Entrevista | Letrux pós-Climão: despedidas, poesia, contemplação e novo disco

18/10/2019

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Ana Alexandrino/Divulgação

18/10/2019

Cíclicos que somos, deveríamos encarar os encerramentos com o mesmo brilho nos olhos provocado pelos começos. O fim de alguma coisa fala muito mais sobre concretizar do que sobre perder. E é com sentimento de celebração, sem apegos limitantes, que Letícia Novaes encarna uma Letrux Em Noite de Climão pelas últimas vezes nos palcos. Lançado em 2017, o alavancador disco fez de Letrux um verdadeiro fenômeno. Após dois anos de presença confirmada nas principais casas de show e festivais do Brasil, além de datas por Portugal, era hora de dar tchau à “era Climão”. 

Letrux (Foto: Ricardo Borges/Divulgação)

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Em 6 de setembro, no Festival Passo a Paço em Manaus, Amazonas, foi dada a largada da turnê “Letrux Em Climão de Despedida”. Com um roteiro tão intenso quanto o vermelho da capa do disco, a tour teve passagem por 13 cidades – entre elas Maceió, Aracaju, São Luís e Vitória, que nunca tinham recebido o show. Durante a apresentação do dia 28 de setembro em São Paulo, no Auditório Ibirapuera, rolou a gravação do DVD ao vivo, com participação de Marina Lima, direção de Tata Pierry e previsão de lançamento até o final de 2019.

A próxima parada de “Adeus, Climão” acontece hoje, 18, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, com ingressos esgotados. O fechamento com chave de ouro fica por conta das três últimas datas: em Maceió, no dia 24, Aracaju, no dia 25, e Salvador, no dia 26.

Mesmo com uma agenda frenética, Letícia Novaes ainda encontra tempo para se apresentar num formato mais intimista em “Letrux – Línguas e Poesias“. A apresentação – na qual a artista une covers, música autoral e poesias de Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade, Sylvia Plath – , passou por Curitiba no dia 16 de outubro e por Florianópolis no dia 17. Porto Alegre recebe Línguas e Poesias na próxima terça-feira, dia 22, no Teatro Unisinos. Os ingressos você pode adquirir aqui.

Ela já sai dos palcos direto para um mergulho nas gravações do segundo disco, ainda sem nome revelado, que tem tudo para ser lançado logo após o carnaval de 2020. Em meio a tantos movimentos, foi justamente presa na estrada durante o deslocamento entre Curitiba e Florianópolis que Letícia conversou com a NOIZE sobre a despedida e o saldo do Climão, o Línguas e Poesias, os elementos e emoções que guiam o próximo trabalho e se pretende ficar um tempo sem vestir vermelho. Solte o player, desça a página e confira!

Como tá sendo a despedida da turnê? Como esse clima de “Bye, bye, Climão” impacta você, sua banda e o público durante as apresentações?
Tem sido emocionante se despedir do Climão, esse show marcou minha vida! Então, essas últimas apresentações têm tido um gosto especial. Cada letra, cada gesto, cada momento, eu me despeço com muita gratidão por ter vivido tudo isso. Acho que o nosso público sempre foi intenso. Não vejo nenhuma diferença porque são os últimos, desde o início sempre foi assim: plateia no talo, gritando, cantando mais alto, gente fantasiada de mim [risos] amo muito! Eu e a banda estamos cada vez mais entrosadas e nos despedindo juntes desse Climão todo.

No meio de tudo isso, você também tem encontrado datas para viajar pelo Brasil com o seu show de poesia. O que a gente pode esperar do show “Línguas e Poesias”? Que outra faceta a poesia extrai de você no palco? 
Intimamente sou poeta. Escrevo todo dia, não que publique, mas pratico a escrita todo dia, me resolvo com as questões escrevendo. Quis fazer um show mais intimista com repertório de músicas da minha vida e toco um pouco de piano, que é uma pequena grande conquista que tive nos últimos anos. Nos tempos que correm, quero mais é falar de poesia mesmo. Na contramão de todos os horrores.

Letrux em Noite de Climão nasceu de forma independente, através de financiamento coletivo, e deu muito certo: você é um estouro. Qual o balanço dessa “Era Climão”? O que a Letrux ensinou para a Letícia?  
Aprendi que ser cantora é quase ser atleta. Ter uma agenda de shows me exige muito; sempre fui, mas estou cada vez mais caseira, cuidando da voz, do corpo, da alimentação. Sempre fui muito pontual e profissional, mas a gente vai ficando mais e mais sagaz pra driblar as loucuras do mercado independente, vamos criando casca grossa pra enfrentar os leões. Pero sin perder la ternura, jamais.

Você já tá preparando o próximo disco! Você teve algum período de descanso? Como tem sido criar um trabalho no meio de uma turnê tão intensa? 
Passei quase um mês na Grécia esse ano. Sempre foi meu sonho desde criança e me dei de presente viver esse sonho. Fiz umas quatro músicas por lá, foi uma delícia.Tem muita música feita no avião também, momento que dá pra ter um pouco de paz. E medo (risos).

Você disse que começa a gravar o disco em “Escorpião” e lança em “Peixes”, dois signos de água, e tenho visto muitas fotos suas no mar. Como a água e as emoções estão guiando esse próximo trabalho? O que podemos esperar dele em questão de sonoridade e temática? 
Amo água, sou terra, preciso de água. Mas ainda não gravamos [o próximo disco], então não posso falar sobre sonoridades, nem nada disso. Gravar, estar em estúdio, é mistério, tudo pode acontecer. Continuo muito observadora do mundo, minhas letras vêm desse lugar de contemplação: uma paixão, uma história que me contam, um sonho, uma mulher no mercado que me fala algo, e isso cria todo um mundo. 

Você tá sentindo uma pressão em lançar um outro trabalho depois de um disco tão emblemático? Como você tá lidando com a expectativa dos fãs? 
Não sinto pressão alguma porque, é um pouco egoísta o que vou dizer, mas eu faço música pra mim. Pra me emocionar, pra me resolver, pra me entender. Que honra que algumas pessoas gostam, fico deveras feliz que esbarra e atravessa outras pessoas… Mas a minha verdade é essa. Não faço música pensando no público, isso pra mim não funciona, nem esbarra em movimento artístico. Funciono de outra maneira. 

E o que você tem comido, bebido e lido nos últimos tempos?
Água, sempre, minha bebida favorita! Comida, eu amo ovo, até tatuei (risos). Estou lendo um livro absurdo do Sidarta Ribeiro, Oráculo da Noite – A história e a ciência do sonho (2019).

Pra gente fechar: você acha que vai ficar um tempo sem vestir vermelho?
Eu não visto muito vermelho fora do palco, é mais no show mesmo. Mas me dão muitas roupas vermelhas, então acho que ainda vou usar bastante.

Letrux (Foto: Ricardo Borges/Divulgação)

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18/10/2019

Brenda Vidal

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