Entrevista | Rachel Reis: “É uma batalha diária entender que fiz por merecer”

20/10/2022

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Gabriela Amorim

Por: Gabriela Amorim

Fotos: Julia Pavin/Divulgação

20/10/2022

Você provavelmente já deve ter escutado o som de Rachel Reis, 25, como por exemplo a chiclete “Maresia”, lançada em julho de 2021. A faixa, uma mistura de brega funk com arrocha, viralizou por diversas vezes e ajudou a impulsionar carreira da artista. Nascida em Feira de Santana (BA), a cantora deixa claro que mesmo despontando no cenário musical, não irá se mudar para a região Sudeste, pelo menos, não neste momento. “Hoje eu fico aqui na Bahia. Dizem muito para eu me mudar pra São Paulo, mas eu fico pensando ‘vamos maneirar’, minha ideia é passar apenas períodos.”

Por abordar temas amorosos, na maioria de suas composições, Rachel passou por momentos de questionamentos, vindos de uma parcela do público, que não acreditam que ela tenha o “direito de fala” sobre o conteúdo: “Uma coisa que me pega é porque já insinuaram, por eu ser negra, que eu não deveria falar sobre amor. Logo quando eu lancei os dois singles, uma pessoa branca veio me dizer isso e também rolou outras vezes. Isso me incomodou muito. Por que eu não posso falar sobre amor? A gente pode falar sobre tudo.”

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Rachel Reis divulgou seu álbum de estreia em setembro passado. (Foto: Bruna Sozzi/Divulgação)

Alcançando sua própria sonoridade, Rachel Reis furou bolhas quando divulgou seu álbum de estreia Meu Esquema (2022), em setembro passado, com 12 canções autorais, através dos selos Alá e Zelo, com distribuição da Altafonte. Todas as faixas do disco ganharam filmes de Lu Villaça, numa espécie de álbum visual. Os produtores Cuper e Bruno Zambelli, com quem a cantora lançou “Maresia”, participam de três faixas do disco, enquanto Ícaro Sá – percussionista ligado à banda BaianaSystem – traz a percussão baiana em cinco canções: “Por mim todos os meus trabalhos têm alguma coisa com percussão envolvida”.

Seu repertório, formatado pelos produtores Barro e Guilherme Assis, apresenta uma diversidade rítmica e transita por afrobeat, pop, arrocha, ijexá e MPB. No disco a cantora e compositora conta com a presença de Céu, na faixa “Brasa”, sendo para ela uma de suas grandes referências musicais. “Tenho as referências das quais bebo direto da fonte, que são Mayra Andrade, Céu, Milton Nascimento e Jorge Ben Jor. Tudo isso acaba [me] influenciando na hora de compor, na hora de ver uma sonoridade para a produção, de tudo um pouco”, explica Reis.

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O título “Meu Esquema”, mostra o momento atual da cantora, que está terminando o último semestre do curso de Publicidade e Propaganda, feito à distância, ao mesmo tempo que mantém o emprego de redatora em uma agência, realizado em regime de home office: “Esse título diz muito sobre mim, sobre esse momento que estou vivendo, de tomar parte das minhas coisas, de tomar parte do meu trabalho, de fazer isso o meu rolê”, afirma.

O começo – quase – por acaso

Criada em uma família que tinha a música como um elemento presente e necessário em sua residência, a baiana demorou a aceitar que essa também poderia ser uma carreira para ela, mesmo com a mãe, Maura Reis, sendo cantora de seresta em Feira de Santana, enquanto a irmã mais velha, Sara, canta piseiro e forró.

“Rola muito essa autossabotagem e eu não me via nessa posição, acho que era o que mais me fazia não me ver como cantora, não me ver nessa posição de destaque. Sempre achava que isso não era para mim, ficava pensando se eu era boa. É uma batalha diária entender que a gente merece estar onde a gente está, entender que fiz por merecer e que corri atrás. É uma batalha da gente com a gente.”

O ambiente de bares foi seu primeiro palco, onde se apresentou, de 2016 a 2018, cantando músicas cover. Cessando com esta ideia de cantar composições de outras pessoas, Rachel rumava pela sua própria trajetória, de cantora e compositora, e teve como um de seus motores o luto que enfrentou por um amigo próximo: “Em 2019, na época, eu perdi um amigo com quem eu trabalhava junto, e isso mexeu muito comigo. Sai desse emprego e em seguida fui para Recife (PE), gravar essas duas músicas, porque nesse período eu conheci o Barro, e ele tinha um estúdio por lá.”

No período a cantora trabalhava como recepcionista um posto de saúde e foi de ônibus para Pernambuco, após conhecer Barro pelas redes sociais: “Eu já conhecia o trabalho dele, mas quando ele me seguiu no Instagram, eu fui correndo falar com ele. Em seguida, mostrei as duas músicas que eu tinha, e foi quando ele me apresentou ao Guilherme [Assis] e a gente começou a produzir juntos esses dois singles”, completa a cantora, se referindo as faixas “Sossego” e “Ventilador”, esta última sua primeira composição, de 2018, no estilo “pagodão baiano”.

Repercussão dentro do isolamento social

Lançando o seu primeiro EP Encosta (2021), em abril do ano passado, em parceria com Bruno Zambelli e Cuper, Rachel produziu o projeto o isolamento social causado pela pandemia de Covid-19. O projeto deu o pontapé com o single “Saudade” e apresentou mais três faixas inéditas de Rachel Reis.

A responsável pela capa do EP foi a artista Maíra Moura Miranda, que se inspirou em apresentar os três artistas com uma ilustração livre, desconstruindo o corpo usando modelos de distorção e estilização. Oito meses depois, Rachel divulgou sua primeira parceria musical com a cantora Illy e arranjos produzidos por Cuper. A faixa “Me Veja” tem clipe dirigido por Maria Mango, e traz imagens ambientadas nos anos 90, onde elas se aprontam para um suposto carnaval.

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Artista iniciada na pandemia, a cantora e compositora tem se apresentado em palcos de diferentes festivais como Meca Inhotim, Coala Festival e MITA: “Ainda é muito estranho para mim, porque apesar de eu ter experiência com palco, eu vim de barzinho, onde a gente canta ali sentado. Hoje, nesses festivais, tem pessoas que vão ali ver outros artistas e acabam me conhecendo, então é uma responsabilidade bem grande. Já sinto uma evolução bem boa desde o primeiro show até aqui, mas eu ainda sinto isso, que estou tateando.”

“Eu não parei mais”

Confirmada no festival Sangue Novo, que será realizado amanhã em Salvador (BA), e no Rock The Mountain, em Itaipava (RJ), nos dias 05 e 12 de novembro, a baiana irá se apresentar pela primeira vez no palco consagrado do Circo Voador, no dia 26 de novembro, com a banda Lamparina. A cantora contém shows confirmados, até o final do ano, em São Paulo, Recife, Fortaleza e Salvador.

Quando questionada sobre seu processo criativo, ela afirma que gosta de ouvir histórias alheias para criar suas composições, além de ser observadora: “Normalmente o meu processo de composição é bem aleatório, eu não tenho muita regra para a composição. Tem momentos que eu acabo tendo essa vontade e logo vou lá e faço, mas de um modo geral sempre chega até mim uma melodia, uma letra vem depois, nunca tive uma regra. Para o álbum, eu tentei ser mais centrada, ter mais disciplina, mas de um modo geral tudo pode me inspirar. Gosto de ver filmes, ouvir histórias de outras pessoas, de tudo um pouquinho. Sou bem observadora”.

Indicada na categoria “artista revelação”, para o prêmio WME Awards by Music2! 2022, que é totalmente dedicado às mulheres do universo musical, Rachel Reis não pretende se rotular em nenhum gênero e se considera aberta para o que estiver para chegar em sua trajetória. “Depois de lançar em 2020, eu não parei mais. Eu não quero perder essa naturalidade”, finaliza com um sorriso no rosto.


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20/10/2022

Gabriela Amorim

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