi muita coisa com minha mãe, minha tia, fazia pequenos rituais quando era criança, tive contato bem cedo com ioga, meditação, cristais, dança do ventre, acho que isso me ajudou a entrar em contato com campos mais sutis e a entender que tinha todo um universo para explorar internamente. Na pré-adolescência, li muito sobre a cultura druida, tenho muitos livros dessa época até hoje, e depois de ficar mais cética por um período, essa pesquisa foi retornando, se somando a outras e fazendo cada vez mais sentido para o momento atual. 

O quanto arte e misticismo se confundem, para você? No que elas se parecem? 

Pra mim, ambos se confundem porque tocam em pontos sensíveis, fazem a gente entrar em contato com aquilo que torna a gente humano. A arte tem um poder que acho lindo de dar forma para emoções e sentimentos criando uma experiência compartilhada, promovendo um senso de comunhão ou algum estranhamento. Isso mexe com nossa subjetividade e pode ser muito transformador, se a gente permitir. Para mim, o misticismo também tem a ver com uma busca por conexão, só que mais íntima, mais particular, a partir da descoberta daquilo que temos de mais essencial. No fundo, estamos tentando nos conectar com um aspecto de nós que é comum para todos, mas pode se manifestar de um jeito muito único, que não conseguimos explicar. Aí entra a arte de novo…

Como o misticismo pode ser um ponto de partida pra criação? 

Eu dou uma oficina chamada Rituais de Criação aonde compartilho um pouco do meu processo criativo com as pessoas. Pra mim, é sobre um estado mental que guia essa investigação do invisível, de nós mesmas, e que abre espaço para que a criação ocorra, então é algo bem vivencial mesmo, mais prático do que teórico. Nesse sentido, uso como ponto de partida conhecimentos e ferramentas específicos, como cartas de Tarô, outros oráculos, Astrologia, o trabalho com sonhos, práticas contemplativas, sons. Mas sinto que a experiência é mais importante do que as ferramentas em si, porque no fim elas são meios para que a gente explore nossa própria consciência e exercite a criatividade. Sendo assim, é um caminho de autoconhecimento para cada pessoa encontrar a que faz mais sentido para si e para o que deseja criar.

Qual é a linha que guia você na hora de equilibrar mistério e descoberta?
Sinto que o mistério, assim como o inconsciente, existe por um motivo. São campos que podem ser investigados, podemos viajar por eles, mas não desvendá-los. Talvez as descobertas sejam pequenas fagulhas de consciência que às vezes emergem, fazem sentido por um tempo, podem não fazer depois. Pra mim, a linha para equilibrar isso é meu corpo. Busco nos meus sentidos e sensações os sinais do que ainda é desconhecido de forma consciente, e também busco perceber no corpo quando é preciso dar um respiro, deixar o mistério tomar conta, sabendo que certas coisas precisam ser sentidas e não compreendidas sob a luz da razão.

Oráculo

Moiras

Conselho: Abra-se às mensagens dos seus sonhos.


A Velha

Conselho: Solte o controle, use sua energia somente para modificar aquilo que é possível.


Terra

Conselho: Note o que não tem mais valor para você e escolha conscientemente guardar só o que realmente importa.

Fenda

Conselho: Perceba e acolha o que você está sentindo. Se entregue ao momento presente e leia os sinais que seu corpo transmite.

Nigredo

Conselho: Tempo de espera. Agradeça por tudo que foi até agora e saiba que logo as coisas começarão a andar de novo.

Retrato Infinito

Conselho: Peça ajuda a seus guias e ancestrais. Eles estão por perto, apenas esperando sua autorização para poder te ajudar.

Roda

Conselho: Não cultive memórias nostálgicas nem arrependimentos. A vida é agora.

Semente

Conselho: A resposta está dentro de você, fique em silêncio e ela aparecerá.

Espelho

Conselho: A natureza se comunica a todo momento, repare nos sinais que chegam até você. Você está no todo e o todo está em você. Reconheça a conexão e encontre seu ritmo próprio. 

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05/08/2019

Brenda Vidal

Brenda Vidal