_entrevista e fotos: Bru Valentini
O Brooklyn é o parque de diversões e inspirações desse trio, cujo som os fez ganhar o rótulo de “banda mais barulhenta de Nova York”. Não por acaso. Enquanto batíamos um papo com dois dos integrantes do A Place to Bury Strangers, o terceiro vendia não só camisetas e discos, mas também protetores de ouvido em sua barraquinha de merchandise.
É a primeira visita do grupo ao Brasil. Na bagagem, uma porrada de EPs e três discos – o mais recente deles, Worship, chegou às prateleiras em junho.
Assustados com o frio porto-alegrense, em pleno país tropical, empinavam caipirinhas com a frase: “o melhor drink de todos os tempos”. Só reclamaram por não poder usar shorts – sim, eles dizem estar sempre preparados pra um hotel com piscina.
Shoegaze, noise, rock psicodélico… os rótulos que se ouve por aí para enquadrar o A Place to Bury Strangers são muitos. Pra eles, no entanto, o que importa mesmo é fazer música louca e sangrar no palco.
Em conversa pré-show no Beco 203, em Porto Alegre, o vocalista e guitarrista Oliver Ackermann e o baixista Dion Lunadon revelam o que mais faz parte desse universo de música e sangue.
NOIZE: Vocês vêm do Brooklyn, de onde tem saído muita música com uma pegada mais eletrônica. Onde entra o A Place to Bury Strangers, em uma direção bem oposta a essa tendência, certo?
Oliver: Acho que estamos indo na direção contrária de todo o mundo. Eu sinto que não estamos conectados a nenhum outro tipo de banda. Vamos estritamente na direção das guitarras, baterias… Nada de teclados. E, mesmo que a gente use um monte de efeitos eletrônicos no nosso som, não é nada como muitas outras pessoas têm feito: imitando guitarras, baterias, ferrando com o rock ‘n’ roll.
NOIZE: Mas tem alguma bandas dessas que vocês curtem?
Oliver: Hmm… French Miami. Mas que não é realmente eletrônico.
Dion: Eu não sou um grande fã de música eletrônica, na verdade. Acho que não tem muita alma. Não sei, falta aquela pegada humana.
O: Acho que a música eletrônica pode pegar várias direções interessantes. E ter muita alma. Mas tem muita gente que usa isso como um caminho fácil. Toda essa revolução tecnológica, onde você pode tocar só com computadores e tudo soar muito bem… Aí quando vai tocar ao vivo, soa exatamente como o álbum. O que é legal, mas ser um músico é algo como suar e sangrar, coisas que a gente gosta de fazer.
NOIZE: O Brooklyn é inspiração?
O: Com certeza. É um lugar que está mudando a cada segundo. Mesmo quando saímos só por uma semana, tem sempre algo novo quando voltamos. Novos restaurantes, muitas coisas acontecendo ao seu redor, festas loucas… É tão incrível que nem tem como se dar conta de tudo de novo que acontece o tempo todo.
NOIZE: É uma honra ser considerada a banda mais barulhenta de NY?
O: Pra mim, isso parece ridículo. Mas, tanto faz, a gente toca alto mesmo.
D: Não é uma questão de honra. Mas a gente pega pesado mesmo, então até que é legal.
NOIZE: Vocês vendem protetores de ouvidos nos shows. Diz muita coisa…
O: Eu nunca uso protetores. Algumas pessoas gostam de proteger os ouvidos, mas as pessoas são diferentes, então… Eu gosto de realmente estar ali e sentir o momento com a maior intensidade que eu puder. Se eu gostar do som, claro. Caso contrário, vou embora.
É toda uma experiência corporal estar em um show, e é exatamente o que eu gosto de fazer quando estou em um: me perder completamente.
D: Eu gosto de proteger meus ouvidos. Já faz um tempo que estamos nos palcos, e eu não consigo ouvir nada por horas e horas depois de um show. No início, quando entrei na banda, eu não usava protetores. Mas se eu continuasse assim, eu iria arruinar minha audição.
NOIZE: O que vem primeiro…
D: A galinha.
NOIZE: (risos) O silêncio ou o barulho?
O: hmmm
D: O silêncio, eu acho.
O: O barulho é que começa…
D: É uma pergunta interessante.
O: Eles não podem existir um sem o outro.
NOIZE: O Jesus and the Mary Chain e todas aquelas bandas shoegaze foram uma referência para a banda dar o pontapé inicial?
O: Acho que bandas como Jesus and the Mary Chain, My Bloody Valentine e The Cure talvez tenham sido importantes quando comecei a tocar guitarra, mas a gente nem ouve mais Jesus and the Mary Chain. Eu até gosto, mas é um tipo de banda que tocou meio que demais, que ficou no passado.
D: Quando você é jovem e está aprendendo, você se inspira nas coisas que gosta, mas quando você cresce, não quer mais copiar, só quer fazer suas próprias coisas. É importante descobrir quem você é. Mas o que você aprende quando criança é o que fica, é uma forma pra quem você é.
NOIZE: O que tem tocado nos players de vocês?
O: Muita coisa. Natural Child, Grums, Hunters, com quem já saímos em tour, Lucid Dream…
D: Ouço de tudo, mas sou mais de música das antigas.
NOIZE: O que vocês pensam do “rock de hoje em dia”? Curtem Kings Of Leon, talvez um Foster The People?
O: Não gosto dessas bandas, elas nem parecem rock. É só um big funny show, especialmente quando você está do outro lado, na plateia. Essas pessoas não estão inspiradas em ser roqueiros. Passam mais tempo arrumando o cabelo, mostrando amplificadores falsos, é muito estranho.
Uma vez, em um festival em NY, uma banda abriu… como é mesmo o nome? Avenged Sevenfold! Era algo gigante, bem elaborado, quase um teatro. Não tem nada de errado nisso, é legal, as pessoas precisam disso. Mas a gente tá num caminho bem diferente.
Existe lugar para esse tipo de entretenimento, música é entretenimento, mas nós só estamos tentando criar músicas loucas, então, se é algo difícil de ser feito, nós curtimos fazer funcionar, ver a coisa acontecer bem na nossa frente.
NOIZE: Diriam que é mais difícil fazer música nos dias de hoje?
D: É fácil e é difícil. Existem tantas ferramentas disponíveis, se pode fazer tudo em casa, qualquer um pode gravar. O que as vezes é bom, outras não. Mas eu gosto de ser forçado a usar poucas ferramentas, é mais legal.
O: O que é bom também é que, já que qualquer um pode fazer, existe mais competição, muitos artistas aparecendo. Como aparece muito lixo também. Mas isso faz com que você se foque a criar algo realmente bom.
NOIZE: E o novo disco, foi tudo sob o comando de vocês, certo?
O: Sim, não teve essa de algum produtor vir e fazer tudo pela gente. Nós fizemos tudo: gravar, produzir, mixar, masterizar. Saiu pelo selo Dead Oceans, que é do Texas, mas que está espalhado pelo mundo. A gente mudou pra esse selo porque ele é mais independente do que a Mute Records, com quem trabalhamos no álbum anterior [Exploding Head]. A Mute não era indie o suficiente pra nós (risos).
NOIZE: Além das guitarras, o que mais motiva vocês?
O: Amigos, ciência… Descobrir o quão insignificante você é, o quanto a vida é fatal…
D: Eu tento deixar minha marca nesse mundo.
O: Eu não ligo muito pra isso, mas realmente amo fazer algo que ajude as gerações futuras.
NOIZE: O caminho seria a música?
O: Acho que sim, mesmo que eu ache que o que estamos fazendo seja algo que esteja morrendo. As crianças de hoje provavelmente não vão ver shows e coisas como estamos fazendo, ou coisas que eu realmente amava ver, fazer quando era mais jovem. Tenho esperança de que isso inspire elas a levarem algo bom adiante.
NOIZE: O que seria chegar ao topo da carreira?
O: Aqui estamos.
D: É aqui. Chegar ao final dessa noite.