Entrevista | Luísa Lovefoxxx

22/07/2010

The specified slider id does not exist.

Powered by WP Bannerize

Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

22/07/2010

Na NOIZE #34, publicamos uma super-entrevista e fotos lindas feitas de Luísa Lovefoxxx em uma das situações que ela mais curte: a noite. As muitas fotos que ficaram de fora e a entrevista na íntegra, publicamos agora. Aproveitem.

Texto: Maria Joana Avellar
Fotos: Rafa Rocha

*

Quem pensa que Lovefoxxx já está morrendo de saudades de Londres se engana. Depois de três anos frenéticos em turnê, tudo que ela queria era comer uma coxinha e beber água de coco no seu país de origem, curtindo a rotina, para variar, e a segurança adquirida depois de tanta estrada. Ainda assim, é com um pouco de ansiedade que o novo álbum é preparado – e com a promessa de mais berros e menos romantismo. Enquanto no Reino Unido todos torceram o nariz para as férias do CSS, no Brasil, o público aproveita as discotecagens da vocalista nos finais de semana e torce para a banda fechar algum show por aqui.

[nggallery id=224]

Foi no hall de entrada de um hotel, horas antes de subir ao palco como DJ, que conheci sua nova fase e descobri que, antes de ser Lovefoxxx, Luísa já foi até hansonmaníaca.

Você parece aliviada dos três anos ininterruptos de turnê terem acabado…
A maioria das nossas turnês foi uma coisa louca, a gente fazia tudo que aparecia na frente sem muito critério de escolha, só dizia sim, sim, sim, sim, sim! De um certo modo, isso é bom. De algum jeito na vida você tem que aprender, seja de um jeito bom, ou de um jeito estressante. Turnê sem parar é muito legal, mas você nunca tem casa, todas as suas roupas ficam sujas, você vai virando meio que um cachorro (risos). Também só é estressante por isso. Agora eu já estou louca pra fazer turnê de novo…

Já estão ansiosos e cansados das férias?
As férias já acabaram, né? A gente está trabalhando nas músicas novas, e eu começo a ficar muito empolgada pensando em tocar elas nos shows. Mas a gente está aproveitando o momento, a rotina. Eu e o Adriano vamos na academia todos os dias. É bom saber onde a gente vai estar nas próximas semanas, mas também é bom saber que vamos voltar a fazer turnê porque a gente fica muito ansioso. Ter uma visão de quando tudo vai começar de novo nos permite aproveitar com tranqüilidade, sem nos sentirmos uns adolescentes loucos.

E de Londres? Não tem saudade?
Não… (risos). Ai, eu gosto de Londres, é lindo, ainda mais na primavera, lá eles tem todas as estações, é lindo ver tudo florescendo. É uma vida boa, é legal. Eu gosto, mas, ao mesmo tempo, eu senti muita falta de morar em São Paulo. Tenho certeza que nessa vida eu sempre vou ter saudades de tudo, inclusive de Londres, mas eu estou SUPER feliz de estar em São Paulo agora.

A banda parece ser muito família. Vocês continuam se vendo bastante?
Eles são meus melhores amigos. A gente se vê direto. Ter um bom relacionamento com a banda facilita muito as coisas.

E isso de Lovefoxxx ícone nunca foi um problema?
Pelo fato de eu ser vocalista, é natural a atenção ficar mais voltada pra mim. Ao mesmo tempo, eu às vezes tenho um pouco mais de trabalho do que os outros membros porque sempre querem que eu esteja nas entrevistas. A gente fica alternando, mas eu sempre tenho que estar em todas. É um trabalho a mais.

Você sempre foi muito artista, já trabalhou bastante com moda e desenho. Música fica em primeiro plano?
A banda é uma coisa que existe. E é a coisa mais legal que eu já fiz parte. É onde eu dedico a maior parte do meu tempo porque é o que eu mais quero que dê certo e cresça. É muito mais legal do que ficar sentada fazendo estampa. Até hoje eu sinto como se eu nunca tivesse trabalhado porque sempre fiz só coisas que eu gostava. Nunca foi um esforço, uma coisa horrorosa, como o trabalho pode ser. Mesmo fazendo turnê, dá pra fazer várias coisas. Tem uma marca japonesa muito legal que chama Graniph, e eles só trabalham com colaboração. Muitas vezes vou lá, bolo alguma camiseta pra eles. Meu último emprego foi na Triton, eu fazia estampas. Na última coleção, a Karen [Fuke] me chamou, fiz várias coisas, foi bem legal. Também fiz parceria com a Melissa, vou fazendo vários trabalhos. Então uma coisa não impede a outra.

Você parece muito tranquila… Vocês não sentem uma ânsia? Mal anunciaram as férias todo mundo caiu em cima especulando o fim da banda.
Isso foi culpa dos ingleses, a Inglaterra é uma ilha muito peculiar, especialmente em relação à música. Eles são muito fortes com isso, lançam muitas bandas, sensações, tendências. Só que eles têm uma obsessão com o novo, com a próxima… La Roux! Só que a La Roux acabou de lançar o primeiro CD! Eles sempre estão no próximo, até quando o mais novo acabou de surgir. As bandas lá são muito competitivas, o país é muito pequeno. Você pode tudo com a música lá. Pode ter fama, pode namorar a Kate Moss sendo desdentado. E as pessoas se levam muito a sério. É meio estranho a gente ver isso de perto porque a gente era o contrário disso, a gente nunca teve ambição. E ter ambição é uma coisa boa. A gente não pode só zoar. Nossa sorte foi que deu certo. Ainda bem.
Mas às vezes é chato porque lá eles montam uma banda só para dar certo. Então, quando eles escutam um grupo falando: “a gente vai ficar de férias um ano. E, agora, nesse momento, nesse mês UM desse um ano, a gente não está afim de pensar em música porque ficamos fazendo turnê três anos, sem parar”, eles não entendem. Pensam que é um jeito de falar que acabou. E eu sou brasileira! Quero beber água de coco, quero fazer depilação a laser… Eu não quero pensar, quero comer uma coxinha, não me enche o saco. Mas não tem como combater. Eles gostam de fazer bafon, criar picuinha. É por isso que é o país do tablóide…
…e a NME é um tablóide. Quando eu falei com a NME e eles começaram essa história, eu estava apenas dando uma entrevista pra falar de uma guitarra que eu tinha customizado para um evento de caridade. Eu tava fazendo altas divulgações, é uma fundação mó legal da mulher do Jimmy Page e ajuda as crianças do Brasil. Aí o cara me perguntou da banda e eu respondi “a gente tá de férias”. E ele: “como assim? Vocês não estão fazendo nada?” E eu: “não, a gente tá de férias”. E ele: “Tá, mas e o disco novo?”. E eu: “Meu, a gente tá de FÉRIAS. Que parte de férias você não entendeu?”. Aí ele foi lá e escreveu aquilo, quer dizer, não tem como discutir com eles. O texto já está imprimindo, não tem o que fazer.

E sempre te incomodaram muito por causa do Simon [do Klaxons]?
Quê?

Sempre ficaram em cima de você, pra saber do Simon, do romance, casamento?
Ah, de vida pessoal eu não falo “maish”.

Beleza. Nunca incomodou vocês o sucesso ser maior lá na Europa do que aqui?
É estranho… é meio estranho sim. Eu estou discotecando muito no Brasil e tem muito fã que me olha e diz: “ah, volta com a banda inteira” (risos). A gente quer tocar aqui. Às vezes eu sei que pode parecer resistência, mas não é. Eu acho que um dos fatores que complica nossa vinda é que a gente cobra preço de banda de fora porque toda a nossa equipe tá lá, tem que trazer todo mundo, nosso equipamento… E a gente não quer fazer um show meia boca para depois o povo falar mal de novo (risos).

Mesmo vocês que vocês sintam uma conexão forte com a cena de lá, vocês sentem uma identificação com as coisas do Brasil, né? Tipo Olodum.
(Risos) Eu não acho que a gente tem a ver musicalmente com essas coisas, mas a gente têm o calor do coração brasileiro! É uma coisa que eles não entendem lá, e nunca vão entender, não adianta tentar explicar. O Brasil é o Brasilzão! É mó legal! Mas eu acho muito legal que a parada inglesa é muito avançada, tem muito espaço pra música. Eu estava falando meio com azedume em relação, mas é muito legal. Lá o Top 10 é muito independente, a Rádio One (da BBC) é muito boa.
Lá eu chegava no aeroporto, pegava um taxi, começava a conversar e, quando o taxista descobria que eu era do CSS, falava “ah, minha filha adora!”. Isso nunca aconteceria aqui. Mas, em compensação, aqui você pode comer um PF em qualquer esquina porque a comida é incrível. Cada lugar tem suas coisas boas e coisas ruins.

Vocês curtem bandas novas? O que acham de bandas brasileiras com influências de CSS?
Eu acho legal. Eu prefiro que surja uma banda com influências mais atuais, seja da gente ou não, do que quarenta mil com influências… sei lá da onde vem as influências do Restart, do NX Zero, blérg. É muito a mesma coisa, uma modinha. Eu não sei da onde vem essas bandas porque eu não ouço rádio, nem vejo essas paradas de clipe, nem nada… nunca vi, nem morando fora. Prefiro ver o YouTube, que aí você escolhe.
Sinceramente, antes da banda ser bem sucedida, eu prestava muita atenção nas bandas novas de tudo quanto é lugar. Eu queria só ouvir o mais novo, o mais novo. Depois que você começa a fazer turnê, você começa a azedar com banda nova. Agora até estou ouvindo de novo, mas você fica com bode dessa coisa de banda nova porque você é uma banda nova, entendeu? Você começa só a escutar as pessoas velhas, que já acertaram, que estão lá, relaxadas, de boa… Mas agora eu escuto coisas recentes, embora não tenha muitos CDs baixados… Só de Drag Queen! De Drag eu gosto de saber tudo!

Não precisa falar da vida pessoal, mas o Donkey é um CD romântico, sua voz está bem doce e apaixonada. No próximo CD, vai continuar assim?
Acho que vocal tem a ver com segurança. Eu nunca tive banda antes do Cansei. Tudo o que eu fui conseguindo fazer com a voz, eu gravei. As músicas novas estão muito legais porque eu estou gritando bastante. Pencas de berros! Bem fist bitch. E está bem legal. A gente vai se sentindo mais seguro… E isso reflete nos novos trabalhos (risos). A gente também não está com uma preocupação de como vai fazer ao vivo, vamos gravando um milhão de camadas de voz no foda-se, depois a gente se arranja pra ver como faz. Então está bem mais diferente. Eu me sinto mais confortável com as coisas que estou fazendo.

Vai mostrar algo novo hoje?
Não, mas assim ó, eu gravei uma música nova, faz um tempo, com uma banda japonesa chamada 80Kidz, a faixa se chama Spoiled Boy. Tem um rap no meio, uma parte mais gritada, uma parte bem cantadinha. Também gravei uma faixa chamada Nightcall com o Kavinski. Foi muito legal porque quem produziu foi um dos Daft Punk, aquele do nome ridículo, Jesus Cristo na Terra Monte Cristo. E eu vou gravar uma faixa com o João Brasil também, que está fazendo um disco em Londres. Ele fez um remix de Left Behind que a gente adora.

Hoje na playlist vai ter alguma coisa bizarrinha?
Depende de como a festa tiver. Eu adoro tocar Gipsy Kings, Volare. Também gosto de tocar Kaoma, Lambada. Por mim, eu só tocaria coisa horrível. Antes de entrar no palco, temos uma playlist que se chama “músicas que a gente gosta”. Tem uma que a gente adora, de um cara que se chama Caçarola. Também tem Shakira, Beyonce… Lady Gaga infelizmente não aconteceu na época em que a gente fazia turnê porque a gente ainda não gostava dela.

Agora gostam da Gaga?
Na época de Just Dance eu não achava muito legal. Era só uma mulher meio trava, tipo um monte que a gente já conhece, parecia invenção de gravadora. Aí eu vi ela fazendo sessão de rádio, tocando versões diferentes, e pensei: “Nossa, que bafo. Ela é boa”. Mas esse ritmo dela… Acho que ela vai ter um breakdown a qualquer momento porque não dá para seguir assim, não dá. Não dá! (risos) Mesmo que você tenha muito, muito luxo. Sei lá… eu pelo menos, né? Não estou me comparando, mas deve ser muito louco. E ela dá sempre tudo de si. Eu gosto muito das entrevistas e do jeito que ela trata os fãs. E da música, claro.

Teve um jornal brasileiro que atribuiu todo o estilo new rave a você. Concorda?
Nãããão.

Ah, mas teve aquela febre dos macacões no Reino Unido…
É, realmente… juro, toda a vez que eu fazia fotos em alguma revista, os editores e stylists me falavam que adoravam meus macacões. E, sério, às vezes me dá um pouco de raiva. Tá, eu sei que eu não inventei o macacão, mas eu acho que eu dei uma popularizada nesse ítem.
Mas, ai, esse negócio da new rave… (longo suspiro) É uma invenção dos ingleses. Na época em que os Klaxons deram essa declaração, falando que eles eram New Rave, eles estavam zoando. E aí eles pegaram isso e fizeram uma febre. E eles lançam muitas febres mundiais. Mas… ai, na época a gente meio que queria zoar, sabe? (risos) A gente queria usar umas roupas horrorosas, às vezes de cansaço e de raiva. Sabe quando você é criança, e você vai pra escola com raiva de alguma coisa, aí você coloca uma roupa muito feia? Era mais ou menos assim. Mas se fazer de ridículo não é muito bom porque as pessoas não sabem o que passa na sua cabeça (risos). A gente só usava tie die e era tipo assim: vamos zoar? (risos) Mas não… óbvio que eu gostava de usar roupas coloridas, mas depois enjoa mesmo. Você viaja com a mesma mala não sei quantos meses, chega uma hora que você não aguenta mais ver aquelas roupas. E é mais fácil se acostumar com coisa que não é tão marcante.
Mas acho que esse jornal está meio errado. Culpa do Restart, puta falta de sacanagem! (risos)

Fica assustada com essa geração nova?
Nossa, muito. Sério, eu gostava dos Hanson. Eles eram tão bonitinhos. Eu conheci Restart porque eu vi na MTV, mas é bizarro, todos cantam. Não é um vocalista só, para as meninas ficarem afim de um, tem cinco vocalistas. Se cinco meninas ficariam afim de um vocalista, cinco vezes vinte e cinco… vezes quatro milhões… É um fenômeno pop! Ivete Sangalo: tchau! No reveillon da Globo vai ser Restart (risos). Você vê… por isso que eu tenho orgulho dos fãs do Cansei. São umas meninas e meninos muito legais. Só existem essas bandas porque as meninas são loucas. As meninas de 11, 13 anos, querem arrumar marido. Eu era superafim dos Hanson, amava os Hanson, eu falava que o Isaac era meu preferido porque ele era o mais feio, então eu achava que tinha mais chance (risos). Na verdade era o Taylor (risos) Eu tinha até single japonês.

Acho que eu já era meio indie porque eu gostava de Hanson e não de Backstreet Boys. Os Hanson faziam as próprias músicas… eu queria fazer um fã clube… tá chega.

Ah, mas isso muito legal, porque todo mundo pensa no clichê do músico, que nasce ouvindo rock…
Nããão, o único CD que meu pai tinha em casa era um que você ganhava no Natal comprando trinta latas de molho de tomate Pomarola ao sugo.
Tudo começou quando eu mudei pra São Paulo com 16 anos e fui morar com cinco meninas que conheci na Galeria Ouro Fino. Uma das meninas era total riot, gostava só de bandas de meninas, Bikini Kill, The Donnas… Ela tinha os discos, eu comecei a ouvir e fiquei “nossa, que legal, não sabia que existia isso, música assim”. Aí eu vendi meus CDs dos Hanson em um sebo que tinha lá na Rua da Consolação, morrendo de vergonha. Vendi sem dó, já não gostava mais. Aí comprei uns CDs usados e a coisa começou a ficar legal. A vida mudou.

Tags:, , ,

22/07/2010

Revista NOIZE

Revista NOIZE