Entrevista | Flerte Flamingo retorna com EP e anuncia nova formação

14/12/2022

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Gabriela Amorim

Por: Gabriela Amorim

Fotos: João Nuci e Aisha Faria

14/12/2022

Há menos de um mês, a banda de origem soteropolitana Flerte Flamingo divulgou o EP Truques Velhos Para Cachorros Novos (2022) marcado por diferentes texturas, derivadas de uma maior diversidade na exploração rítmica, porém sem perder a sensibilidade e o estilo dançante – traços marcantes desde a divulgação do EP de estreia, em 2017. O trabalho surgiu após o vocalista, guitarrista e compositor, Leonardo Passovi, ter o desejo de trabalhar em um projeto solo sem muita pretensão, ao lado de Fernando Tavares, antigo membro da banda, e Felipe Vaqueiro, integrante do grupo Tangolo Mangos, que cuidaram da produção musical: “Começamos a ter uma enxurrada de ideias, porque poderia caber tudo e cada um, em sua casa, ia construindo as guias. O projeto pode até ter nascido solo, mas saiu como Flerte Flamingo”, diz.

O lançamento também reflete o anúncio de uma fase mais atual, onde o Flerte Flamingo apropria-se de uma nova formação após a mudança de Passovi e Igor Quadros, multi-instrumentista e baterista do conjunto desde 2019, para a capital paulista.

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A motivação desta transição para o sudeste se deu pela modificação do cenário do circuito musical de Salvador, após os efeitos severos da pandemia de Covid-19 – que continuam sendo notórios para o campo cultural: “Salvador depois da pandemia perdeu muitas casas de shows. A cena ficou com uma ferida escancarada e o abismo entre as casas e as oportunidades, pequenas e grandes, se alargaram. Isso prejudicou quem estava no médio porte, local onde nós estávamos, então ou a gente tocaria em um lugar sem palco, com uma estrutura muito ruim e com a capacidade de público reduzida, ou nós tentaríamos nos espremer em festivais maiores, com um investimento maior, que seria difícil”, reflete Passovi.

Durante a busca por novos integrantes, a dupla de amigos que se conhecem há 20 anos, alcançou dois nomes. Primeiro o de Bruno Matos, baixista que entra no lugar de César Neto, e por último João Oliveira, carioca que tem uma história com a guitarra desde os nove anos. Assumindo a nova fase, o grupo fez sua estreia no palco do Cine Joia, em São Paulo, no último dia 19, onde dividiu a noite com o trio carioca Aquino e a Orquestra Invisível, do sub selo Bolo de Rolo do Rockambole, e a banda Daparte, que integra o casting fixo do Selo Rockambole. “Tivemos essa oportunidade de tocar no Cine Joia, que não poderíamos atender se a gente não morasse aqui, mas acabou sendo um dia de bastante testes. Não só para cada membro novo, mas eu e Igor estávamos enferrujados do palco, porque a questão não é somente de você tocar, é entreter, estar à vontade naquele espaço. Estar em um palco exige certo preparo, mas o show deu um sacode”.

Da esq. para dir. Igor Quadros, João Oliveira, Leonardo Passovi e Bruno Matos. (Foto: Aisha Faria/Divulgação)

Composição sutil e bem fundamentada

Misturando influências que flutuam entre Jorge Ben Jor, Papooz e Arctic Monkeys, o grupo surgido em 2015 altera os ritmos a cada lançamento, sendo os mais efetivos produzidos musicalmente por grandes nomes, como Paulinho Rocha, que reúne trabalhos com Carlinhos Brown, Tuca Fernandes e Durval Lelis e Junix, guitarrista do BaianaSystem. Fã do filme “O Grande Hotel Budapeste“, Passovi diz que as faixas criadas tem buscas em vivências de amigos, histórias próprias, mas principalmente das histórias de cinema, e admite que encarou a formação da banda como um desafio, já que não tinha tanta confiança em suas próprias composições: “Eu olhava para os integrantes e já admirava eles como músicos e instrumentistas, e aquilo mexeu de certa forma com meu brio na época, por me considerar um cantor razoável, mas que não tocava guitarra tão bem. Então eu falei ‘Bom, eu preciso provar o meu valor com alguma coisa, eu preciso criar coisas’, e eu alimentava isso dentro de mim, passei a estudar mais harmonia, estudar violão brasileiro, escutar e pesquisar músicas brasileiras”.

Ele acrescenta que a atenção na construção harmônica e na instrumentação foi um fator que invariavelmente o fez se conectar com sua própria criação, fugindo de plágios ou até mesmo ritmos que conversassem com outros tipos de banda. Sua relação de mestre discípulo, dos 17 aos 23 anos, com Aderbal Duarte, maestro e pesquisador da MPB contemporânea, em particular, das obras de Baden Powell e João Gilberto – sendo considerado desse último um dos maiores conhecedores de suas técnicas– , também o motivou para uma composição com mais identidade: “Quando eu comecei a criar com a linguagem brasileira, o compasso dois por quatro, o balanço de samba, cadência tradicional do samba, além de estudar sobre bossa nova e violão brasileiro, foi quando eu comecei a criar com essa linguagem e sentir que isso era meu, que era original”.

Sete anos de história e a estreia de um álbum

Na última sexta-feira (9) a banda divulgou o último lançamento do ano, o single sugestivo de nome “Ano Que Vem”. A faixa romântica, divulgada pelo Selo Rockambole (RCKB), foi produzida entre a divulgação do EP Outras Duas Músicas de Flerte Flamigo (2021) e o EP mais recente: “É a primeira vez que eu estou falando isso diretamente, mas é uma música de carnaval, apesar de instrumentalmente não ser tão agitada. Ela é melodiosa, mas é dançante e tem um viés que transita entre o acústico, orgânico, com bateria orgânica e leves toques de percussão eletrônica”.

Apesar dos sete anos de trajetória e dos EPs bastante consistentes, a nova fase traz com o quarteto desejos mais vigentes. Caso surja alguma curiosidade sobre os próximos projetos, o soteropolitana finaliza: “O Truques Velhos Para Cachorros Novos (2022) ampliou nossos horizontes, porque agora nós já temos um precedente para testar outras texturas e propostas estéticas, sendo totalmente diferentes do que a gente vinha fazendo, e no próximo ano será feito a produção do disco”.


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14/12/2022

Gabriela Amorim

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