Bem Gil fala sobre o futuro do Tono e a dinastia das lendas da MPB

10/06/2015

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Paulo Camacho/Rogério Von Kruger

10/06/2015

Com três discos lançados, a banda Tono é um dos grupos que vem dando novo fôlego à identidade musical que ficou associada ao gênero chamado de MPB (por falta de nome melhor). Flertando com estilos tão diversos quanto o samba e a guitarrada, o bolero e o rock n’ roll, o Tono é um organismo mutante com seis anos de vida.

Na próxima sexta, dia 12, a banda vai fazer um grande show convidando Gilberto Gil e Ney Matogrosso para o palco, no Audio Club, em São Paulo, e nós conversamos com Bem Gil, guitarrista do grupo que, por obra do destino, é filho de Gilberto Gil.

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Confira:

O que vocês estão preparando pro show de sexta?
Vai ser um show bem especial. Pra nós, é um presente poder repetir um encontro que já vivenciamos há cerca de um ano e meio atrás, quando lançamos o Aquário (2013) no Rio, no Circo Voador. [O Gilberto Gil e o Ney Matogrosso] são figuras que se aproximaram do nosso trabalho de uma maneira natural, até meio engraçada. O Ney descobriu o Tono pela internet, ele ouviu “Não Consigo”, do nosso disco anterior, e se encantou com ela. Aí chegou até mim dizendo que queria gravar ela, eu convidei ele pra assistir um show nosso e ficamos amigos. O Gil acabou se tornando parceiro no último disco, ele botou letra num pedaço de música e harmonizou uma canção pra gente. Então foi natural que no Circo Voador, um lugar relativamente grande aqui do Rio, a gente os convidasse. Levar isso pra São Paulo era uma situação que já visualizávamos desde o show do Rio, mas a oportunidade não apareceu. Até agora.

Que trabalho vocês tiveram para definir o repertório incluindo no universo do Tono músicas de artistas tão peculiares quanto o Ney e o Gil?
Na verdade, essa questão das canções serem deles ou serem nossas é muito relativa. Claro, do ponto de vista técnico, tem composições que são nossas e a gente faz com eles e composições deles que a gente toca. Mas na hora do vamo-vê, de sentar e tocar junto, tudo vira música. Tudo vira um campo de trabalho, uma interface, uma plataforma para que, ali, criemos novas coisas. Nós já éramos fãs do Ney, ouvimos muito Secos & Molhados e a carreira solo dele, não somos contemporâneos, mas já nascemos ouvindo e vendo aquela figura. E o Gil é a mesma coisa, mas, no meu caso, que sou da família, tenho isso elevado a uma potência superior a dos outros parceiros da banda, que, musicalmente, também têm nele uma inspiração. O Ney gravou “Não Consigo” e “Samba do Blackberry” no último álbum dele, então naturalmente ele canta elas conosco no show. Já o Gil gosta muito de uma música nossa chamada “Me Sara” e sentiu vontade de tocar ela com a gente. Ele leva ela pra outro tono rítmico e harmônico, é uma coisa incrível que acontece quando ele se junta a nós nessa música. Então, a composição em si vira só um gatilho pra que a gente explore coisas em parceria, que é o grande barato dos encontros.

Ensaiamos hoje com Gil e Ney para o show de sexta (12) em SP no Audio Club. Tono junto!

Posted by Tono on Segunda, 8 de junho de 2015

Aquário é do fim de 2013, vocês já pensam em um próximo disco? Esse show de sexta encerra um ciclo, ou não?
É… Ele não encerra porque já fizemos o show de lançamento do disco em SP e, na ocasião, praticamente todas faixas do disco estavam no repertório. Agora, a gente tá naquele processo onde novas canções vão aparecendo e a gente vai reinterpretando músicas nossas, vendo e revendo elas de maneira diferente. Imaginamos que, no ano que vem, entraremos em estúdio pra gravar um próximo álbum. A grande maioria da banda é colecionadora de disco, então temos esse apego ao formato de álbum, esse conjunto de várias músicas que formam ele. Principalmente com LPs, a gente tem essa noção muito forte de Lado A e Lado B. Então devemos nos juntar pra fazer um disco, mas nesse meio tempo gravamos bastante coisa. Gravamos uma versão de “Amor, Amor” em uma coletânea em tributo ao Cazuza chamada Agenor, gravamos uma música do Milton Nascimento, participamos da trilha de um filme… Nesse ano, vão sair ainda três discos de dentro da banda, vai sair o disco do Rafael Rocha, que é o baterista, o do Bruno Di Lullo, que é o baixista, e o da Ana Claudia Lomelino, que é a cantora. O disco dela fui eu que produzi, então o Tono vai ter três lançamentos individuais em 2015, mas o disco da banda deve sair só no ano que vem.

Confira os últimos projetos do Tono abaixo:

Como é o desafio de manter o Tono em meio aos outros projetos?
Isso é ação e reação. Os outros projetos só acontecem pela existência do Tono, assim como o Tono só acontece pela existência dos outros projetos. O Tono é um ponto de encontro que surgiu há uns seis anos e é uma coisa que existe, é o encontro de nós quatro. Acho que ele é fundamental para que eu consiga trabalhar com meu pai, o Bruno trabalhar com a Gal Costa, etc.

Você, a Maria Luiza Jobim, o Tom e o Moreno Veloso, até o Davi Moraes, de alguma forma fazem parte de uma geração de músicos que são filhos de músicos lendários. Como você se sente fazendo parte disso?
Essa generalização é um pouco perigosa porque só o que temos em comum é o fato de que nascemos dentro de um contexto musical muito forte. O Davi nasceu no meio daquela loucura dos Novos Baianos, a Maria dormia com o Tom Jobim tocando piano… Eu sou amigo deles todos. Mas são contextos muito diferentes, o Davi com 10 anos já tava no palco com o pai, eu me envolvi com música mais tarde, só fui começar a tocar violão com 16, 17 anos. O fato positivo disso tudo é que eu tive oportunidade de viajar o mundo e, através do meu pai, tocar com músicos incríveis. O que é uma oportunidade única. Mas é isso. Eu fui gerado, não só biologicamente, mas musicalmente pela minha família, consequentemente pelo meu pai. Não tem muito como fugir disso. Mas, às vezes, chega a ser esdrúxulo: “Ah, mas e a sua carreira, vão lhe comparar”… Como é que você vai comparar o Moreno com o Caetano? Ou a Maria Rita com a Elis? Mesmo tendo um timbre de voz parecido, mesmo a Maria Rita fazendo o repertório da Elis, eu não consigo enxergar esse tipo de associação. A não ser a associação direta que é o fato de que a Elis Regina criou a menina, é a mãe dela. Isso é uma coisa da qual você não tem como fugir. No nosso caso é uma sorte. Mas às vezes me perguntam isso como se algum tipo de comparação pudesse me incomodar, me intimidar ou causar algum tipo de sentimento ruim. Já é difícil me comparar com a Preta Gil, que é minha irmã, imagina nos comparar com nosso pai, que é um ser único, que desenvolveu seu trabalho em outra época… Chega a ser uma perda de tempo.

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10/06/2015

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

Ariel Fagundes