Exclusivo | Cage The Elephant revela o que mudou com seu novo disco

15/02/2016

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Ingrid Flores

Por: Ingrid Flores

Fotos: Pooneh Ghana/Divulgação

15/02/2016

“Oi, Ingrid. Aqui é o Matt Shultz”, rompia o silêncio aquela voz abafada repentinamente. O esperado era um “hello” e uma pausa serena (alô, escola Adele de comunicação), mas o vocalista do Cage The Elephant disparou a conversa num susto quando eu aguardava distraída do outro lado da linha.

O músico que quebra tudo no palco (incluindo o quadril – o cara dança muito, com vontade mesmo) soa como aquele aluno que sabe a resposta na aula de matemática, mas tenta disfarçar. Foi preciso contar que levantei pra acompanhar os passinhos dele (quando assistia sozinha em casa a uma apresentação deles na TV) pra arrancar umas risadas e despir o músico de toda aquela seriedade. Gargalhadas escaparam emendadas com “Isso é incrível! É por isso que a gente adora o Brasil”. Suponho que ele tenha imaginado a cena de forma fiel à minha falta de coordenação, porque a risada soou genuína.

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A voz tímida mal parecia pertencer a um dos caras por trás de Tell Me I’m Pretty, lançado em dezembro de 2015 (quem curte Strokes, Fratellis, Kasabian e Hives pode incluir na lista de discos obrigatórios, ok?). Depois de Melophobia (2013), outro grande trabalho que marcou a carreira da banda, o novo álbum colocou os americanos de Kentucky ainda mais na mira (e nos ouvidos) de todo mundo que curte um garage rock razoavelmente polido.

Aliás, um dos responsáveis pelo tom do trabalho foi ninguém menos que Dan Auerbach (do Black Keys e The Arcs). O músico, que já não precisa de mais evidências do seu talento para aquilo que os indies chamam de música, encabeçou a produção do álbum. Ele fez o que Matt Shultz descreveu como se manter fiel à verdade das faixas – ou algo do tipo.

Segundo o vocalista, durante as gravações dos outros discos, a banda tendia a buscar sonoridades mais específicas. Desta vez, eles optaram por deixar as faixas se comunicarem com eles de forma um pouco mais independente.

Não é incrível de se pensar? Os caras se colocaram mais perto da posição de receptores do próprio som. E o resultado é um álbum que acertou em cheio no alvo que dizia “um rock que a gente queria ouvir e não sabia”, mesmo sem mirar muito.

Tell Me I’m Pretty é o quarto álbum de vocês. Ele ainda soa como o Cage The Elephant, mas ao mesmo tempo novo, mais afiado. O que mudou? Você sente que a banda cresceu de um álbum pra outro?
Nesse álbum fizemos algo diferente. Tentamos utilizar a primeira reação, algo que não fazíamos antes. É como se pegássemos a expressão crua de cada canção, ao invés de nos preocupar se todos os efeitos estavam certos, por exemplo. Acho que, nesse disco, estávamos procurando por uma sonoridade mais clássica.

Vocês ficam mais satisfeitos a cada álbum?
É, meio que depende do momento, sabe? Às vezes, você gosta do que está tocando, mas tem épocas em que é normal ter algumas batidinhas que você odeia. Eu acho que curto mais perceber como as pessoas estão recebendo [a música] do que, talvez, a minha experiência pessoal com ela.

Dan Auerbach produziu o disco, como foi que isso rolou? Vocês já haviam trabalhado com ele?
Já havíamos saído em turnê com o Black Keys e meio que vínhamos tocando juntos desde então. Uma dia, estávamos compartilhando algumas faixas em que estávamos trabalhando e ele demonstrou interesse em produzir o álbum conosco. Pra ser honesto, Dan já era um dos caras que pensávamos que seria o melhor pra função de qualquer forma, dada a direção em que estávamos indo. Não tem muita gente fazendo álbuns do modo como Dan está atualmente.

Vocês já vieram algumas vezes pra cá e eu li que vocês curtem muito tocar no Brasil.
Muito! Eu gostaria de estar no Brasil. Até escrevi uma música aí.

Sim! “Come A LIttle Closer”, após terem visitado as favelas de São Paulo, não é?
Isso, exato.

Do que vocês mais gostam quando vêm pra cá?
É interessante, porque, no Brasil, existe uma apreciação em relação à música que você simplesmente não vê no resto do mundo, principalmente no norte. Infelizmente, nos Estados Unidos e na Europa é quase como se a música fosse um acessório. E no Brasil é uma outra experiência. Podemos sentir que existe realmente uma paixão, um amor mesmo pelo som. É uma coisa muito pura, eu acho. É minha impressão.

E rola sentir essa diferença no público brasileiro mesmo quando ele é maior, tipo foi nos Lollapalooza em que vocês tocaram?
Sim, com certeza. A gente já fez alguns shows bem grandes em diferentes partes do mundo. Mas no Brasil dá pra notar que tem algo de especial. No Lollapalooza de 2014, recebemos uma energia inacreditável em cada lugar que fomos. A recepção de Melophobia foi incrível. Nunca tínhamos feito um show como aquele, tipo nunca mesmo. Um de nossos empresários estava junto e nós olhávamos um pro outro e dizíamos: “Uau, as coisas mudaram!”. Aquilo foi bem especial.

Eu estava assistindo a algumas entrevistas suas e me deparei com um vídeo bem recente, num programa de rádio matinal. Começa com você falando com o apresentador, a voz baixa, meio tímido. Dois minutos depois, a banda começa a tocar e você simplesmente dança muito! Como se despertasse. De onde vem isso? Você sempre foi assim no palco ou isso veio com a experiência?
Uau, talvez esse diálogo soe como uma sessão de terapia (risos). Mas acho que em conversas, às vezes, as pessoas me assustam. Então sou muito cuidadoso com as palavras que escolho dizer pra garantir que estou comunicando mesmo aquilo que penso ou sinto no momento. E, no minuto em que começo a me apresentar, é como se estivesse totalmente exposto ali, então tento simplesmente me tornar parte de uma experiência. Me sinto muito confortável sendo transparente nessa hora.

Tem alguma coisa que vocês acham que é uma grande característica da banda, mas que o público não faz ideia vendo de fora?
Cada vez que gravamos, nossos discos mudam bastante de um pro outro. Isso se transformou ao longo do tempo, mas no início nós estávamos aficionados por punk rock. E as pessoas deduziam que era meio que a única coisa tínhamos interesse em ouvir. Acho que olhavam pra gente, sabiam que gostávamos de The Stooges e achavam que parecíamos com nossa banda favorita. E eu adorava isso, mas, ao mesmo tempo, também adoro ouvir Rodrigo Amarante ou Devendra Banhart, The Zombies, Jimi Hendrix… Então, o que quero dizer é que as pessoas provavelmente não sabem que escutamos (eu, pelo menos) músicas mais tranquilas, ainda que a gente faça mais barulho com as nossas e coloque muita energia nisso.

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15/02/2016

Jornalista por formação, questionadora e overthinker por não conseguir evitar.
Ingrid Flores

Ingrid Flores