Era 2006 quando o Fratellis surgiu com um dos hits mais grudentos da cena indie, “Chelsea Dagger”. Quase dez anos depois, a banda já acabou, já voltou, e agora está prestes a lançar seu quarto disco de estúdio, Eyes Wide, Tongue Tied. Com data de lançamento prevista para 21 de agosto, esse disco foi produzido por Tony Hoffer, responsável pelo disco de estreia da banda, Costello Music (2006).
O vocalista e guitarrista do grupo, Jon Fratelli, tirou um tempo de sua agenda para conversar com a NOIZE sobre o disco novo, os motivos da separação do grupo e seu gosto pela bebida. Veja abaixo.
Eyes Wide, Tongue Tied (algo como “olhos arregalados, lingua presa”, em português), o que você pode dizer sobre o conceito desse álbum?
Bem, não há realmente um “conceito”. Na verdade, nós mal conversamos sobre o título desse disco. Eu só me dei conta de que tinha feito um monte de músicas e foi isso. Finalizamos elas em setembro do ano passado e lançamos o disco o mais rápido possível. Não teve um conceito pensado. Quando finalizamos um disco, só escolhemos um título rapidamente, então ele nunca tem nenhuma conexão com as músicas. A forma como fizemos o disco foi ver o que as músicas nos pediam, sem excessos. Não pensamos se elas soavam como o som do Fratellis ou não, só fomos deixando-as virem. Dando tempo a elas, para ser honesto.
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Posted by The Fratellis on Terça, 14 de julho de 2015
Eu li que, primeiro, vocês tentaram fazer esse disco em janeiro de 2014, mas não deu certo. O que aconteceu?
É que eram as músicas erradas sobre temas errados. Tudo se resume às músicas, sabe? Nós já tínhamos escrito um monte de faixas que poderiam virar um disco gigante, mas não eram as músicas certas. Então tivemos que desistir delas e esperar para compor as músicas certas. Assim que chamamos o Tony Hoffer pra produzir o disco, por algum motivo, as músicas certas começaram a vir. Tudo depende das músicas. Não tem sentido fazer um disco se você não tem as músicas.
Veja “Baby Don’t You Lie To Me!”, o primeiro clipe do novo disco da banda:
Vocês chamaram Tony por causa da dificuldade que tiveram em um primeiro momento?
Bem, sim. Nós precisávamos de alguém que assumisse o controle de tudo pra que pudéssemos criar nossa música sem ter que pensar muito no que fazer depois de escrevê-las. Nós tínhamos que passar tudo pra alguém e Tony era a escolha óbvia. Ele estava com a gente no início, depois fez um disco comigo [Codeine Velvet Club (2009), ouça abaixo]. Era o cara mais óbvio pra chamarmos. Ele gosta da gente, nos conhece…
Ao ouvir o disco novo, fica claro que é um álbum bem diferente dos anteriores. Ele está cheio de músicas lentas (“Me And The Devil”, “Slow”, “Desperate Guy”, “Moon Shine”). E vocês também incluíram elementos eletrônicos no som da banda, como em “Thief” e “Rosanna”. Como aconteceu isso? Foi ideia do Tony?
Pareceu natural fazermos isso. Ainda que tenhamos começado como uma banda de rock bizarra, nós logo deixamos de ser isso. Fazendo esse disco, eu não me lembro de ter pensado no que nós deveríamos ou não usar, em termos de instrumentos. Não acho que faça diferença pra mim se uma faixa tem mais guitarra, ou teclado, ou piano… Sabe? Cada música tem que ser respeitada. Não é o disco de uma banda de guitarras. E eu não sou um grande guitarrista. Tudo foi muito natural e nós ficamos muito felizes de caminhar nessa direção.
Em 2009, a banda se separou e você gravou um disco solo com o Codeine Velvet Club. Por que vocês se separaram e por que voltaram a tocar juntos?
Naquele momento pareceu que era a coisa certa a se fazer. E voltar a tocar juntos também pareceu a coisa certa a se fazer. Eu provavelmente não tenho uma explicação muito boa pra dar, eu só não queria continuar tocando com eles. Mas alguns anos depois eu quis tocar com eles de novo, e nós voltamos. Parece que nós nos divertimos mais agora do que nunca. Até porque nós temos um trabalho fácil, nós viajamos pelo mundo tocando guitarra. (Risos) É o melhor trabalho que existe.
E o que você sente que mudou depois do hiato?
Quando paramos, nós precisávamos parar. Definitivamente precisávamos dar uma perspectiva pra banda, fomos perdendo a perspectiva. Então precisamos dar um passo pra trás e nos distanciar um pouco. Isso foi importante pra manter tudo bem. Esse tempo nos deu chance de pararmos de nos levar tão a sério. Talvez seja por isso que nós gostamos mais de tocar agora do que nunca. Nós paramos de botar tanta pressão em nós mesmos. Estamos felizes só de seguir tocando e poder fazer discos. Antes de nos separarmos, nós sentíamos muito o impacto da pressão que nós colocávamos em nós mesmos. Então, nós precisávamos parar mesmo.
Você ainda pensa em uma carreira solo?
Para mim, não faz tanta diferença. Isso foi uma coisa que eu fiz, mas é tudo igual. É só fazer umas músicas. E não faz tanta diferença o nome que você coloca nisso. Eu tenho muita liberdade nessa banda pra compor minhas músicas e, na maior parte do tempo, as pessoas parecem gostar delas.
Quando vocês começaram, em 2006, havia todo um movimento de bandas indie (Strokes, Kaiser Chiefs, etc). Como você se sente quase dez anos depois daquele momento?
Eu não sei… Eu realmente não presto atenção a nisso. Naquela época, era mais fácil construir um público e vender discos. Nós sabemos disso. Mas eu nunca me senti parte de nenhum movimento. De longe, mais importante do que fazer parte de um movimento é construir um público. Criar um público é difícil, manter seu público é mais difícil ainda. Nós conseguimos manter uma parte do público, mas eu não sei como fizemos isso, eu só fico feliz porque nós ainda conseguimos deixar as pessoas satisfeitas. Não tenho ideia de como nós ficamos tão grandes. Acho que devemos ser bons em alguma coisa, devemos estar fazendo alguma coisa certa. Mas se eu tivesse que explicar isso, eu não teria ideia do que dizer.
O que faz vocês tocarem até hoje? Por que vocês seguem nos palcos?
Tocar pra pessoas. Só tocar. Eu não consigo ver uma série de razões. Eu não sinto que nós estejamos tentando alcançar nada, é só pelo prazer de fazer mesmo. É o que eu disse antes: ser pago pra tocar guitarra é tipo um trabalho de brincadeira. (Risos) Então é só pela diversão. Se não fosse divertido, eu não faria. É só pela diversão de fazer.
No Fratellis vocês gostam de falar sobre álcool, tem “Whiskey Saga” e no disco novo tem “Too Much Wine”. Qual é o papel do álcool no seu processo de composição?
(Risos) Não tem papel nenhum. Quando falamos sobre isso, são só personagens, sabe? Não são reais. O álcool e o rock n’ roll sempre andaram de mãos dadas. O que há em “Too Much Wine” é um personagem inventado. E funciona. Rock n’ roll e muito vinho vão bem juntos.
Entendi, mas eu imagino que você goste de beber.
(Risos) Não mais do que qualquer outra pessoa. (Risos) E não tanto quanto eu costumava beber. Não é mais algo tão importante. Mas [o álcool] está sempre presente, é difícil escapar quando você toca numa banda de rock. Mas certamente não somos como outras bandas, até que somos bem comportados. É que eu gosto dessa caracterização, é fácil. Mas não gosto mais de álcool do que qualquer outra pessoa.
É um clichê.
Sim, é um clichê completo. E é por isso que eu uso. Porque é um clichê. Eu não tenho nenhum problema em usar um clichê. Nós somos todos clichês.