Cheio de memórias e gente

24/06/2014

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Por: Revista NOIZE

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24/06/2014

Cheio de amigos. Cheio de influências. Cheio de arranjos trabalhados. Cheio de interpretações.

Os paulistanos do Memórias De Um Caramujo tem o que se orgulhar. Seu novo disco, Cheio de Gente, recém lançado, não cai no óbvio e suas harmonias dançam com as vozes de Gabriel Millet e Beatriz Mantone. A cada faixa, um sentimento e um lugar novo. Tudo graças à expressão vocal do grupo e do instrumental pesado e imprevisível de André Vac, Gabriel Basile e Thomas Huszar, que completam a banda.

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Cheio de Gente vai além de riffs e refrões e entrega músicas épicas e teatrais, que poderiam se encaixar como trilha-sonora de um filme ou de uma peça. Não há como não prestar atenção na originalidade da sonoridade de faixas como “Nina” e “Potosí”. Pra saber mais sobre essas composições tão adultas de uma banda relativamente nova, conversamos com o baterista e percussionista Gabriel Basile.

Seria injusto com o som de vocês enquadrá-lo em um estilo, porque ele é muitos. Principalmente nesse novo disco a gente percebe isso…

Essa coisa que você falou de ter influência de muita coisa, de não ser regional, acho que tem a ver muito com a gente, com a banda. A gente já ouviu muita coisa diferente e procuramos fazer as músicas com essas influências que são muito diversas. Até por isso o som acaba saindo assim, sem uma única vertente de estilo. Até por isso o nome do disco, Cheio de Gente. Vem um pouco disso também, de ter gente do mundo inteiro que influenciou a gente e ter vários amigos nossos que tocaram com a gente no disco.

Como vocês fazem para não cair no mesmo estilo em todas as músicas?

As coisas acontecem naturalmente. Por exemplo: o Biel e o Thomas compuseram uma música que tem mais a ver com certo som que eles tavam ouvindo na época. Dai a gente tenta fazer todo o arranjo da música mais voltado pra essas características que já vêm da composição. É uma coisa do nosso dia-a-dia. Não só nosso, como das pessoas em geral da nossa época. É tanta informação rolando solta, e a internet é uma coisa que aproxima muito os diversos estilos do mundo inteiro. Então, a gente ouve muitos sons diferentes, a gente tem outras bandas também, mais focadas em tocar funk ou tocar música do leste europeu… Então isso de misturar estilos é uma coisa que vem naturalmente. Os sons que a gente gosta de ouvir a gente gosta de tocar também.

Ao ouvir a música de vocês, a gente percebe algo de teatral nela. Vocês tem alguma relação com outras artes como o teatro?

Diversas áreas das artes estão presentes na banda. O Thomas, que é o baixista, ele é ator. Ele é formado em Teatro. A Bia, que é a cantora, ela é formada em Dança. Então, isso é uma coisa que flerta com a gente direto. Se você conseguiu perceber isso ouvindo o som, faz sentido. Sempre tem esse olhar teatral, principalmente nos shows.

A voz feminina e a masculina estão presenças de uma forma bem instrumental em Cheio de Gente. Como vocês constroem as músicas para que a voz seja mais um instrumento?

Acho que tem dois lados disso: tem o lado que é o musical, teórico, porque a voz feminina e a masculina são como dois instrumentos diferentes; e também tem o lado da interpretação, do eu-lírico masculino e feminino, que em determinadas músicas fazem mais sentido. Isso sempre veio desde o começo na banda. A gente ouve muitas bandas que tem muita coisa de várias vozes cantando, vozes abertas, coros. Até mesmo o Beatles tem muita coisa de coro. O Clube da Esquina também tem várias coisas. Tem várias músicas nossas que o [André] Vac canta e a Bia ela é usada no arranjo como um instrumento. Em vez de ter um piano, um órgão, a gente usa um coro de Bia (risos). A gente tenta sempre usar a voz desse jeito: como mais um elemento do arranjo. Não só como alguém que tá cantando a letra.

As letras do Cheio de Gente foram escritas na mesma época?

São músicas que a gente conhece há um tempo já, algumas até há uns cinco anos. E tem outras que são mais recentes, coisa de dois anos, um ano atrás. No processo do disco, a gente foi tentando achar algumas composições que a gente tinha que fizessem sentido juntas pela temática das letras. A gente também colocou algumas músicas que tínhamos separado pra outros projetos. Cada música vem de um momento do compositor, mas acho que todas elas falam bastante sobre nós.

“Nina” é um pai falando com sua filha. A letra dessa faixa foi escrita pensando em alguém específico?

É uma música que o Vac fez como se fosse pra filha dele, mas ele não tem filha. A música tem um pouco disso também: você canta pra alguém, mas, na verdade, ela é pra muita mais gente do que pra aquela pessoa que tá ali na letra. Ela é feita pra todo mundo que sente alguma empatia pela letra, que se identifica. É mais um sentimento em relação à vida. Muito mais abrangente do que simplesmente a situação que está sendo retratada ali na letra. Tem várias angústias, tem várias coisas ali que dizem respeito à vida como um todo. Não é só um pai desabafando pra filha, como uma sessão de terapia (risos).

O nome da banda merece uma explicação.

Ele vem de uma ideia que é a seguinte: a gente imagina que o caramujo, como ele é um animal que anda muito lentamente no mundo apressado que vivemos hoje em dia – com muita coisa rolando ao mesmo tempo, com muita informação que passa pela gente desapercebida justamente por essa correria -, a gente imagina que ele com certeza absorve muito mais informações que a gente. E imaginamos que a memória de um caramujo deve ter tanta coisa dentro que a gente gostaria que as nossas músicas e as nossas canções fossem tão ricas quanto as memórias desse ser que anda tão lentamente pelo nosso mundo acelerado.

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24/06/2014

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