Entrevista com Volantes (3/3)

19/04/2010

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

19/04/2010

Na tarde do dia 11 de abril, a NOIZE foi até o bairro Bom Fim, em Porto Alegre, onde fica a casa de Arthur Teixeira, vocalista da banda Volantes. João Augusto, o Jojô, guitarrista, também estava lá. Dentro de pouco mais de 24 horas, os dois estariam no Pepsi On Stage, onde a Volantes abriria o show do Placebo. Na terceira e última parte, bem humorados, entre discussões sobre cervejas estrangeiras e festas portoalegrenses, os dois músicos conversaram (com a revista e entre si) sobre os problemas na gravação do EP de estreia, a abertura do show do Placebo, sessões de fatos e a banda de rap RZO.

Boa leitura!

*

Texto: Gustavo Foster

Fotos: Ana Laura Malmaceda

Parte 1 | Parte 2 | Parte 3

NOIZE: O que aconteceu na gravação do EP?

Arthur: A gente tinha 500 reais pra gravar o EP. Se tu for pegar 500 reais, com a hora do estúdio a 30 pila, tu vai ter 15 horas de estúdio. E, no fim, a gente deve ter gasto umas 500 horas de estúdio.

Jojô: Tirando o tempo que o Eduardo (Eduardo Suwa, produtor) trabalhou sozinho.

A: É que rolou muita coisa. O estúdio mudou de lugar três vezes, fechou por causa da luz três meses, daí fechou de novo uns dois, três meses. A mesa queimou quando a gente já tinha gravado um monte de coisa, daí o Jojô já tinha feito guitarra para “As Ruas”, que ele não lembra nunca mais como fez. Mudou, teve que mudar. Então foi um período tri longo. Depois, eu acho que eu fiz a cirurgia, também, nesse meio. Rolou um monte de coisa. Teve a turnê megalomaníaca que ia rolar, também. Teve um monte de coisa que foi acontecendo e foi atrasando. Então esse EP é a gente há um ano e meio. A gente tá correndo atrás da máquina porque essas músicas que a gente tá tocando agora, que a gente tocou no Trama essa semana, e essa nova que a gente tocou, eu fiz há um ano. E só agora a gente tá tocando. Tipo “No Corredor, Ali”, que tem uns tambores, toda uma estética diferente, ela tava pronta há dois anos. “Um Pouco Disso” tá pronta há cinco anos. Então a gente deveria ter chegado muito antes com essa estética, mas esse ritmo tava atrapalhando. Mas acho que funcionou, isso foi bom, porque ele tem uma certa atemporalidade, que é o que a gente busca. Que é tu escutar daqui um ano e não achar ruim. Tem muito disco hoje que tu acha muito afudê e ano que vem não é legal. Talvez ele só tenha te puxando pela estética, pelo hype.

J: É, isso é uma coisa que ninguém vai poder falar, que esse EP ganhou as pessoas no hype. Esse EP não ganhou as pessoas no hype. Se tem essa questão de associar a gente a uma banda moderninha, não é por esse EP.

A: É, não é pelas canções. Não é nosso interesse fazer canções hypadas. Lógico que a estética pode ser moderna, mas são as canções que atraem as pessoas.

J: Tipo no Hot Chip. Por mais que a banda consiga ter um estilo hype, as coisas tão ali, a banda dura. O Depeche Mode surgiu na época que era afudê ter aquele timbre. Mas os caras tão aí há 20 anos fazendo música pra massa. E aí fica claro que eles não ganharam pela estética. Ficou um milhão de gente no tecnopop por causa da estética.

A: Exatamente. “Bizarre Love Triangle”, do New Order (cantarola). Tem trilhões de bandas que tentaram esse mesmo timbre e não chegaram a lugar nenhum. E essa muisica ficou muito provada que era a canção depois que a guriazinha, aquela (Charlotte Martin), gravou e ficou muito do caralho.

J: Comprovando a tese do Bon Jovi. (risos)

Vocês tinham algum álbum modelo quando foram gravar o EP?

A: A gente sabia o que que a gente não queria. (risos)

J: Eu acho que na primeira gravação tu é uma mescla de todos os fetiches tem até aquele momento.

A: O Jojô gravou 80 guitarras. (risos)

J: E ao mesmo tempo tu quer que aquelas canções fiquem o melhor possível. Foi uma mescla de muitas coisas.

A: Acho que a ideia é mostrar um pouco de cada coisa. A gente não pode ficar refém do primeiro trabalho. “Ah, agora mudou”. Não, a gente botou ali: tem essa aqui que é Joy Division, depois tem essa que é folkzinha Wilco, tem essa que é Kraftwerk bibibi.. Pras pessoas não reclamarem. Se a gente fizer um disco só de folk, não pode reclamar. Vai ser só de folk.

J: O EP é um ótimo epílogo.

A: E a gente sabe o quanto é complicado. As bandas sofrem muito quando resolvem fazer uma estética nova, mudar um pouco. Cai a mídia em cima: “Ah, os caras mudaram, não sei o quê”. Principalmente com esse lance de rock, quando começa a usar teclado, e eletrônico e tal. Então, desde o inicio, a gente fez de tudo. Por que ninguém pega no pé do Bowie? O camaleão do rock! Porque ele já chegou dando a morte: “ó, eu faço tudo”. Então se tu chegar dando o carteiraço… Primal Scream! Ninguém fala do Primal Scream, que mudou, que o disco é diferente. Óbvio que é diferente. Primal Scream tu nunca sabe o que esperar. Entao eu acho que Volantes tem que ser assim: tu nunca sabe o que pode esperar do Volantes.

Voces já falaram com o Placebo?

J: Ainda não. Mas eu pretendo. É engraçado, pra por foto no Orkut. (risos)

A: Placebo é uma banda que eu respeito pra caralho. Não é uma banda que eu ouça. Eu lembro de ir naquele show de…

J: Bah, não lembro.

A: 92. Porque foi a primeira banda alternativa que veio pra Porto Alegre, depois da Cat Power. Que ninguém foi (risos). Então todo mundo foi na época, porque era o Placebo. Eu nem conhecia direito o Placebo, baixei o disco na semana pra ouvir, pra ir no show. E, tá, ouvi aquela semana e nunca mais ouvi. Mas eu acho legal, acho que a voz dele parece com a do Michael Stipe. Acho que eles tem um trabalho bem bacana, é uma banda que nunca baixou a guarda, sempre fez o que quis fazer e, bah, é uma honra tocar com eles. Acho que a gente vai tentar ir no camarim, falar com eles.

J: Se não rolar uma pilha Freddie Mercury no Rock in Rio a gente vai lá.

A: Tenho a impressão que eles são bacanas. Mas é uma banda que eu não tenho muito o que conversar. Eu não vivo no meio musical dele. Não teria papo.

J: Eu tive uma época que gostei bastante, 5 ou 6 anos atrás.

A: O que mais que tem, tipo Placebo?

J: Não sei, eu vejo eles meio Interpol, mas não musicalmente (Arthur faz cara feia). Mas não, não do público, eu digo… O Brian Molko vai sempre ter que estar com o olho pintado.

A: Não, mas eu digo… Qual é a cena do Placebo?

J: Eu não sei quem é o público deles. Aí que tá, eu tava vendo umas coisas deles e não sei. É uma misturança.

A: É um elogio pra eles. É uma banda singular.

J: Eu lembro do placebo quando eu li uma Showbizz de 97, 96, sei lá. De 96 pra 99 eu não lembro que que aconteceu em cada ano.

A: Eu não lembro de 98 até agora.

J: Dez anos de branco gigantesco (risos). Mas eu lembro que foi ali que eu saquei. Porque saiu a lista dos álbuns do ano e o Placebo tava em segundo, porque saiu o This Is My Truth Tell Me Yours, do Manic Street Preachers, que tá, foi uma monstruosidade, acabou com tudo que saiu naquele ano de música de respeito. Tudo foi avassalado por aquele disco.

A: Que ano foi isso?

J: Não sei! Pega ali pra ver. E foi ali que eu conheci. Aquela época fazia sentido, até porque eu tava numa pilha meio Bowie.

A, de longe: É de 98!

J: Tá, de 98. Mas, peraí, o OK Computer é de quando? Não é de 98?

A: 97

J: 97… Ah tá. Porque tá louco, né. Tá, daí depois eles lançaram o Without You I’m Nothing (disco de 1998). Até o Black Market Music (de 2000) eu achava uma banda super lugal. Daí depois que eles lançaram o Black Market Music eu vi que “tá, meu, é muito chato isso daí, é uma pilha meio hardcore, meio emo”, mas tinham canções boas ali. Todos os álbuns tem três canções boas. E eu acho muito afudê ter sido a banda escolhida pra abrir o show deles. Porque demonstra que, tá, não teria outa banda pra abrir aqui em Porto Alegre, mas é engraçado associarem a gente ao Placebo. Não é uma banda que a gente tem a ver, mas demonstra o quão amplo a gente pode ser. A gente abriu pro Franz, agora pro Placebo.

A: E o discurso deles é singular, tu vê que ele tá falando com sinceridade, com honestidade, tu vê que é uma banda honesta. Eles nunca fizram nenhum truque, ele parece ser uma boa pessoa. Eu gosto de gente simpática.

J: Mas é engraçado. Desde o Maquinária, quando a gente tocou na Chácara do Jockey, eu tô meio louco. A gente tocou lá na Chácara, onde todo mundo já tocou, desde o Radiohead. E a gente viu os caras lá 6 anos atrás. É muito afude.

A: Foi um choque. A gente foi no Radiohead em março, abril. Daí a gente nunca tinha ido lá, virou o templo, virou sagrado pra minha vida. Se um dia eu voltasse lá com meus filhos eu ia olhar e chorar. Daí, de repente, 8 meses depois, eu tava no palco, então… Quando eu entrei, olhei o lugar, deu frio na barriga. Foi a mesma coisa com o Trama. É um estúdio que eu já vi em 120 documentarios, com a Elis Regina, o Tom Jobim, o Chico Buarque, ele é meio o Abbey Road brasileiro

J: Em todos os sentidos!

A: Tem aquela mesa de um milhão de dólares, que realmente custa um milhão de dólares. Tem 15 no mundo só. Enfim, é o estúdio, a aura, é um lugar que eu vi em todos os lugares e os caras que sempre estiveram ali tavam lá, me tratando como se eu fosse o cara mais foda do mundo. Demora pra cair a ficha, um pouco.

J: Às vezes demora pro cara se dar conta, mas às vezes é bom pro cara ver que ele tá fazendo a coisa certa. Tá aí ó. Tá valendo a pena essa dedicação toda, acreditar nisso aí. Por mais que seja meio criança de cinco anos no Serginho Mallandro, “Ai não tô acreditando, é o meu sonho estar aqui na Porta dos Desesperados”.

A: As amigas da minha irmã tão ouvindo. Gostam de “Vitória”, porque ouviram na Itapema (emissora de rádio do Rio Grande do Sul). Isso é uma baita referência, porque a minha irmã é patricinha afu. Aí eu vejo que a gente tá fazendo a coisa certa, porque tá agradando as pessoas chatas como a gente, que gostam de música pop como a gente gosta, mas ao mesm tempo tá chegnado nas pessoas que não tão nem aí se saiu o novo disco do MGMT. E elas tão curtindo. É a música pop no estado bruto. Eu tô feliz e tenho a sorte de que muita gente tá feliz com isso, também. Eu acho que poucas bandas deram essa sorte no mundo. Tipo U2. Tipo Queen. U2 e Queen não fizeram música pras pessoas. Eles fizeam música pra eles. Quanto tempo tem “Bohemian Rhapsody”? Olha o Joshua Tree (disco do U2), as três primeiras músicas: “Where The Streets Have No Name” tem 6 minutos, daí agora vem o single, “With Or Without You” tem 5, 6 minutos, depois “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”, 7 minutos. Era música pra eles. E de repente o mundo inteiro abraçou essas canções, e isso que é afudê.

J: Como eu tava falando com o Rafa, é essa a questão. É nisso que o cara tem que se focar. O cara tem que se dar conta que não tem problema querer ser grande. Não é arrogante querer ser grande. Não é arrogância querer fazer música pra massa.

A: Eu tenho sorte de tá fazendo o que eu gsoto. Eu gosto de The Radio Dept., e se eu quiser fazer música que nem eles eu faço. Se eu quisesse fazer música que nem Cat Power, eu faria, eu ia gostar. Mas não, deu azar que eu gsoto de U2.

Quem fez a capa do EP?

A: A gente fez um brainstorm, mas basicamente foi uma ideia minha. Eu desenhei a mulher, o balão, e levei pros guris. Porque o diretor de criação somos nós todos, a aprovação é de todo mundo. Se não for aprovado por todo mundo, não rola. Daí a gente chamou o Dani (Daniel Lacet, fotógrafo), fotografamos, daí eu dirigi a foto, falei como a guriazinha tinha que ficar. Daí trouxe pra cá a foto. Eu gosto muito de tipologia, então comecei a fazer. Daí eu fiz tudo. E o Otávio se liga muito na produção, na manufatura, ir atrás. Mas foi tudo a gente que fez: desde o projeto até ligar pra fábrica em São Paulo. Eu sou redator, não sou o cara da arte. Nada aqui é difícil de executar, mas é a ideia. Eu gosto de design e de tipologia, então uso isso na banda. Agora o EP novo, que deve sair em vinil, é uma arte um pouqunho maior, vai ser legal. A gente tá com um pouco de receio de falar sobre esse compacto, porque talvez role um conflito de informações, porque a gente não pode falar, na verdade, tudo que a gente sabe. Tá rolando isso. O que a gente pode falar é: a gente foi ao Rio e gravou esse compacto no estúdio Tambor com o produtor Rafael Ramos, o cara que tem na lista dele desde ter descoberto o Mamonas (Assassinas), Los Hermanos, Ira!, Ultraje a Rigor.

Quantas músicas vão ser?

J: Duas.

A: A principio são duas canções. Com o remix do Boss in Drama.

J: É, Boss in Drama tá certo.

A: A ideia era lado a e lado b, com o remix da música do lado a no lado b.

J: É, daí eu comecei a encher o saco do Rafa, pra fazer com o The Twelves junto, sou muito fã de The Twelves. Acho genial. Genial, genial, genial.

Quem é o maior ídolo de vocês na música?

A: O meu herói musical, de todos os tempos, de todos os mundos é o Caetano Veloso. É o meu herói. É hors concours, não tem como concorrer com ele.

J: (silêncio) Depende do dia.

A: Quer entrar no Lastfm? (risos)

J: (silêncio)

A: Guilherme Arantes.

J: (risos) É que teve uma fase que eu tava na pilha dos dois primeiros do Guilherme Arantes. Esses dois primeiros eu gosto, mas não é o cara. Nem o Flávio Venturini. Não sei, não sei. Eu gosto bastante do Caetano, mas não. (silêncio). Tá, tem esse cara, que eu tô ouvindo bem mais que o Caetano. Mais que o Caetano e que o Chico. É o Villa-Lobos. Bah, ô meu. Eu não gosto do Chico porque o Chico é muito Cidade Baixa (bairro noturno portoalegrense). (risos) Eu tenho ouvido mais Villa-Lobos do que Chico. Esse cara faz musica clássica como ninguém no mundo fez. Tá, Villa-Lobos e RZO, então. (risos)

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19/04/2010

Revista NOIZE

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