Cinema, rock e música eletrônica com Tom Barman, do dEUS e Magnus

31/10/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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31/10/2014

– Alô, é o Tom?

– Sim, sou eu.

*

– Aqui é o Ariel, estou ligando do Brasil para fazermos a entrevista. Me deram o número errado…

– Ah, sim! Fiquei horas esperando do lado do telefone feito um idiota e ninguém me ligou! Mas enfim, vamos lá que eu tenho um show em 45 minutos!

Começou assim, de um jeito meio torto nossa entrevista com Tom Barman. Músico e diretor de cinema belga, ele é o motor criativo da banda dEUS e do projeto eletrônico Magnus, resultado de uma parceria com o DJ e produtor inglês CJ Bolland. Nos anos 90, dEUS se tornou a primeira banda independente da Bélgica a conseguir assinar um contrato com uma grande gravadora, mas o sucesso no mundo do rock não era suficiente para o vocalista e guitarrista Tom Barman. Em 2003, ele lançou seu primeiro filme, Any Way The Wind Goes, que contou com seu roteiro, direção e trilha sonora. No ano seguinte, saiu o disco de estreia do Magnus, The Body Gave You Everything (2004), que rendeu vários clipes cinematográficos dirigidos por Tom.

Após passar uma tarde inteira ligando para algum número de telefone belga aleatório que a produção me passou, consegui descobrir o número certo e falar com Tom Barman por 15 minutos pouco antes de ele fazer um show com o Magnus, que está lançando seu novo disco Where Neon Goes To Die (2014). Inicialmente, o Magnus era um projeto de estúdio de Tom e CJ, mas agora eles formaram uma banda de apoio e estão em turnê pela Europa. Enfim, é melhor deixar o próprio Tom Barman contar tudo isso.

Então, vamos lá. Você encabeça o dEUS e o Magnus, um grupo de rock e outro de música eletrônica. Para você, qual gênero é mais relevante hoje: a música eletrônica ou o rock? Qual deles está mudando mais o mundo?

Eu acho que o rock n’ roll nunca morrerá porque ele é muito visceral, muito natural, muito simples e minimalista. Alguém declara a morte do rock a cada dez ou quinze anos, mas ele sempre volta porque é uma música muito simples. E as coisas simples são eternas. Acho que ele nunca deixará de existir. Mas as coisas mais interessantes, mais desafiadoras, mais experimentais, estão acontecendo na música eletrônica. Eu não escolho – eu gosto dos dois. Acho que meu coração bate mais forte quando estou tocando rock no palco, mas no estúdio eu amo ficar experimentando sons e programações eletrônicas. Eu acho que as duas coisas podem coexistir bem.

Como você faz tendo o Magnus e o dEUS.

Exatamente.

De onde surgiu o projeto Magnus? dEUS já era uma banda grande na época.

Sim, foi bem natural na verdade. Magnus surgiu em uma noite quando estávamos em turnê e eu me dei conta de que queria ter um projeto que fosse mais eletrônico e menos o resultado de uma banda completa. Eu queria trabalhar com só uma outra pessoa. Aí eu conheci o CJ Bolland, que já tinha toda uma carreira como produtor e DJ, e eu tive essa ideia louca de fazer uma coisa meio Kraftwerk, meio JJ Cale… Era só uma ideia vaga, mas eu sabia que queria fazer um som que não fosse com uma banda, queria um projeto de estúdio. E foi assim que nós começamos. Me encontrei com o CJ e nós começamos a experimentar umas coisas. Acho que depois de fazermos “Jumpneedle” e “French Movies” a coisa começou a funcionar e nós vimos o que queríamos fazer.

De alguma forma, o dEUS é seu trabalho principal e o Magnus é mais um hobbie, ou não?

Não, não mesmo. Porque o Magnus está sendo muito importante agora. Nós formamos uma banda e começamos a tocar ao vivo com um grupo de cinco, seis pessoas. E nós estamos fazendo turnês… Agora o Magnus é a minha prioridade, não é um hobbie mesmo, é algo que eu levo muito a sério. Não é um hobbie, eu não acredito em hobbies.

Que lado seu aparece no Magnus que você não tem como mostrar no dEUS?

dEUS tem um lado mais profundo, tem músicas que falam de coisas da minha vida pessoal… No Magnus eu me esforço para ser um grande letrista, mas é mais superficial. Ao mesmo tempo em que eu ainda quero escrever boas letras, ele é um pouco mais leve, é mais corporal. Acho que dEUS é mais emocional e o Magnus é uma coisa mais física. É feito pra dançar mesmo. Mas às vezes os limites ficam meio confusos e uma banda acaba interferindo na outra. Às vezes alguma coisa pensada pro dEUS entra no Magnus e vice-e-versa. Nem sempre é fácil separar os dois, em geral tem uma leveza no Magnus que não tem no dEUS, mas isso não é uma regra. O divertido do Magnus é que é o trabalho de só dois caras e não tem aquela pressão de compor músicas que funcionem ao vivo. No dEUS, quando estamos no estúdio, não podemos fazer um som com muita produção porque sabemos que logo vamos entrar em turnê e não queremos ficar tocando com um monte de computadores. No Magnus a gente faz o que quiser e, se quisermos fazer ao vivo, a gente adapta. O meu lado de produtor está mais no Magnus que no dEUS porque o Magnus é muito mais produzido, tem muito mais pensamento e trabalho de estúdio. Tem a questão dos timbres, das batidas, de achar outros ângulos para trabalhar nas faixas, e eu me perco nisso tudo.

E sobre o Where Neon Goes To Die, o álbum está cheio de participações legais… Tem a cantora Blaya do Buraka Som Sistema, de Portugal. Como o disco foi feito?

Basicamente, eu e o CJ sentamos no estúdio pra trabalhar e as primeiras músicas que fizemos foram “Singing Man” e “Puppy”. Como nós gostamos muito delas, elas serviram de estrutura pro resto do álbum. Eu sempre quis trabalhar com grandes cantores porque às vezes eu encontro melodias que eu não consigo cantar muito bem sozinho, aí eu peço ajuda para outra pessoa. No caso da Blaya, eu gosto muito da língua portuguesa e eu queria fazer um dueto com ela. E tem outros cantores legais também [Selah Sue, Tom Smith do The Editors, Mina Tindle, Tim Vanhamel, Billie Kawende, David Eugene Edwards], eu gosto muito de outras vozes. Às vezes eu gosto muito de uma voz sem necessariamente gostar da banda, posso ser fã só da voz de alguém.

E Mark Lanegan?

Ele não está no disco, apenas em uma versão alternativa de “Singing Man”. Vamos fazer um lançamento que deve sair em janeiro só com versões mais eletrônicas das faixas do álbum. E Mark Lanegan estará nesse lançamento.

Legal. Eu queria falar sobre sua relação com o mundo dos filmes. Você estudou cinema, né?

Sim, eu estudei por três anos. Nunca terminei o curso, mas fiz meu primeiro filme em 2003.

Any way The Wind Blows.

Isso.

E como você vê a relação entre a música e as imagens? Me parece que o meio audiovisual é mais do um áudio somado a uma imagem, não?

Com certeza! Pra mim essa é a combinação mais interessante do mundo: sons com imagens. Eu era criança nos anos 80 então cresci junto com a geração que pegou o início dos videoclipes. Eu queria ser um diretor quando eu tinha 14 anos e estava na escola, então isso já era importante pra mim desde cedo. E todo trabalho gráfico do dEUS e do Magnus também são muito importantes. Para mim é difícil escolher entre cinema e música porque amo os dois, mas são coisas que exigem muito tempo. Eu estou preparando um novo filme. Estou escrevendo agora e pretendo filmar em 2016.

Que legal! E sobre o que ele é?

Bem, ainda não é o momento de falar sobre isso. Ainda é muito cedo… E eu tenho que guardar minha voz pro show, Ariel. Posso dizer que será um filme noir.

Ok, sem problemas. Você chegou a dirigir alguns clipes, isso é uma forma de unir essas duas paixões suas?

Não exatamente… Quando eu tinha 14 anos eu queria mesmo ser um diretor, mas agora eu sinto que devo fazer outras coisas. Realmente, eu cheguei a fazer vários clipes inspirados em filmes, fica por aí. É que, pra mim, os clipes são tão importantes quanto a música. O melhor de fazer filmagens é que você trabalha ao mesmo tempo com várias formas de arte, você trabalha com fotografia, com atuação, com música e sons. É provavelmente por isso que eu amo tanto.

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31/10/2014

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