Djonga, Bk e Clara Lima representam o lado verdadeiro do rap brasileiro no palco do Opinião

25/08/2017

Powered by WP Bannerize

Daniela Barbosa

Por: Daniela Barbosa

Fotos: Shandler Guterres Franco

25/08/2017

O palco do Opinião celebrou a nova geração do rap nacional na noite da última quinta-feira. Depois da passagem da Pode Fala Tour em julho, os rappers da Ceia Ent. e da Pirâmide Perdida voltaram a Porto Alegre pra lançar o EP Transgressão, a estreia da mineira Clara Lima, de apenas 18 anos, como integrante do time do selo Ceia. Clara vem se destacando na cena rap desde 2015, quando foi a primeira mulher a representar Minas Gerais no Duelo Nacional e na Batalha do Conhecimento, uma das principais do Rio de Janeiro. O debut da rapper retoma o rap old school dos anos 1990 e traz nas letras a realidade criminosa e precária das comunidades de Belo Horizonte.

Mesmo antes de Clara subir ao palco, Bk e o produtor Jonas Profeta abriram a noite com as faixas pesadas do Castelos & Ruínas, primeiro disco solo do rapper do Nectar Gang, lançado em 2016. Começando a festa com a já clássica “Sigo na Sombra”, os dois cantaram sucessos como o cypher “Poetas no Topo 1”, “$$$” do Akira Presidente e “Quadros”, música vencedora da categoria “Melhor Música com Participação”, do Genius Awards. O álbum foi um dos lançamentos nacionais mais elogiados e premiados do ano passado e reacendeu a verdadeira proposta crítica que deu origem ao rap das comunidades de São Paulo, lá nos anos 1980. Ao mesmo tempo que o disco escancara a realidade cotidiana da periferia, os versos refletem muito do que o rapper sente ao encarar a própria vida e história. Nascido Abebe Bikila Costa Santos, Bk já foi citado como o “futuro do rap” na letra da faixa “Primeiro de Abril”, do Marechal.

*

Depois de Clama Lima apresentar todas as faixas do EP Transgressão, Djonga subiu ao palco pra cantar com ela “Vida Luxo”. Quando djongador assumiu o microfone, o tiroteio em forma de rimas começou com “Esquimó”, maior hit do disco “Heresia”, lançado no início de 2017 como a estreia do rapper do DV Tribo, que fez o público cantar e gritar junto em cada frase. Ainda sobrou fôlego pra faixas como “Olho de Tigre”, “Vida Lixo” e “Geminiano”. Quando Doncesão apareceu de surpresa no palco, Bk e Clara chegaram junto pra cantar o remix de “Atleta do Ano”, do grupo MOB79, e transformar a plateia numa grande onda de fãs pulando e cantando ainda mais alto que o show. Enquanto Bk escreve rimas reflexivas, Djonga conquistou o posto de um dos melhores discos do ano com suas letras sujas e sem filtro pra abordar assuntos velados como racismo e pobreza. Djonga também deixa nítida sua inspiração no Racionais MC’s, ao usar samples e frases clássicas do grupo do Capão Redondo em várias das faixas do Heresia.

A noite fechou com um repeat acapella de “Esquimó”, puxada pela plateia, mesmo quando os rappers já estavam deixando o palco. Djonga fez questão de voltar e gritar mais uma vez trechos furiosos como “É, pretos precisam se defender / No final, não temos de quem depender / Por sinal, só temos quem vai nos prender” e “Eu acho graça ver racista baleado”. Em épocas de novos e descartáveis grupos de rap surgindo em todos os cantos do país, Djonga, Bk e Clara Lima provam que a verdadeira voz da favela precisa ser ouvida e o rap brasileiro ainda tem muita força pra resistir.

Tags:, , , , , , , , , , , , , ,

25/08/2017

Daniela Barbosa

Daniela Barbosa